O relatório Observando os Rios, produzido pela Fundação SOS Mata Atlântica, aponta que apenas 7,6% dos rios do bioma podem ser considerados em bom estado, com água de qualidade. Nenhum dos 145 pontos de coleta analisados em 14 estados do país apresentaram resultado ótimo, o mais alto na escala de classificação do estudo.
Más condições de saneamento básico no país, aliadas à degradação dos solos e das matas nativas nas bacias hidrográficas, são fatores de impacto sobre os rios pesquisados, alerta o documento. Segundo os pesquisadores envolvidos, o resultado, que mostra a realidade de 2024, demonstra uma estagnação em relação a 2023, sem melhoras significativas na conservação dos rios da Mata Atlântica.
“Apesar desse cenário preocupante, 83,8% dos pontos analisados ainda possuem condições para usos múltiplos da água, como agricultura, indústria, abastecimento humano e animal, lazer e esportes”, aponta o relatório.
Rios da Mata Atlântica em 2024
- 11 pontos (7,6%) apresentaram qualidade boa
- 109 (75,2%) ficaram na categoria regular
- 20 (13,8%) foram classificados como ruins
- 5 (3,4%) atingiram a pior classificação, péssima
O estudo observa que quatro pontos considerados péssimos permaneceram em relação a 2023, incluindo o rio Pinheiros, na cidade de São Paulo, e o ribeirão dos Meninos, em São Caetano do Sul (SP). Os critérios de classificação da qualidade da água seguem orientação do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente).
“Em um cenário de emergência climática, a degradação dos recursos hídricos é um fator crítico, pois poluir um rio é infinitamente mais rápido do que recuperá-lo. Nossos rios estão por um triz – e a urgência de ações efetivas nunca foi tão grande”, afirma o documento.
O monitoramento foi distribuído por 112 rios e corpos d’água, abrangendo 67 municípios de 14 estados da Mata Atlântica: Alagoas, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe.
Bahia, Paraná e Goiás não tiveram dados incluídos. No total, 111 grupos voluntários participaram do levantamento.
Pontos que melhoraram em 2024
Os dados permitiram também destacar alguns pontos de melhora, bem como evidenciam de onde vêm os problemas a serem solucionados. No Rio, por exemplo, o Córrego Trapicheiros, que passa pelo bairro da Tijuca, um afluente do rio Maracanã, passou de média regular para boa. O ponto de monitoramento fica bem próximo ao Parque Nacional da Tijuca, portanto, com pouca influência humana, a não ser de uma comunidade ainda sem acesso ao tratamento de esgoto, cujos efluentes chegam ao rio monitorado. “Sem essa situação, é possível que a água possa apresentar qualidade ainda melhor”, notam os pesquisadores.
Em Sergipe, dois rios passaram da categoria regular para boa: Sal e Sergipe
O córrego Água Limpa, em São Sebastião da Grama (SP), é sujeito à influência de barragens que, quando abertas, liberam grande quantidade de sedimentos. No entanto, como permaneceu fechada em 2024, isso pode ter contribuído para a melhoria das condições do rio.
“Ainda no estado de São Paulo tivemos melhoras no córrego São José, localizado no bairro do Ipiranga, na capital paulista – que foi de ruim para regular –, assim como no rio Boiçucanga, em São Sebastião, litoral norte.”
O estudo traz recomendações para a melhora da situação dos rios da Mata Atlântica, o que beneficiaria as cidades e suas populações. “Não se trata apenas da construção de redes de coleta e estações de tratamento de esgoto, mas de um conjunto de ações que incluem proteção de nascentes, recomposição da mata ciliar e ampliação das áreas de infiltração de água nas cidades. Essas medidas ajudam a reduzir as enxurradas, que não só causam transtornos à população, mas também carregam sedimentos para os rios, comprometendo sua capacidade de vazão e retenção de água. Além disso, é ideal reduzir o uso de agrotóxicos nas lavouras, especialmente nas margens dos rios, e estimular a produção orgânica de alimentos.”
Fonte: Um Só Planeta