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AÇÃO HUMANA

Apesar de ser o bioma brasileiro mais preservado, Pantanal tem pelo menos 32 espécies de animais em risco de extinção

12 de abril de 2024
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Foto: Getty Images

Dentre os seis biomas brasileiros – Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal – este último se destaca por algumas peculiaridades. Com 195 mil quilômetros quadrados, é o segundo menor em tamanho – só supera o Pampa, que tem 178 mil quilômetros quadrados -; o que tem menos espécies em geral e endêmicas em particular (são apenas 54 exclusivas do bioma); e não tem nenhuma na categoria Criticamente em Perigo. Isso não significa, no entanto, que não tenha problemas e não mereça atenção em termos de conservação. Pequenas centrais hidrelétricas (PCH), queimadas, plantio de monocultura no entorno e desmatamento, por exemplo, são grande ameaças a sua biodiversidade.

De acordo com o pesquisador João Batista de Pinho, do Laboratório Ecologia de Aves/Biodiversidade, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMG), o bioma tem sofrido muito com empreendimentos ligados a essas atividades, o que tem afetado as espécies, principalmente as aves aquáticas coloniais, que se reproduzem em praias fluviais. “Nos últimos anos, temos monitorado alguns rios, como o Cuiabá e o São Lourenço, por exemplo, dois dos principais que atravessam o Pantanal, e temos percebido diminuição na abundância e perda de áreas de reprodução, por falta de água no período reprodutivo”, conta.

Outra grande ameaça, segundo ele, são os garimpos, como os do município de Poconé, que usam mercúrio para extração do ouro e não têm controle do órgão ambiental. Nos últimos anos, o Ibama realizou fiscalizações no município que levaram à aplicação de multas milionárias, além de apreensão de equipamentos, mas ambientalistas seguem denunciando o avanço do garimpo em Poconé e na cidade vizinha Nossa Senhora do Livramento.

“Além disso, as queimadas descontroladas são a maior ameaça para as espécies da planície pantaneira, pois ocorrem principalmente durante o período reprodutivo das aves em geral”, diz. “As pequenas, por exemplo, não têm autonomia para voos distantes, então morrem nos incêndios”.

Segundo dados do Sistema de Avaliação do Risco de Extinção da Biodiversidade (SALVE), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), das 1.391 espécies estudadas no bioma, cinco (0,4%) estão na categoria Em Perigo, e 27 (1,9%) na de Vulnerável. Há uma ainda listada como Regionalmente Extinta. Trata-se do maçarico-esquimó (Numenius borealis), que foi uma espécie globalmente numerosa no século XIX, mas cuja população sofreu grave declínio, devido à caça excessiva na costa do Atlântico e no rio Mississipi.

Ela não é registrada no Brasil há mais de 150 anos. Lançado em agosto de 2023, o SALVE é uma plataforma online, que reúne 14.795 espécies avaliadas quanto a seu risco de extinção, da quais 8.390 possuem uma ficha com todos os seus dados publicada, e 1.253 estão em alguma categoria de ameaça. Além de avaliar o risco de extinção dos animais, o objetivo do projeto é tornar essas informações acessíveis, para ajudar na criação de políticas públicas para conservação da biodiversidade do país.

Para o biólogo Fernando Dagosta, da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), a maior ameaça à biodiversidade pantaneira é o avanço da agropecuária e as modificações no habitat resultantes dessas atividades, especialmente a substituição de áreas nativas por pastagens. “A expansão das fronteiras agrícolas na região Centro-Oeste contribui para a degradação da vegetação pantaneira”, diz.

Além disso, a caça e a captura de animais silvestres, seja para o comércio ilegal de fauna ou para consumo, representam a segunda maior ameaça no bioma. “No Pantanal, essas práticas exercem um papel determinante no declínio das populações de aves e mamíferos, [que estão classificados na categoria Vulnerável]”, explica Dagosta. “Entre elas, estão, por exemplo, o bicudo-verdadeiro (Sporophila maximiliani), a onça-pintada (Panthera onca), o cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus) e a anta (Tapirus terrestris).”

Apesar disso, ele considera a situação do Pantanal menos grave que a dos demais biomas brasileiros. “Ele é de longe o mais preservado do Brasil em termos proporcionais. Todos os demais enfrentam maior transformação de suas áreas naturais em ambientes urbanizados ou para agropecuária”, explica. Na Amazônia, por exemplo, o desmatamento, o avanço do garimpo ilegal e da pecuária e monocultura colocam em risco mais de 200 espécies.

Fonte: Um Só Planeta

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