Morreu neste sábado (21/06) o chimpanzé Sena, que vivia aprisionado há 53 anos no zoológico do Parque Estadual de Dois Irmãos, no Recife (PE). Com 67 anos, ele ultrapassou a expectativa média de vida de sua espécie, mas nunca conheceu a verdadeira liberdade. Sua morte é o triste desfecho de uma existência confinada e, talvez, um alívio para quem nunca pôde viver como um animal selvagem deveria.
Nascido para habitar as florestas da África, Sena foi arrancado de seu habitat natural e explorado em um circo antes de ser tirado de lá e levado para uma outra forma de cativeiro: o zoológico. Desde 1972, ele serviu como atração, sob o discurso de “educação ambiental” e “conservação”, enquanto era exibido como objeto de entretenimento para visitantes.
No mês passado, Sena teve que passar por uma cirurgia “de alta complexidade” e, desde então, seguia tratamento com cuidados paliativos.
A administração do parque o celebrou como um “embaixador” e parte da “memória afetiva de Pernambuco”, mas pouco se falou sobre o que significou, para Sena, passar décadas trancado, longe de seu grupo social, sem autonomia, privado de comportamentos naturais de sua espécie. Chimpanzés são animais complexos, com cultura, laços familiares e necessidades psicológicas — tudo o que lhe foi negado.
Sua longevidade, embora destacada como um feito, é também um retrato da resignação de um animal submetido a uma vida artificial. Em liberdade, chimpanzés enfrentam desafios, mas também experimentam a plenitude de sua existência: escolher onde ir, com quem se relacionar, forragear, explorar. Sena conheceu apenas grades, visitantes curiosos e uma dieta controlada por humanos.
As festas de aniversário com bolos saudáveis e revistas para folhear que ele recebia não passavam de uma tentativa de humanizar o sofrimento do cativeiro. Nenhum bolo substitui a sensação de pisar na terra sem cercas, de tomar decisões, de viver sem ser observado como uma peça de museu.
A verdadeira homenagem a Sena não é comemorar seu tempo no cativeiro, mas questionar por que, em pleno século XXI, ainda insistimos em aprisionar seres sencientes para o entretenimento humano. Sua história não é um legado — é um lamento.