Um abraço carregado de significado marcou o reencontro entre Fernando Salazar, 60 anos, e El Chapo, seu cão. A cena emocionante pôs fim a 77 dias de angústia e separação forçada após Salazar ser detido por agentes federais e deportado dos Estados Unidos, deixando para trás seus dois cães.
A separação aconteceu em 25 de setembro, no Centro de Oportunidades Econômicas de Pomona, na Califórnia. Como fazia há décadas, Salazar chegou ao local em busca de trabalho acompanhado de seus dois cães, El Chapo e Pancho, um chihuahua. A cena era familiar para quem frequentava o centro de trabalhadores diaristas, um espaço que há anos funciona como rede informal de apoio para imigrantes.
Em poucos segundos, a rotina foi rompida quando agentes federais se aproximaram, cercaram Salazar e o algemaram com braçadeiras de plástico. Ele foi levado, enquanto os cães, ainda com as coleiras presas na lateral de sua caminhonete, foram deixados para trás.
“Ele olhou para mim e, antes que pudesse dizer qualquer coisa, eu disse para ele não se preocupar”, recorda Ana Martinez, coordenadora de trabalhadores diaristas do PEOC, que testemunhou a cena. “Eu disse que lutaria pelos seus cães.”
Deportado voluntariamente dois dias depois, temendo pelas condições de saúde no centro de detenção, Salazar foi levado a Tijuana e depois a um centro de repatriação. Enquanto tentava se reestabelecer no México, seu coração estava dividido. Pancho, o chihuahua, foi adotado por outro trabalhador, mas ele ainda estava determinado a reencontrar El Chapo.
“Ele é como um filho para mim. Não consigo imaginar minha vida sem ele”, disse Salazar, emocionado, em uma chamada de vídeo com Ana.
Ana, por sua vez, fazia de tudo para cumprir sua promessa. O processo exigiu vacinas, documentação, uma caixa de transporte adequada, compreensão das regras rígidas das companhias aéreas e, sobretudo, dinheiro. “De jeito nenhum eu ia deixá-lo voar como bagagem. Ele não é carga. Ele é da família do Fernando”, afirmou ela.
A PEOC lançou uma campanha no GoFundMe que arrecadou pouco mais de US$ 900. Voluntários da 805 Rapid Response Network se mobilizaram para garantir abrigo temporário, visitas e cuidados. El Chapo passou pela casa de um ex-colega de quarto de Salazar, depois foi acolhido por Liz Gonzalez, em Ventura, e também contou com o apoio de educadores e ativistas ligados ao centro de trabalho.
“Esses centros não são só lugares para encontrar emprego”, disse Martinez. “São redes de proteção social, criadas por pessoas que entendem as vulnerabilidades umas das outras.”
A etapa mais delicada foi o voo. As exigências variavam conforme a companhia aérea, com limites rígidos de peso, tamanho da caixa e documentação. Qualquer erro poderia impedir o embarque. Martinez decidiu viajar pessoalmente com El Chapo para garantir que ele fosse na cabine, em segurança.
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Quando finalmente chegaram ao México, a espera terminou. O reencontro não precisou de palavras. Depois de semanas sendo tranquilizado por desconhecidos, El Chapo voltou a ouvir a voz suave de seu tutor.