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SURPRESA

Aparição rara: tartarugas-cabeçudas são registradas em Ilhabela (SP)

11 de janeiro de 2023
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Foto: Julio Cardoso/Projeto Baleia À Vista

O ano começou agitado em Ilhabela, litoral norte de São Paulo: duas tartarugas-cabeçudas (Caretta caretta) foram registradas por integrantes do “Projeto Baleia À Vista”. O flagrante chama atenção pela dificuldade de encontrar adultos dessa espécie, que costumam ser mais comuns no norte do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia. “Além disso, as cabeçudas começam a aparecer a partir de uma faixa de 40/50 metros de profundidade, no mínimo, ou seja, não são comuns na costa”, explica o biólogo e Coordenador de Pesquisa e Conservação da Fundação Projeto TAMAR em Ubatuba/SP, Henrique Becker.

De acordo com o especialista, a ocorrência de tartarugas-cabeçudas adultas no litoral paulista é rara. “Encontrar jovens, porém, é mais comum. Filhotes nascidos nos estados de RJ, ES e BA passam alguns anos em áreas oceânicas e depois se aproximam da costa nas regiões sul e sudeste para se alimentar”, diz.

“As equipes do TAMAR já registraram várias ocorrências de fêmeas que botaram os ovos no ES e na BA e foram encontradas no Rio Grande do Sul, ou seja, SP foi parte do caminho no trajeto da reprodução. Algumas dessas fêmeas vão para o RS e Uruguai se alimentar e voltam a cada dois anos, em média, para desovar novamente”, detalha Becker.

O fotógrafo de natureza e fundador do “Projeto Baleia à Vista”, Julio Cardoso, teve a chance de registrar a dupla de cabeçudas em Ilhabela (SP). “Foi incrível ter a chance de filmar essa espécie. Aqui na região vemos as tartarugas-verde com mais frequência em volta da ilha, perto da costa, se alimentando das algas. Mas a cabeçuda foi uma surpresa, principalmente porque sabemos que elas ficam mais distantes, então é difícil encontrá-las. Melhor ainda foi registrar dois indivíduos juntos. Pudemos identificar que um deles é macho”, conta.

Julio também destaca o fato de que o animal estava anilhado. “Infelizmente não conseguimos decifrar os números da anilha, mas constatamos que ela estava no macho”, completa.

“É curioso encontrar um macho anilhado, porque geralmente aplicamos anilha nas fêmeas, já que os machos não vão para a praia. Provavelmente esse animal foi marcado ainda jovem, sem os pesquisadores saberem o sexo”, explica Becker.

No dia seguinte ao flagrante, um morador de Ilhabela registrou uma tartaruga-oliva, espécie cuja ocorrência também é incomum para a região costeira.

Foto: Julio Cardoso/Projeto Baleia À Vista

Conservação das tartarugas-cabeçudas

Na lista de espécies brasileiras ameaçadas de extinção as tartarugas-cabeçudas estão classificadas como ‘Vulnerável’. “Na última atualização da lista elas passaram para essa categoria, ou seja, estão menos ameaçadas do que nos anos 80 – quando eram consideradas Em Perigo”, explica o biólogo.

“Hoje em dia a caça para consumo da carne e dos ovos não é mais uma ameaça emergente, como no passado. Atualmente a principal ameaça é a captura incidental da pesca com rede ou espinhel. Acidentes com embarcações de lazer, como as lanchas, também prejudicam estes animais”, detalha.

“Na década de 80 o trabalho do TAMAR foi específico com a questão da caça para consumo, tanto da carne quanto dos ovos, então esse foi o primeiro passo para a conservação. Nos anos 90 passamos a trabalhar a questão da interação com a pesca, sensibilizando os pescadores sobre a importância de soltar vivas as tartarugas acidentalmente capturadas. Também testamos e incentivamos a adoção de medidas mitigadoras para as capturas. No caso dos espinhéis, propusemos a substituição dos anzóis “J” (em formato de jota) por anzóis circulares que foram testados durante quatro anos em parceria com pescadores da frota comercial. Ao invés de engolir os anzóis, os circulares ficam presos na boca, possibilitando aos pescadores soltá-los com menor impacto às tartarugas”

O biólogo destaca ainda a importância de pesquisas feitas ao longo de décadas como o monitoramento das áreas de desova. “A série histórica nos permite afirmar que a população de cabeçudas está crescendo”, finaliza.

O crescimento desordenado das cidades e a urbanização nas áreas de desova também impactam negativamente a conservação das cabeçudas – assim como de outras tartarugas. “A iluminação artificial das praias desorienta os filhotes, que se perdem logo assim que nascem. Adultos que chegam às áreas de desova também podem se confundir com as luzes”, diz.

Foto: Julio Cardoso/Projeto Baleia À Vista

Tartaruga-cabeçuda

Com cerca de 150 quilos e tamanho médio de 1,30 metros de comprimento, as tartarugas-cabeçudas são espécies marinhas que vivem em zonas tropicais e subtropicais de todos os oceanos.

O nome popular é inspirado nas características da cabeça do animal, grande e com uma mandíbula muito forte.

Carnívoras, se alimentam de lulas, moluscos e crustáceos (predados longe da costa) e espécies da fauna típicas de fundo arenoso, como caranguejos e caramujos (quando se aproximam de áreas costeiras).

Fonte: G1

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