O antropocentrismo, de forma geral, é uma visão de mundo segundo a qual o ser humano ocupa uma posição central no mundo, tomando para si uma importância primordial, devendo todas as coisas, todos seres vivos e todos os fins orbitarem em razão da espécie humana. Dessa perspectiva, entende-se, deriva a prática do especismo que significa, em analogia ao racismo e ao sexismo, uma conduta discriminatória em relação aos seres vivos integrantes das outras espécies.
Essa postura antropocêntrica de exploração e perversão em relação ao meio ambiente e aos demais seres vivos resultou no atual momento de pandemia (Covid-19) e na conjuntura de mudanças climáticas. Ou seja, essa visão limitada, egoísta e não sustentável está levando o planeta ao colapso.
Entretanto, infelizmente, os interesses humanos, geralmente de cunho financeiro e que beneficia uma ínfima parcela da humanidade, ainda têm sido preponderantes. Os exemplos são fartos e chocantes:
(1) Na cidade de Goiânia, capital do Estado de Goiás, mais de 40 árvores de Jamelões já foram derrubadas de uma avenida pelo fato que, segundo informações da própria prefeitura, a “liberação do óleo produzido pelos jamelões deixa a pista escorregadia e são frequentes os acidentes, principalmente com motociclistas em dias de chuvas”, mas “para minimizar o dano ambiental, mudas de espécies adequadas para o paisagismo urbano serão plantadas no local. As árvores derrubadas significa dizer que as árvores foram mortas, vidas que jamais serão repostas.
(2) O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em julho de 2021, editou uma portaria que trata do protocolo de um suposto bem-estar animal para o abate de vacas prenhas (que estejam com até 90% da gestão completa). No abate, a vaca é insensibilizada para a sangria (que dura cerca de três minutos), mas o feto não é insensibilizado, agonizando durante o período até perder o supro da vida por asfixia. E assim segue sendo cumprida a portaria nos abatedouros brasileiros. Como diz o trecho da música “Disparada” (composição de Geraldo Vandré e Théo de Barros): “Porque gado a gente marca / Tange, ferra, engorda e mata”.
(3) Cerca de 1.500 golfinhos são alvo de uma tradicional caçada nas Ilhas Faroé (arquipélago da Dinamarca). Os animais são arrastados para a praia e mortos a facadas. E, no Japão, na cidade de Taiji, permanece a autorização para a caça anual de golfinhos, que deve durar até março de 2022 e possui uma cota de captura de 1.849 golfinhos de nove diferentes espécies.
(4) Em setembro de 2021, 23 novas espécies animais foram declaradas extintas, dentre elas: Pica-pau-bico-de-marfim, Toutinegra de Bachman, oito espécies de mexilhões de água doce, San Marcos Gambusia e o Bagre de Ohio. Ou seja, essas formas de vida não mais existem no planeta Terra, em virtude diretamente da ação humana.
Nesse triste contexto, percebe-se que o antropocentrismo (e o especismo) ainda imperam de forma constante nas ações humanas, levando o meio ambiente ao colapso e espécies à extinção, situação que em breve também refletirá na sobrevivência da própria espécie humana. É preciso reconhecer os erros no caminho trilhado pela humanidade e realizar urgentemente, pois o tempo urge, uma mudança de perspectiva para a preservação da vida.
*Advogado e professor