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Sem apoio dos governos, animais abandonados lotam abrigos

15 de julho de 2014
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Foto: Mauro Pimentel / Terra
Foto: Mauro Pimentel / Terra

Mesmo com as contas da sua entidade protetora de animais no vermelho, acumulando uma dívida de R$ 15 milhões, Izabel Cristina Nascimento, presidente da Sociedade União Internacional Protetora dos Animais (Suípa), organização não-governamental do Rio de Janeiro com um dos mais populosos abrigos de cães e gatos do País, não hesitou em gastar mais R$ 720 com transporte e veterinário para socorrer o cavalo Pezão, achado com fratura exposta na pata em uma rua da cidade de São João de Meriti. Nervosa, assim que a equipe do Terra chegou à sede da unidade, no Jacarezinho, zona norte do Rio, ela se apressou em mostrar o animal, que, em um ato de ironia, recebeu o nome do governador, Luiz Fernando Pezão (PMDB). O cavalo ganhou uma tala na perna e, ao lado de canis onde latiam centenas de cães, tentava se levantar. “Se eu tiver que vender alguma coisa para cuidar dos animais, uma roupa, um tênis, eu vendo. A gente pede esmola, faz qualquer coisa”, diz Izabel.

A cena explica bem o esforço que ONGs têm feito para cuidar de milhares de animais abandonados no País. De Norte a Sul do Brasil, são voluntários que socorrem animais vítimas de maus-tratos e rejeitados por antigos tutores, na maioria das vezes sem o apoio dos governos. Além da boa vontade e abrigos superlotados de animais, eles têm outra coisa em comum: as dificuldades financeiras para se manter, já que têm gastos elevados e as dívidas se acumulam. E fazem coro: prefeituras e governos deveriam ajudar a cuidar do problema dos animais abandonados, já que a Constituição Federal diz que é dever comum da União, Estados e municípios preservar a fauna e a flora.

Abrigando nada menos que 3.150 cães e 800 gatos em uma área construída de cerca de 5,4 mil metros quadrados, a Suípa é uma das ONGs de proteção de animais mais antigas do País, fundada em 1943. A área disponível para os animais é maior, mas, por falta de recursos, a ONG não consegue construir canis e gatis adequados para todos. Com isso, centenas de cães se espremem na parte antiga do abrigo, dormindo no cimento em uma área comum ou apertados em caixotes de feira. Os cães e gatos aproveitam todos os espaços do abrigo e estão em todos os corredores – até mesmo na sala onde o pessoal do administrativo trabalha.

Na parte mais nova, em um terreno vizinho doado por uma empresa de tintas, foram construídos um gatil, um centro cirúrgico, 40 canis individuais e 40 canis coletivos, que comportam cerca de 700 cães. Segundo a Suípa, estas unidades foram feitas pela prefeitura, mas o gatil foi entregue sem condições adequadas de funcionamento e hoje não abriga nenhum gato. “A Justiça do Rio já condenou o município a construir um abrigo para receber os animais para tirar o excedente da Suípa”, disse a advogada da ONG, Abigail Barbosa. Questionada sobre a ação na Justiça, a prefeitura do Rio não se manifestou, mas informou que possui dois abrigos, com 300 cães, 350 gatos e 16 cavalos. O município admitiu que não há hoje estrutura disponível para abrigar todos os animais que estão na Suípa. “Nosso desejo é que a Suípa consiga resolver suas questões administrativas e judiciais para continuar ativa, já que é um importante parceiro na causa animal”, afirmou a Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais.

As despesas mensais da Suípa impressionam: são gastos R$ 300 mil mensalmente com folha de pagamento (há cerca de 150 funcionários), R$ 10 mil com água, R$ 18 mil com energia elétrica e R$ 12 mil de gás para o forno crematório. Isso sem contar o dinheiro necessário para comprar aproximadamente 30 mil quilos de ração a cada 30 dias. A conta fecha, todo mês, em R$ 40 mil no vermelho, pois as doações dos associados não são suficientes.

Mas é a dívida de R$ 15 milhões com o governo federal, referente ao imposto patronal do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) não pago à União, que mais preocupa. “Em 1945, o presidente da República deu para a Suípa o título de utilidade pública, pelo trabalho que fazemos para a população, e em 1975, o certificado de fins filantrópicos, pelo trabalho de conscientização que fazemos nas escolas. Em 1995, nos tiraram os dois títulos e começamos a ser obrigados a pagar impostos ao governo federal, como se fôssemos uma empresa comum. O caso já está em fase de execução fiscal. Agora, corremos o risco de fechar as portas”, lamenta Izabel. A Suípa aguarda decisão do governo federal sobre o pedido de perdão da dívida e isenção de futuros impostos.

Fonte: Terra

 

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