O ano de 2023 foi o mais seco para os rios globais em 33 anos, de acordo com um relatório publicado pela OMM (Organização Meteorológica Mundial) nesta segunda-feira (7). Os cinco anos anteriores registraram retrações nestes corpos d’água, e no ano passado 45% dos rios do planeta estavam abaixo do nível, aponta o documento.
O Brasil foi mencionado na publicação por conta da seca que afetou a região amazônica no ano passado, quadro que se estende durante 2024, quando o país enfrenta a pior estiagem em 75 anos, segundo o governo federal.
A OMM destaca uma aceleração do ciclo hidrológico no planeta, acompanhando o aquecimento global causado pelas atividades humanas. O fluxo da água se tornou mais “errático e imprevisível”, afirma a secretária-geral da organização, Celeste Saulo, gerando cada vez mais quadros extremos de excesso ou falta de água, uma situação potencializada pela atmosfera mais quente.
“Recebemos sinais de socorro [da natureza] na forma de chuvas cada vez mais extremas, inundações e secas que causam um grande impacto em vidas, ecossistemas e economias. O derretimento do gelo e das geleiras ameaça a segurança hídrica de longo prazo para milhões de pessoas. Ainda assim, não estamos tomando as medidas urgentes necessárias”, afirma a executiva.
Atualmente, 3,6 bilhões de pessoas enfrentam acesso inadequado à água pelo menos um mês por ano e espera-se que esse número aumente para mais de 5 bilhões até 2050, de acordo com a ONU.
Geleiras têm maior perda em 50 anos
Em 2023, as geleiras perderam mais de 600 bilhões de toneladas de água, o pior resultado em 50 anos de observações, afirma a OMM. Foi o segundo ano consecutivo em que todas as regiões do mundo com estas formações relataram perda de gelo.
Grande parte desta perda vem do oeste da América do Norte e nos Alpes europeus, onde as geleiras da Suíça perderam cerca de 10% de seu volume nos últimos dois anos, afirma o relatório. Em maio do último ano, a América do Norte registrou a menor cobertura de neve desde o início do monitoramento da OMM, em 1967.
A perda de massa de gelo no verão nos últimos anos indicou que as geleiras na Europa, Escandinávia, Cáucaso, Canadá Ocidental Norte, Sul da Ásia Ocidental e Nova Zelândia passaram do pico, indicando que estas formações podem não conseguir armazenar a mesma quantidade de água em anos posteriores devido ao calor gerado pelas mudanças climáticas.
Em outras partes do globo, incluindo a América do Sul, as taxas de derretimento seguem crescentes.
Brasil
A OMM destacou em seu relatório as chuvas abaixo do normal na região amazônica, com oito estados experimentando a menor precipitação entre julho a setembro, auge da estação seca, em mais de 40 anos. Em 2024, as condições se mostram ainda mais severas, e a Amazônia enfrenta a pior estiagem em 45 anos, segundo o governo federal.
No país, o número de municípios em estado de seca extrema deve chegar perto de 300 neste mês, afirma o Cemaden, que aponta a região Norte como a de maior área afetada. Em Manaus, o rio Negro registrou na sexta-feira (4) a menor cota da história em 122 anos de monitoramento do Serviço Geológico do Brasil: 12,66 metros.
“Este ano pode ser considerado uma continuidade. As condições neste ano são mais críticas que as observadas em 2023”, afirma o meteorologista Renato Senna, do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia). “Não apenas no Amazonas, mas em todo o norte da América do Sul. Neste momento, todas as bacias dos afluentes do Amazonas estão com déficit de precipitação, sendo que o rio Negro está em recorde de mínima histórica e segue descendo nas próximas semanas.”
Seca nos lagos amazônicos
A tragédia ambiental nos lagos de Coari e Tefé, no Amazonas, quando mais de uma centena de botos morreu devido ao aquecimento extremo das águas, que passaram dos 40°C, também foi mencionada pela OMM. Este ano, monitoramento feito por WWF-Brasil e MapBiomas mostra que a região vem aquecendo perigosamente novamente, situação agravada pelo nível baixo dos rios com a seca na Amazônia.
O relatório da OMM aponta ainda o ganho no estoque de água subterrânea nas regiões central e Nordeste do Brasil. Segundo a organização, o fato pode ser associado a chuvas intensas entre 2022 e 2023, interrompendo uma longa tendência de perda de armazenamento.