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Animal não é ponto turístico

21 de janeiro de 2010
3 min. de leitura
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Estive em Natal no começo deste mês. Fui com a minha mãe e o meu filho, ambos vegetarianos. Sabíamos que a alimentação seria bastante restrita pra nós, então, psicologicamente preparados, passamos a semana toda à base de arroz, raramente feijão, salada, batata ou mandioca, e tivemos que aguentar a guia que nos acompanhou na maioria dos passeios incentivar os turistas a comer buchada e cabeça de bode. O que realmente nos tirou do sério não foi a falta de opções veganas, mas o absurdo uso dos animais para o entretenimento dos turistas.

Em um dos passeios fomos obrigados a parar em um manguezal e convidados a entrar no mangue. Recusamo-nos a participar da manipulação dos caranguejos e ficamos perplexos quando trouxeram um deles para que os turistas pegassem, vissem os seus órgãos reprodutores, chamados pejorativamente de “bilaus” pelo guia que o segurava de forma grosseira para o deleite dos curiosos, que o olhavam enquanto bebiam cerveja e petiscavam seus parentes fritos. Como se não bastasse, sentimos o nó na garganta novamente quando um amontoado de gente se formou para ver, tocar, pegar e fotografar um cavalo-marinho. Sem qualquer condição de se movimentar e demonstrar sofrimento, ele passou de mão em mão enquanto meu filho gritava para que o devolvessem para água. “Ele vai morrer”, dizia do alto dos seus nove anos de idade para adultos insensíveis, que faziam do sofrimento a alegria. “Nossa, viu como ele é durinho?” perguntou uma mulher ao marido, depois de segurá-lo e sorrir para a câmera. Mal sabe ela que, além de ‘durinhos’, os cavalos-marinhos correm risco de extinção devido à pesca abusiva com a finalidade de vendê-los secos para simpatias e remédios, ou vivos para aquários e, como vimos, para atrativo turístico.

Nas dunas de Jenipabu, um dos locais que mais atraem turistas, é muito comum oferecerem iguanas e camaleões para fotos, além dos burros, cavalos e jegues enfeitados com flores na cabeça. Por R$30,00 o turista pode, ainda, passear sentado na corcova de um dos dromedários durante 15 minutos. Trazidos da Espanha em 2000 pelo suíço Phillippe Landry, os dromedários agora se reproduzem em cativeiro e já contam com sete nascimentos. Para tentar acalmar aqueles que são contra a exploração dos animais, os donos dizem que lá eles são bem tratados e têm até plano de saúde. Como se tais cuidados não fossem o mínimo para os manterem em pé e gerando lucro diariamente. Como abobados, os turistas vestem-se com turbantes em pleno sol escaldante do Nordeste e sentam-se em cadeirinhas ridículas fingindo estar no deserto. Juro que torci para alguém cair, assim como torci para que o caranguejo atacasse, mas infelizmente isso não aconteceu enquanto eu estava por lá. Prova, mais uma vez, de que os animais são muito melhores que a gente.

Não entendo por que as pessoas sentem tamanha necessidade de usar animais para se divertirem. Em Natal há tanto lugar maravilhoso, tantos passeios que não agridem o meio ambiente e não envolvem animais, mas o ser humano faz questão de usar sua suposta superioridade de espécie racional para causar sofrimento e destruição sempre.

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