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LAGARTOS E SERPENTES

Ao contrário do que se pensava, aquecimento global pode prejudicar até mesmo espécies adaptadas a clima árido e quente

Aumento da temperatura pode reduzir e não aumentar área de ocorrência de répteis da Caatinga, levando-as à extinção

17 de junho de 2024
Evanildo da Silveira
7 min. de leitura
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Foto: Marcos Severgnini | Wikimedia Commons

Muito já se sabe sobre as consequências das mudanças climáticas para o meio ambiente e para as espécies animais e de plantas que nele vivem. Mas ainda não se sabe tudo e as descobertas de alguns estudos contrariam o que se tinha como certo. É o caso de um trabalho realizado por pesquisadores brasileiros, publicado na revista Journal of Arid Environments, que demonstrou que répteis (lagartos e serpentes) que vivem em solos arenosos secos e quentes serão prejudicados e não favorecidos pelo aquecimento global como se pensava.

Até a realização da pesquisa, era quase um consenso de que essas espécies seriam beneficiadas com o aquecimento global nas próximas décadas, porque haveria supostamente um aumento das áreas áridas e arenosas adequadas a sua vida por elas já estarem adaptadas a altas temperaturas.

“Nosso trabalho surgiu a partir da preocupação com os répteis adaptados a solos arenosos da Diagonal de Formações Abertas da América do Sul (Caatinga, Cerrado e Chaco argentino e paraguaio)”, conta Júlia Oliveira, primeira autora do trabalho, realizado como parte de seu mestrado na Universidade Estadual do Maranhão (Uema). “Tais animais são, ainda, pouco estudados e não se sabia ao certo como as mudanças climáticas poderiam afetá-los.”

Sua orientadora, Thaís Guedes, do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-Unicamp), estuda a fauna de répteis da Caatinga há 24 anos. “Sempre me incomodei com algumas afirmações que diziam que se esses espécies, que evoluíram e se adaptaram a ambientes mais áridos, estariam então aptos a viver em um mundo mais quentes e por isso não seriam impactados pelas mudanças climáticas”, explica.

Ela diz que a ideia da pesquisa surgiu dessa sua inquietação de “será mesmo que isso é verdade? Só acredito testando”. “E na época, a Júlia estava iniciando o mestrado comigo e direcionei essa pergunta para que fosse o tema de sua pesquisa”, diz. “Depois, ampliamos o questionamento incluindo espécies também de outras áreas e vegetação aberta (o Cerrado e o Chaco) na América do Sul.”

O estudo tinha dois objetivos principais. O primeiro era investigar, no clima do presente, onde essas espécies poderiam ocorrer e não foram ainda estudados. “Então mapeamos áreas de ocorrência potencial delas, com clima e condições de solo adequadas”, conta Guedes. “O segundo era investigar, em dois tempos futuros, 2040 e 2060, em condições de efeito estufa consideradas otimistas e pessimistas, onde esses animais vão ocorrer e se suas áreas de vida (comparada com o clima do presente) vão ser maiores, menores ou se deslocar para norte, sul, leste ou oeste.”

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