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Após décadas ‘desaparecida’, ave rara da Mata Atlântica é flagrada com filhotes em SC

Registro de uru em Criciúma reforça avanços na proteção e regeneração das florestas

11 de novembro de 2025
Isabela Baldin Nascimento
3 min. de leitura
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Foto: Divulgação/Vitor Bastos

Após décadas desaparecido em muitas regiões de Santa Catarina, o uru, uma das aves símbolo da Mata Atlântica, voltou a retornar para o Sul do Estado, registrando a primeira aparição da cidade de Criciúma — feito antes considerado quase impossível pelos especialistas.

Avistado em uma APA (Área de Proteção Ambiental), acompanhado de filhotes, o retorno dessa ave terrestre representa um novo ciclo para o ecossistema local.

Ave rara da Mata Atlântica não é encontrada em árvores

Famoso pelo característico canto alegre, que pode ser facilmente reconhecido pelos amantes da natureza, o uru (Odontophorus capueira) não é encontrado em árvores, característica que o diferencia da maioria das aves.

A espécie, quando vista, é encontrada no chão das matas — um dos principais motivos que contribuíram para o próprio desaparecimento.

“Por ser uma ave que anda no chão da mata, ela é fácil de caçar. Os caçadores a chamavam de uru, pelo seu canto ser parecido com o som que ela faz quando anda. É uma ave de porte maior, não é que nem um passarinho. Por ter um porte grande, ela tem bastante carne. Se o caçador caça passarinho, imagina um uru daquele tamanho”, explicou o biólogo e professor Vitor Bastos.

Espécie havia sumido de muitas regiões de SC

Tendo diferentes tipos de coloração — podendo apresentar penas alaranjadas, azuladas e acastanhadas —, a espécie é considerada bela por muitos admiradores. Segundo o especialista, o uru havia sumido de muitas regiões de Santa Catarina, principalmente na parte Oeste, onde ocorreu grande desmatamento nos séculos passados.

“Temos alguns casos isolados no Oeste catarinense. Aqui no Sul, ele foi visto nas últimas décadas atrás da barragem de São Bento, em todo o costão da Serra Geral. Agora, em direção ao litoral do Sul de SC, onde existem áreas de mata menores e mais isoladas, nunca tivemos registros”, detalhou.

Vitor Bastos ressaltou que, em Criciúma, a espécie nunca tinha sido encontrada, nem mesmo por fotógrafos e caçadores, havendo apenas um registro há oito anos em Urussanga, município localizado a aproximadamente 20 km da região criciumense.

“A maioria dos registros aqui no Sul de SC sempre foi nas cidades de Treviso, Nova Veneza e Siderópolis, onde ainda existe um contínuo florestal bem grande, com águas cristalinas e potáveis”, relatou o biólogo.

Retorno do uru é um sinal de recuperação ambiental

Por nunca haver registros anteriores em Criciúma, o especialista contou ter ficado surpreso ao flagrar a espécie em uma das câmeras instaladas na APA do Morro Cechinel, área que faz divisa com Cocal do Sul, Siderópolis e Morro da Fumaça.

Para ele, o retorno da ave rara da Mata Atlântica é um sinal de recuperação ambiental, indicando melhora na qualidade da água e aumento da fauna local, com o retorno de animais de diferentes portes e espécies de aves raras.

“Eu não imaginava que filmaria o uru aqui na região de Criciúma, não imaginava mesmo. Fiquei tão surpreso quanto no registro da araponga — talvez até mais na minha opinião. Ainda mais ver uma família de urus; isso mostra que eles estão se reproduzindo por aqui”, destacou.

Uma das principais razões para essa recuperação das matas, segundo o biólogo, foi a implementação de leis ambientais que fizeram com que a população local respeitasse mais a vegetação nativa

“As florestas regeneraram muito nos últimos 30 ou 40 anos. Onde hoje há mata, muitas vezes era área completamente desmatada nas décadas de 1940 e 1950. Além disso, as pessoas estão caçando menos na região, e isso tem permitido o retorno de várias espécies”, concluiu.

Fonte: ND Mais

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