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Ansiedade, hora de dormir e acasalamento: animais podem se comportar de forma 'estranha' durante o eclipse

5 de abril de 2024
6 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Freepik

Enquanto milhões de pessoas se preparam para assistir ao eclipse solar total que atravessará a América do Norte na próxima segunda-feira, os animais na área afetada — em casas, fazendas, zoológicos e na natureza — perderam a notícia de que a lua bloqueará o sol, transformando brevemente o dia em noite. Como eles reagirão a essa mudança rápida e inesperada de luz e temperatura, que em alguns lugares durará até quatro minutos e meio, é uma incógnita.

As vacas podem vagar para suas baías para dormir. Os flamingos podem se agrupar com medo. A tartaruga gigante e de movimento lento das Galápagos pode até ficar animada e se reproduzir.

Os ritmos biológicos podem ser afetados, com animais noturnos acordando e começando o dia apenas para perceberem que a noite já acabou. Alguns animais, como e gatos domésticos ou javalis focados na busca por comida, que podem não dar muita importância ao céu escuro.

Shumaker, um especialista em comportamento e cognição animal, disse que “a maioria dos animais, é claro, vai notar que algo incomum está acontecendo”.

A maioria dos animais provavelmente ficará confusa com a escuridão e começará suas rotinas noturnas, disse Leanne Lilly, uma veterinária comportamental da Universidade Estadual de Ohio.

Mas a maneira como os humanos reagem ao eclipse — olhando para o céu, expressando entusiasmo ou se reunindo em grupo — pode afetar os animais domesticados, como cães ou gatos, porque os animais domésticos podem agir de forma estranha justamente pelo comportamento pouco comum de seus tutores, diz Lilly

“Isso pode fazer com que nossos animais domésticos sintam que as coisas não são tão seguras e previsíveis como deveriam ser”, disse a veterinária, acrescentando que qualquer comportamento humano incomum pode perturbar os animais domésticos.

Os estudos sobre o tema são poucos e muitas vezes conflitantes. Uma publicação sobre um eclipse de 1560 citou que “os pássaros caíram no chão”. Outros estudos diziam que os pássaros foram dormir, ou ficaram em silêncio, ou continuaram a cantar.

Um estudo do eclipse de 1932, que foi considerado o primeiro abrangente sobre o assunto e incluiu observações do público, afirma ter recebido “muitos testemunhos conflitantes”. A pesquisa concluiu que vários animais mostraram respostas fortes ao fenômeno: esquilos correram para o bosque, enquanto gado e ovelhas foram para suas baías.

Já os animais de zoológico, disse o estudo, mostraram pouca ou nenhuma resposta. Shumaker não espera que os animais no Zoológico de Indianápolis tenham comportamentos incomuns, porque “eles lidam com muitas coisas tranquilamente”.

“Estamos pensando que esta será uma experiência muito casual e fácil para os animais”, disse ele, acrescentando que alguns podem experimentar “um pouco de confusão” sobre o que está acontecendo.

Em 2017, Adam Hartstone-Rose, agora professor de ciências biológicas da Universidade Estadual da Carolina do Norte, tentou obter algumas respostas. Antes que um eclipse solar total atravessasse os Estados Unidos, ele deu início a um estudo formal de animais no Riverbanks Zoo & Garden em Columbia, SC. O resultado foi provavelmente o mais abrangente durante um eclipse desde 1932.

Hartstone-Rose reuniu um grupo de pesquisadores, tratadores de animais e voluntários para observar os animais antes, durante e depois do fenômeno.

Aproximadamente três quartos das 17 espécies estudadas por sua equipe, incluindo mamíferos, pássaros e répteis, apresentaram uma resposta comportamental ao eclipse, com muitos desses animais pensando que a mudança na luz significava que era hora de dormir. Um grupo menor, que inclui girafas, babuínos, gorilas, flamingos, lorikeets (um tipo de papagaio) e um dragão de Komodo, mostrou comportamento fora do comum.

