Por Patricia Tai (da Redação)
A cada segundo do dia, em algum lugar do mundo, a mesma cena se desenrola.
Um lote de várias centenas de ovos, precisamente arranjados em fileiras uniformes, move-se ao longo de uma esteira rolante e chega a uma parada debaixo de uma máquina ligada a um emaranhado de tubos.
Uma vez em posição, a máquina roboticamente reduz o ritmo e, em seguida, simultaneamente perfura cada ovo com uma série de seringas com agulhas hipodérmicas.
De dentro destas seringas, um mix de vacinas e antibióticos é injetado em cada ovo – portanto dentro do embrião de ave nele que, três dias depois, irá nascer. As informações são do Daily Mail.
Se, por um lado, a cena parece trecho de um filme de ficção científica, na realidade ela está longe de ser uma surpresa. Atualmente, a “produção de frangos” em larga escala tem pouco a ver com campos verdes e fazendas amplas.
Todo ano, mais de 40 bilhões de aves são mortas no mundo todo para alimentação humana, e a vasta maioria delas vem da chamada “criação intensiva” mecanizada.
O pano de fundo é o lucro. Tudo o que importa é o volume para que estes animais atinjam seus pesos geneticamente modificados para abate dentro de 35 dias.
Elas são frequentemente medicadas com antibióticos – uma medida preventiva mais fácil e mais barata que lidar com doenças individuais posteriores.
Na Grã Bretanha, onde foi feita a reportagem em questão, se come em média 31 quilos de carne de aves por pessoa, a cada ano – mais do que em qualquer país europeu. Segundo dados do G1, no Brasil se consumiu 47,4 quilos de frango per capita em 2011, superando a média dos Estados Unidos, que foi de 44,4 quilos no mesmo período.
O custo baixo que se paga pela carne de frango hoje em todo o mundo é um dos impulsionadores da sua popularidade sempre crescente.
Além disso, analistas sugerem que o escândalo da carne de cavalo ainda está nas mentes dos consumidores europeus e que o fato da carne “branca” ter menos gordura do que a carne vermelha fazem com que a opção por ingerir aves tenha se tornado ainda mais uma escolha para muitos.
Irônico seria, nesse momento, cientistas alertarem para os riscos devastadores à saúde pelo consumo destas carnes.
Foi divulgado recentemente que casos de contaminação alimentar relacionados à ingestão de frango infectado derrubaram 580 mil pessoas no ano passado, fazendo com que 18 mil fossem internadas e registrando 140 casos de morte.
Agora os especialistas anunciam que o uso excessivo de antibióticos em avícolas de todo o mundo está criando uma geração de bactérias resistentes a tratamento por praticamente todas as drogas do arsenal dos estabelecimentos médicos.
Com mais de 80% dos frangos à venda em alguns países carregando estas resistentes bactérias, elas podem ser transferidas a humanos durante o manuseio da carne infectada ou na ingestão da mesma.
A bactéria irá sobreviver no intestino até causar doenças como infecções urinárias persistentes ou, mais seriamente, envenenamento do sangue, mais conhecido como septicemia.
Um novo relatório apontou que, como causa direta disso, 1500 vidas são perdidas na Europa a cada ano, conforme publicado pela ANDA .
“Nós temos pessoas morrendo quando isso poderia ser evitado, pois não deveriam ser usadas estas drogas em animais criados para consumo humano, particularmente em frangos”, disse Peter Collignon, autoridade mundial no assunto e professor de doenças infecciosas da Universidade Nacional da Austrália.
“É uma prática que não devemos permitir que continue, porque há mais antibióticos a caminho vindo nos resgatar. O argumento da indústria é que se eles não fizerem isso, um ou dois por cento de suas aves poderiam morrer”, continuou o pesquisador, que também chegou ao absurdo de dizer:
“Uma galinha de um ou dois dias de idade que morre custa uma fração de um centavo. Um vida humana vale milhões a mais do que a de uma galinha – então não deveríamos fazer isso”.
Alguém que conheceu em primeira mão os perigos da infecção mencionada pelos cientistas é Susie Wiggins. Ela relata que, em março deste ano, foi almoçar com uma amiga em um luxuoso restaurante. “Nós iríamos a uma exposição após o almoço e eu estava bem vestida e me sentindo extremamente bem”, diz ela, mas durante o almoço sentiu-se mal rapidamente, teve cólicas “inacreditáveis”, foi ao banheiro e quando voltou estava divagando e falando coisas sem sentido.
Percebendo que havia algo seriamente errado, a amiga imediatamente a levou ao hospital; dentro de algumas horas, Susie estava inconsciente e em tratamento intensivo.
“Basicamente, eu sentia uma dor como se meus órgãos estivessem começando a se desligar”, disse ela, que ficou em coma por duas semanas.
“Os médicos estavam tão certos de que eu poderia morrer que eles providenciaram um quarto para a minha mãe de modo que ela pudesse estar comigo quando isso acontecesse”, continua.
Susie sobreviveu e os médicos perceberam que o ela estava sofrendo de septicemia. A doença ataca fortemente, e está matando 37 mil pessoas por ano só no Reino Unido.
Nota da Redação: As mortes de humanos pela ingestão de frangos tratados antes mesmo do nascimento é um fato brutal e lamentável, mas melhorar as condições de tratamento do frango para o futuro consumo humano também não é uma solução prática para o término da violência a esses animais. A ideia de uma linha de produção com ovos de frangos já é algo a ser combatido, pois o comércio e a indústria de animais são duas práticas que objetificam e corroboram com a visão de que animais são meros instrumentos humanos, disponíveis ao seu consumo.