Às margens da BR-040, nas imediações do bairro Jardim Canadá, no município de Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte (MG), um evento curioso chama a atenção dos frequentadores de um posto de gasolina local. Além das grandes carretas que dali fazem seu ponto de parada e do restaurante com comida sempre quentinha no fogão a lenha, uma trupe de cães de “todas as qualidades” é presença cativa e bem-vinda naquelas paragens. Não há exceção para o modo como eles foram chegando. Um a um foram abandonados e, os que tiveram sorte de não perecer na via rápida, encontraram ali um refúgio seguro, com direito a comida boa, cuidados veterinários e algumas regalias. Com a vida nova também ganharam nova identidade: Pretinha, Dourada, Gilbinha, Amarelão, Lora, Mel, e vários outros que por ali estão ou que por lá já passaram e acabaram em lares amorosos após serem adotados.
Os menos ariscos se tornaram membros da família e batem ponto no escritório do empresário Alexandre Bossi Grassi Ferreira, que providenciou caminhas e até crachás para seus ilustres colaboradores. Desde que ele foi trabalhar ao lado do pai, na gestão do posto, o destino de inúmeros animais foi mudado, e o índice de abandono por ali está diminuindo. Além do seu exemplo mudar a consciência tanto de clientes quanto de funcionários em relação ao crime de maus-tratos, sempre que aparece mais um peludo no pedaço ele logo providencia para que seja castrado, evitando a procriação descontrolada. “Tive meu primeiro cachorro aos 8 anos de idade, o Nick, da raça golden retriever.
Eu me lembro dele sempre me aguardando chegar da escola para brincar”, conta Alexandre. “A convivência com ele me fez perceber o quanto os animais são puros e precisam de nós.”
Para ele e tantos outros empresários, ignorar o sofrimento animal é uma prática que não condiz mais com os seres humanos e nem com empresas que se dizem conectadas à sustentabilidade do planeta. Empresas sustentáveis pensam no ecossistema como um todo e fazem disso um diferencial competitivo. Para além dos lucros, elas pensam no futuro e não existe futuro sem a proteção e o bem-estar animal e ambiental. No minidocumentário brasileiro produzido pela World Animal Protection, em 2021, intitulado “Bactérias Multirresistentes: uma Ameaça Invisível”, a Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica as bactérias multirresistentes como uma das dez ameaças globais à saúde pública enfrentadas pela humanidade. Esse fato é intrinsecamente ligado à convivência degradante do ser humano com a fauna e a flora, originando doenças causadas por bactérias, vírus, fungos e parasitas.
Cientes de que animal saudável não transmite doença, cuidar da população de bichos em situação de rua por consequência do abandono humano seria, de fato, uma questão de saúde pública. “´Não vejo como um ato de piedade. É uma questão de consciência social. Um ajudando o outro”, diz o empresário Luiz Alberto, mais conhecido como Bebeto. Dono da PointUTV, loja de acessórios para veículos off road no Jardim Canadá, ele tem quatro cães adotados em casa. Na logo da sua empresa, a imagem do Muttley, cão do famoso personagem Dick Vigarista, do desenho Corrida Maluca, já diz de seu amor pelos animais. Mais recentemente ganhou um mascote para fazer jus ao nome. Um cãozinho vira-lata de três patas resgatado há pouco tempo preso em uma cerca.
“Será o nosso Muttley de verdade. Vai trazer vida e energia nova para o nosso espaço.”
Na Pousada do Comandante, em Macacos, a cadelinha Layla, sem raça definida, é o chamego da empresária Ângela Mara Borges. Dorme aos pés da sua cama e assume o papel de cicerone de todos os hóspedes que frequentam o local. Quem a vê desfilando com seus pelos pretos longos e brilhantes pelas instalações da pousada, não imagina qual a sua origem. “Um ex caseiro nosso a encontrou muito doente e cheia de bicheira. Desde então, a adotamos e ela se transformou em nossa grande companheira. Faz parte da nossa família”, diz Ângela. Há alguns quilômetros dali, na região da Savassi, o empresário Matheus de Freitas Vidal Szenberg se encantou pela gatinha Juliana. Dono do Pet Happy, decidiu encontrar um mascote para a sua loja em uma feira de adoção. Carismática, a gatinha roubou a cena e se transformou na sensação do pet shop.
“Ela faz questão de ficar na entrada da loja para chamar a atenção dos hóspedes. Quando não está, já sentem falta. Traz muita alegria para o nosso negócio.”
Fonte: Revista Encontro