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43 ANOS EM CATIVEIRO

Após anos de batalhas judiciais, decisão ordena envio de Sandro a santuário; um avanço histórico nos direitos animais

25 de junho de 2025
Redação ANDA
5 min. de leitura
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Elefante Sandro. Foto: Eduardo Ribeiro Jr./ g1

Após anos de batalhas judiciais, laudos técnicos e mobilização social, decisão ordena envio de Sandro ao Santuário de Elefantes do Brasil. Caso simboliza avanço histórico nos direitos animais.

A Justiça confirmou hoje a libertação de Sandro, elefante mantido há 43 anos no Zoológico Municipal Quinzinho de Barros, em Sorocaba (SP). A decisão obriga a prefeitura a providenciar, no prazo de 30 dias, a transferência dele para o Santuário de Elefantes do Brasil, localizado na Chapada dos Guimarães (MT).

A ação civil pública movida pelo Ministério Público com a ANDA como litisconsorte, representa uma das vitórias mais emblemáticas da história recente da luta pelos direitos animais no Brasil. O caso de Sandro se tornou nacionalmente conhecido em 2020, quando a morte de sua companheira, a elefanta Haisa, o deixou ainda mais isolado em um recinto inadequado e sem condições mínimas de bem-estar.

“Esta não é apenas a libertação de um elefante, é a condenação de um modelo ultrapassado de exploração animal. Sandro sobreviveu por décadas ao isolamento e a falta de bem estar, agora a justiça brasileira reconhece, com firmeza, que nenhum ser senciente deve ser condenado ao cativeiro por conveniência humana”, disse Silvana Andrade, fundadora e presidente da ANDA.

“É uma emoção muito grande ler a decisão do juiz. Agora, o cumprimento da ordem judicial de libertação de Sandro não depende da vontade da Prefeitura, significa dizer que não há mais chance de recurso e a liberdade de Sandro está prestes a acontecer. Esperamos que o Municipio de Sorocaba cumpra com sua obrigação moral, civil e judicial, permitindo que este elefante, que já sofreu tantas atrocidades, finalmente , conheça a liberdade que é seu direito fundamental”, comemorou Letícia Filpi, direitora jurídica da ANDA.
Uma trajetória marcada por resistência e omissão.

Desde a morte de Haisa, Sandro vive sozinho em um espaço limitado, sem acesso à natureza, em evidente descumprimento das diretrizes internacionais de bem-estar animal. Diversos laudos técnicos independentes, incluindo pareceres de veterinários, biólogos e especialistas em fauna silvestre, apontaram o estresse crônico, problemas físicos e psicológicos enfrentados por Sandro.

Em abril de 2025, o juiz responsável pelo caso acolheu esses laudos e determinou a imediata transferência do elefante. Mesmo assim, a prefeitura de Sorocaba recorreu, alegando riscos à saúde do animal e contestando a viabilidade do transporte.
“As tentativas da prefeitura de postergar a decisão foram estratégias de resistência institucional que colocaram os interesses políticos acima da vida de um ser vivo”, declarou a ativista pelos direitos animais, Adriana Greco.

A sentença agora é definitiva. De acordo com o artigo 1.285 das Normas da Corregedoria Geral da Justiça de São Paulo e o Comunicado CG nº 438/2016, a parte vencedora deve protocolar a execução digitalmente, com os documentos obrigatórios, para que o processo siga para cumprimento.

O novo destino de Sandro

O Santuário de Elefantes do Brasil (SEB), localizado na Chapada dos Guimarães (MT), é reconhecido internacionalmente como referência no acolhimento de paquidermes resgatados de circos e zoológicos. Fundado por uma equipe com experiência em mais de cem resgates ao redor do mundo, o local oferece condições que priorizam o bem-estar físico e emocional dos animais. Cada elefante conta com uma área de mais de 40 mil metros quadrados para livre circulação, convive com outros indivíduos da espécie — fundamental para a saúde psíquica desses animais sociais —, recebe acompanhamento veterinário constante e se beneficia de uma alimentação natural, além de estímulos físicos e mentais adequados às suas necessidades biológicas e comportamentais.Sandro será acompanhado durante todo o trajeto por veterinários e especialistas em logística de fauna. A transferência ocorrerá por meio de transporte especial, em data a ser definida.

Símbolo de uma nova era

O caso Sandro se tornou símbolo da resistência do poder público em reconhecer os direitos dos animais como direitos legítimos e protegidos por lei. A ANDA, que liderou a ação com apoio da ONG Animais Importam e do Ministério Público, reforça que a libertação de Sandro é um precedente fundamental para casos semelhantes no Brasil.
A libertação de Sandro rompe com séculos de normalização da exploração animal. Essa decisão é um divisor de águas: afirma que a liberdade, o respeito e a dignidade não são privilégios humanos, mas direitos de todos os seres sencientes. É a justiça finalmente dizendo que não há mais espaço para jaulas para animais em uma sociedade que se pretende civilizada”, finalizou Silvana Andrade.

Próximos passos

A expectativa agora se volta para a execução da sentença, que deve ser iniciada imediatamente. O não cumprimento poderá acarretar multa diária e responsabilização judicial das autoridades envolvidas.
A sociedade civil e organizações de proteção animal acompanharão de perto cada etapa do processo, garantindo que Sandro finalmente possa pisar em solo livre — um território de dignidade que há décadas lhe foi negado.

Nota da Redação: a história de Sandro encontra um triste eco no recente falecimento de Tamy, outro elefante asiático que vivia em condições semelhantes no Ecoparque Mendoza, na Argentina, e que morreu na segunda-feira (23/06) antes de conseguir ser transferido para o Santuário de Elefantes do Brasil. Assim como Sandro, Tamy carregava as marcas de décadas de confinamento e sofrimento, revelando os impactos devastadores do cativeiro prolongado. Sua perda reforça a urgência e a importância da decisão judicial que finalmente garante a liberdade de Sandro, evitando que ele tenha o mesmo destino trágico e mostrando que a luta pelos direitos dos animais é uma questão de tempo, respeito e dignidade.

Veja a decisão:

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