De acordo com o estudo, os babuínos correram ao redor de seu recinto quando a totalidade de eclipse se aproximava. Um deles andou em círculos por cerca de 25 minutos. Um gorila macho atacou o vidro. Os flamingos se agruparam, cercando seus filhotes, vocalizando alto e olhando para o céu. É “o tipo de coisa que eles podem fazer se acharem que há um predador aéreo por perto”, segundo Hartstone-Rose.

Os lorikeets ficaram ativos e barulhentos pouco antes da totalidade do eclipse, e durante o fenômeno voaram juntos para um lado de seu recinto. Um dragão de Komodo fugiu para sua toca, mas a porta estava fechada, e ele “correu erraticamente” até que a luz do dia retornou.

Ele observou que era “totalmente possível” que os comportamentos fossem desencadeados não pelo eclipse, mas pelas grandes multidões e pelos ruídos no zoo, que incluíam fogos de artifício explodindo ao longe.

No entanto, o comportamento das girafas naquele dia na Carolina do Sul foi semelhante ao comportamento dos animais em outros lugares durante os eclipses, incluindo no Zoológico de Nashville em 2017, e também na natureza da Zâmbia durante um eclipse em 2001.

“Todos nós esperávamos que as girafas apenas pensassem, ‘Oh, está escuro’, então é hora de dormir”, disse Alyson Proveaux, curadora de mamíferos do Riverbanks Zoo e uma das observadoras das girafas em 2017.

Normalmente, as girafas do Riverbanks Zoo mastigam alface, vagueiam ou brincam. Quando o céu escureceu, de acordo com o estudo, elas pararam de comer e se agruparam no fundo de seu recinto, com uma delas andando de um lado para o outro. Conforme a luz do dia retornava lentamente, várias galopavam por vários minutos, o que era extremamente fora do comum. As girafas também galoparam durante o eclipse no Zoológico de Nashville e em Zâmbia.

Em outra parte do Riverbanks Zoo, as tartarugas Galápagos fizeram algo ainda mais estranho pouco antes da totalidade. O estudo descreveu o episódio como uma “resposta nova”. Em vez de se moverem lentamente ao redor de sua área, como costumam fazer, elas se agruparam e duas começaram a acasalar. Durante a totalidade, todas as quatro tartarugas se moveram mais rápido do que o normal.

Os cientistas já adotaram diferentes tipos de tecnologia para registrar as respostas de animais selvagens a um eclipse. Para o eclipse solar de 2017, os cientistas usaram dados de radar de estações meteorológicas em todo o país para estudar como os animais voadores responderam quando o dia virou noite.

Eles descobriram que, à medida que o céu escurecia, a quantidade de atividade biológica na atmosfera diminuía. Esse dado sugere que os insetos e pássaros estavam começando a pousar.

Ainda assim, o breve período de escuridão não parecia significativo o suficiente para convencer completamente os animais de que a noite havia chegado. “É uma resposta um pouco atenuada”, disse Andrew Farnsworth, cientista visitante do Cornell Lab of Ornithology, que foi autor do estudo.

Alguns animais, incluindo muitas borboletas, são especialmente sensíveis à temperatura. Durante o eclipse de 2017, Robert Michael Pyle, ecologista e especialista em borboletas no sudoeste de Washington, passou horas registrando cuidadosamente as condições em seu quintal e, à medida que a temperatura caía, as borboletas desapareciam.

“Dois graus colocaram as borboletas de volta para a cama”, ele disse.

Embora tenham sido foco de menos pesquisas, as plantas, que requerem o sol para se sustentar, também são afetadas pelos eclipses. “Conforme o sol se vai, a fotossíntese diminui”, disse Daniel Beverly, ecofisiologista da Indiana University, que documentou essa desaceleração na sálvia-das-montanhas durante o eclipse de 2017. Os resultados destacam a importância dos ritmos circadianos além do reino animal, ele disse.

E observações cuidadosas do que os organismos fazem durante um eclipse podem fornecer novas informações que se estendem além do próprio evento. O eclipse “é uma espécie de experimento natural, manipulando luz e temperatura em grande escala”, disse Candace Galen, ecologista evolutiva da University of Missouri, que descobriu que as abelhas ficaram em silêncio durante o período de totalidade em 2017.

Fonte: O Globo

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