No Parque Nacional das Emas, no sudoeste de Goiás, a fauna e flora do Cerrado ganham proteção em meio a um refúgio de conservação de 132 mil hectares de terras.
Mamíferos, aves, répteis, insetos, aracnídeos, anfíbios e inúmeras espécies de plantas atraem anualmente milhares de turistas e pesquisadores que se dedicam a estudar a área. Mas quem tem a sorte de trabalhar no local não precisa nem viajar para flagrar a diversidade.
É o caso do biólogo Kennedy Road que é coordenador de visitação e uso público do parque, além de auxiliar nas pesquisas científicas. Rodando a área diariamente, ele acaba observando os animais e eternizando os encontros através da lente da câmera que carrega sempre junto.
“Percebi que o barulho do carro acabava atrapalhando e assustando os animais quando eu parava para fotografar algum bicho. Pensando nisso comprei uma bicicleta elétrica e investi em uma roupa camuflada, os resultados têm sido incríveis”, conta.
Antes da bicicleta, por exemplo, o biólogo havia flagrado no início do mês um gato-palheiro quando saía de carro para uma viagem. ”Foi muito rápido e consegui uma foto muito distante desse felino incrível”, relembra.
De acordo com Kennedy, o gato-palheiro é extremamente arisco e difícil de ser fotografado. “Esse é um animal que quando te vê ele dá dois saltos e entra na vegetação, daí já era. Porque você só observa ele na estrada, que é onde ele caça. Felinos são muito espertos, eles percebem pelo cheiro a sua presença e logo já fogem”, detalha.
Mas com o novo e silencioso meio de locomoção, Kennedy conseguiu mais dois encontros com a espécie. “O último foi o mais especial. Estava na bicicleta e quando eu o vi, observei o sentido que ele tava caminhando. Peguei a estrada paralela, passei da linha dele, deixei a bike escondida e fiquei deitado com a roupa camuflada no chão”.
Foi assim que ele garantiu fotos e vídeos do felino que, com todo esforço do biólogo, ficou quase que uma hora na presença de Kennedy antes de ir embora. O encontro aconteceu por volta das 10h da manhã no dia 15 deste mês.
“O parque tem muitas áreas abertas e tem matas bem grandes. Através de câmeras de monitoramento flagramos onças-pintadas saindo para caçar a noite a partir das 18h30/19h até 24h/24h30. Depois disso, verificamos que é a vez das onças-pardas garantirem o alimento. Seguindo a ordem, o gato-mourisco e o gato-palheiro, outros felinos, ficam com o dia para caçar, tanto que só temos registros diurnos deles”, esclarece Road.
Todas as cinco espécies de gato-plaheiro que existem ocorrem na América do sul, mas somente duas vivem no Brasil. O Leopardus braccatus abriga o Cerrado e o Leopardus munoai se distribui pelo Pampa, quase na divisa com o Uruguai.
As espécies brasileiras são classificadas pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza) como “Quase ameaçadas” internacionalmente e pelo ICMBio-MMA como ameaçadas de extinção no Brasil, na categoria “Vulnerável”.
Fonte: G1