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Apesar de protestos e petições, milhares de cães morrem em festival chinês

7 de julho de 2014
5 min. de leitura
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Ativistas libertaram milhares de cães vendidos para abate em festival de verão
Ativistas libertaram milhares de cães vendidos para abate em festival de verão

A chegada do verão na China reacendeu a polêmica sobre o consumo de carne de cachorro, que continua legal no país.

Todos os anos, o começo da estação é celebrado com um festival gastronômico na cidade de Yulin, no norte do país, dedicado ao consumo de carne canina.

A pressão feita por ativistas no local não impediu que cerca de 10 mil cães fossem mortos para o evento.

Grupos em defesa dos animais buscam o apoio de celebridades e especialistas para pressionar o governo a tomar medidas que restrinjam a prática. Manifestações foram organizadas em frente à prefeitura de Yulin e na capital Pequim.

Pressão

Ativistas acreditam que a pressão das ONGs sobre o governo e campanhas de conscientização da população vêm surtindo efeito ao longo do tempo.

Milhões de cães são abatidos a cada ano na China
Milhões de cães são abatidos a cada ano na China

Para Peter Li, representante na China da Humane Society International (HSI), ONG que luta pela proteção dos animais, o festival vem perdendo força “pela pressão vinda de vários pontos do país e do mundo”.

Segundo a HSI, o governo sugeriu que a palavra “cachorro” não fosse usada nos letreiros e cardápios de restaurantes. Peter Li acredita que este seja o primeiro passo para tirar a legitimidade da prática.

“Pelo menos dois matadouros não estavam operando. Eu visitei um duas vezes e não vi abate”, garante o ativista e professor da University of Houston-Downtown, nos Estados Unidos, que esteve no local uma semana antes do festival.

Ativistas acreditam que consumo de carne canina esteja diminuindo
Ativistas acreditam que consumo de carne canina esteja diminuindo

Peter também foi até a cidade de Guangdong, sul do país, onde este tipo de carne também é bastante popular.

“Os restaurantes de carne de cachorro que visitamos estavam em estado precário e eram frequentados por pessoas vindas de camadas socioeconômicas desfavorecidas”, descreve.

Carne apreciada

Os que defendem a prática alegam que pratos a base de cachorro são uma tradição de mais de 2 mil anos em certas partes da China. Na região de Yulin, comer cães, lichia e beber álcool na chegada do verão garante saúde durante todo o inverno.

Peter contesta: “o festival do Yulin não era nada além de um jantar festivo na noite do solstício. Não é uma tradição local como vendedores de carne de cachorro afirmam. O evento foi criado como uma maneira de atrair turistas e investimentos. A carne de cachorro não é um alimento regular para os chineses e nem para os habitantes dessa cidade”.

Andrew, um corretor imobiliário, de 40 anos, natural de Hong Kong, que preferiu não revelar seu sobrenome, garante que não é raro encontrar apreciadores da iguaria.

Pratos com carne de cachorro estão no cardápio de diversos restaurantes chineses
Pratos com carne de cachorro estão no cardápio de diversos restaurantes chineses

“Eu experimentei faz muito tempo. Minha família é muito tradicional e veio da China. A carne de cachorro é um prato social, popular no inverno com os hot pots, recipiente de água fervendo em que se coloca a carne e outros ingredientes. O prato fica no centro e as pessoas sentam-se em volta, em um ambiente caloroso”, descreve.

Na China, além de restaurantes especializados nesta carne aparecerem nos guias das principais cidades, não é difícil comprar o produto nas feiras locais. “O gosto da carne de cachorro é similar ao da de carneiro, é muito suculenta e, se preparada corretamente, é muito gostosa, acrescenta ele.

Fome

Em Hong Kong – ex-colônia britânica que possui um sistema jurídico diferente do da China – a carne de cachorro foi banida em 1953. Quem for pego vendendo ou consumindo a carne, além de processado, pode ir para a prisão.

Para Andrew, se o cachorro faz parte da dieta na China é também pelo histórico de fome e pela dificuldade em alimentar uma população de mais de 1,3 bilhões de pessoas.

Cresce o número de cães de estimação entre a nova classe média chinesa
Cresce o número de cães domésticos entre a nova classe média chinesa

“As pessoas são muito pobres e comem qualquer coisa viva. Um ditado chinês diz: um animal que tem o estômago voltado para o chão e a traseira voltada para o céu é comestível. Basicamente, o único animal que eu consigo pensar que não se come é o bicho-preguiça”, diz ele.

Não se sabe ao certo quantos cães são mortos a cada ano na China. As estimativas variam entre 10 milhões a 43 milhões (HSI) de animais assassinados anualmente no país.

Estima-se que sejam mortos e consumidos a cada dia na China 1,7 milhão de porcos.

Segundo Fiona Woodhouse, diretora da Sociedade para a Prevenção da Crueldade contra os Animais (SPCA) em Hong Kong, a popularização do cachorro como animal doméstico na classe média chinesa tem colaborado para o aumento do número de pessoas contrárias à tradição. “Os mais jovens começam a mudar o comportamento em relação a carne de cachorro”, diz ela.

Mas mesmo com a causa ganhando mais visibilidade, é difícil dizer se o consumo está reduzindo. Fiona Woodhouse acrescenta que como a carne não vem de uma fonte regulamentada e é comercializada em mercados e restaurantes de rua, não há estatísticas precisas.

Ela acrescenta que “muitos cachorros são roubados e a cadeia de fornecimento inteira é questionável”.

Fonte: BBC Brasil

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