Doente, subnutrido e, ainda assim, obrigado a trabalhar até a exaustão, o cavalo “Parceiro” foi socorrido em estado grave na Ilha de Paquetá por veterinários da Secretaria Especial de Defesa dos Animais (Sepda) em 26 de março, após denúncias de moradores. Transferido para o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da prefeitura, em Santa Cruz, o animal, que apresentava sinais de tortura e uma grave lesão na medula que o impedia de ficar em pé, segundo a Sepda, morreu cinco dias depois. Um detalhe torna a história ainda mais triste: o tutor de “Parceiro”, Edir Rosa, já fora denunciado por ONGs antes, tendo outros dois animais apreendidos pelo município. A morte do cavalo chamou a atenção para as péssimas condições de saúde dos animais de charrete na região e levou a Sepda a estudar o fim desse tipo de transporte. Nesta sexta-feira, uma equipe de veterinários vai ao local fazer uma fiscalização no serviço de charretes, retirar de lá os outros dois cavalos de Edir e decidir o destino do serviço.
Acusado de maus-tratos, o tutor do cavalo está sendo indiciado pela Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) e teve sua licença de trabalho cassada por tempo indeterminado. O caso de “Parceiro”, um cavalo branco, foi denunciado à 21ª Região Administrativa por moradores, que não aguentavam mais ver o animal se arrastando e levando chicotadas. Procurado, Edir não foi encontrado para comentar as denúncias. Também não foi localizado qualquer representante da Associação de Charreteiros de Paquetá. O titular da DPMA, José Rezende, pretende apurar casos semelhantes na ilha.
“Recebi a denúncia e fomos verificar. Em seguida, chamamos a Sepda, que mandou um veterinário para prestar os primeiros socorros ao animal. Tomamos todas as providências possíveis. É uma situação muito ruim, que precisa ser muito bem estudada, pois entre os charreteiros há alguns que trabalham direito. Além disso, muitas famílias dependem da charrete para viver, e moradores precisam do transporte”, explica a administradora regional Janaína Marques.
Outra denúncia há 12 anos
O secretário de Defesa dos Animais, Claudio Cavalcanti, declarou-se chocado com o péssimo estado em que os veterinários encontraram “Parceiro”:”Ele tinha sinais de tortura. Um horror. Não podemos deixar que casos como esse se repitam”.
Segundo o secretário, a primeira providência da Sepda foi denunciar o caso à polícia e pedir a apreensão dos outros dois cavalos de Edir, que serão levados nesta sexta-feira para o CCZ. Janaína acrescentou que no CCZ já estão mais dois cavalos de Edir, que é vice-presidente da Associação de Charreteiros de Paquetá, também confiscados após denúncias de maus-tratos.
Desde o dia 1º, fotos de “Parceiro”, com denúncias de que outros cavalos de Edir morreram em situação parecida, circulam nas redes sociais. A veterinária Andrea Lambert, da ONG Anida, diz ter fotografado o mesmo charreteiro há 12 anos e que outros agem da mesma forma: não dão alimentos, batem e forçam os animais a trabalharem até cansar. Pelas regras da prefeitura, os cavalos só podem trabalhar das 8h às 17h.
“Há 12 anos recebi uma denúncia de que havia um cavalo muito debilitado, não conseguindo levantar de fraqueza e exaustão de tanto trabalhar, em Paquetá. O tutor era Edir, um dos mais denunciados por maus-tratos. Eu mesma denunciei à prefeitura na época. Imaginem quantos cavalos não sofreram e morreram em 12 anos sem que nada fosse feito pela prefeitura”, diz.
Moradora de Paquetá, a advogada Regina Linhares defende mais fiscalização:
“Acabar com as charretes não é solução, pois precisamos delas. Mas a prefeitura precisa fiscalizar periodicamente não apenas como os animais são tratados, mas as condições do serviço”.
Segundo a prefeitura, hoje há 18 charretes e 49 cavalos em Paquetá. A Sepda já recebeu denúncias de que maioria deles é maltratada e subnutrida.
Fonte: Extra
Nota da redação: Cavalos não devem ser explorados para tração, meio de transporte ou entretenimento. Eles têm direito à vida e à liberdade, assim como qualquer outro ser vivo. O trabalho escravo de animais deveria ser criminalizado, e não ser induzido pelos municípios com a imposição de que se tenha um cuidado mínimo com o animal, o que deveria ser obrigação do tutor em qualquer circunstância.