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MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Ano de 2023 bateu recordes de seca, temperatura na terra e no mar, elevação do oceano e perda de gelo nos polos

Estudo com dados de quase 600 pesquisadores ao redor do mundo confirma impactos das mudanças climáticas no ano mais quente já registrado até hoje

24 de agosto de 2024
Marco Britto, para Um Só Planeta
7 min. de leitura
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Mapa mostra o status global de seca em 2023. Áreas que estão passando pela seca mais extrema são representadas em marrom; lugares úmidos ao longo do ano são coloridos em verde. Quase 8% da área terrestre global passou por seca extrema em 2023, um novo recorde — Foto: NOAA/Divulgação

O ano de 2023, considerado o mais quente já registrado, foi examinado no detalhe e os recordes foram muitos em relação ao clima, porém em nenhum dos casos há motivo para comemoração.

A pesquisa anual State of the Climate, liderada pela American Meteorology Society e compilada pela NOAA (agência americana para os oceanos e o clima) com a participação de quase 600 cientistas em 60 países, aponta que no ano passado o planeta bateu recordes de seca, calor, temperatura dos oceanos e perda de gelo nos pólos, além de manter a tendência de aumento da concentração de gases estufa na atmosfera, fator central nas mudança climáticas e que afeta todos os itens mencionados.

Recordes do ano de 2023

  • Principais gases estufa atingiram novamente concentrações inéditas
  • Calor recorde esteve 0,55 °C a 0,6 °C acima da média do período 1991-2020
  • Temperatura média da superfície do mar em 2023 foi recorde
  • Nível médio do mar atingiu marca histórica pelo 12º ano consecutivo
  • Quase 8% da área terrestre global sofreu seca extrema, um novo recorde
  • Na Antártida, volume e área do gelo marinho atingiram níveis mínimos

As temperaturas na América do Sul estiveram 1,62 °C acima da média de 1991–2020, anomalia mais alta dos últimos 50 anos e superando o limite estabelecido no Acordo de Paris de 1,5 °C de acréscimo como meta global.

Conforme o ano avançou, a intensificação do El Niño “turbinou” anomalias de 3 °C a mais no oeste do Brasil, norte do Paraguai e Bolívia, região que passou por seis ondas de calor.

Eventos extremos no Brasil

  • Rio Negro chegou ao nível mais baixo em 121 anos
  • RN teve maior volume de chuva em um único dia: 300 mm em Brejinho
  • Araçuaí (MG) registrou a temperatura mais alta da história do país, 44,8 °C
  • São Sebastião (SP) teve 683 mm de chuva em 15 horas, maior quantidade já registrada no Brasil
  • Onda de calor no inverno fez Rio bater 38,7 °C, e Cuiabá, 41,8 °C
  • Chuva no RS fez rio Taquari subir 14 metros em 48 horas, matando 51 pessoas

Gases estufa

Dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso⁠ (N2O), os principais gases de efeito estufa, mais uma vez atingiram concentrações recordes em 2023. O crescimento anual da média global de CO2 aumentou de um máximo de 0,6 ppm (partículas por milhão) no início da década de 1960 para uma média de 2,5 ppm durante a última década, de 2014–23. O crescimento de 2022 a 2023 foi de 2,8 ppm, o quarto maior no registro desde a década de 1960.

Temperaturas altas

Uma série de análises científicas de agências diferentes indica que no ano passado a temperatura média da superfície global foi de 0,55 °C a 0,6 °C acima da média de 1991-2020. Isso faz de 2023 o ano mais quente desde que os registros começaram, em meados do final de 1800, superando o recorde anterior, de 2016.

Os sete principais conjuntos de dados de temperatura global usados ​​para análise no relatório concordam que os últimos nove anos (2015-23) foram os nove mais quentes já registrados. A temperatura média anual do planeta vem subindo de forma mais acelerada desde 1981, apontam cientistas.

Oceanos mais quentes e com nível subindo

O nível de calor no oceano, medido da superfície até uma profundidade de 2.000 metros, continuou a aumentar e atingiu novos recordes em 2023. Em 22 de agosto, foi registrada uma temperatura média diária da superfície do mar globalmente alta, de 18,99 °C. A temperatura média anual global da superfície do mar em 2023 foi recorde, superando o recorde anterior de 2016 em 0,13 °C.

Aproximadamente 94% da superfície do oceano experimentou pelo menos uma onda de calor marinha em 2023, um fenômeno definido por temperaturas 10% mais quentes por pelo menos cinco dias. O Oceano Atlântico Norte e tropical oriental, o Mar do Japão, o Mar Arábico, o Oceano Antártico próximo à Nova Zelândia e o Pacífico tropical oriental estiveram em estado de onda de calor marinha por pelo menos 10 meses de 2023.

O oceano experimentou um novo recorde global médio de 116 dias de onda de calor marinha em 2023, o que foi muito acima do recorde anterior de 86 dias em 2016, e um novo recorde de 13 dias de onda de frio marinha, muito abaixo do recorde anterior de 37 dias em 1982.

O nível médio do mar foi recorde pelo 12º ano consecutivo, atingindo cerca de 101,4 milímetros acima da média de 1993, quando as medições de altimetria por satélite começaram.

Antártida com menos gelo

No Polo Sul do planeta, oito meses de 2023 viram novos recordes mensais de mínimas médias na área do gelo marinho, e 278 dias em 2023 estabeleceram novos recordes diários de mínimas de gelo.

Em 21 de fevereiro do ano passado, o volume e a área do gelo marinho na Antártida atingiram mínimas recordes de todos os tempos, superando fevereiro de 2022. Em 6 de julho, um novo recorde diário de mínimas de gelo marinho foi de 1,8 milhão de quilômetros quadrados no continente.

El Niño

A atuação do fenômeno climático El Niño no oceano Pacífico contribuiu para a elevação da média de temperatura em solo e também nos oceanos, afirma a pesquisa. Cada mês de junho a dezembro foi recorde de calor para o próprio mês, tendência que se manteve em 2024.

A pesquisa destaca ainda a atuação do fenômeno na intensificação de chuvas no Brasil e no Uruguai, com efeito sobre o Rio Grande do Sul e a região Sudeste. Já na Amazônia, o fenômeno intensificou a seca.

Fonte: Um Só Planeta

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