EnglishEspañolPortuguês

Animais torturados em missões espaciais sofrem horrores em nome da ciência

3 de dezembro de 2011
3 min. de leitura
A-
A+

Por Patrícia Tai (da Redação)

Enos, um dos chimpanzés explorados para missão espacial (Foto: Reprodução/The Atlantic)

Poucos se lembram do segundo chimpanzé lançado à órbita espacial pelos Estados Unidos. Menos ainda se lembram do terrível mau funcionamento do equipamento que submeteu o animal a 76 choques elétricos em órbita, segundo informações do jornal The Atlantic.
Os chimpanzés do espaço – Ham, o primeiro primata no espaço, e Enos, o segundo (após Yuri Gagarin) a ficarem em órbita – têm um lugar especial nas memórias da NASA. Essa crueldade foi justificada pela premissa de que “animais abririam o caminho para que o programa espacial dos Estados Unidos convencesse biólogos de que corpos e ‘mentes’ de animais poderiam funcionar em órbita”.
Mas havia um lado obscuro nas missões. Os chimpanzés foram os primeiros a serem treinados por “condicionamento de esquiva”, no qual recebiam choques elétricos na sola dos seus pés quando respondiam de forma incorreta na realização de tarefas simples. Assim, por exemplo, apresentavam aos animais três formas e eram treinados para escolher a que fosse diferente das outras duas. Eles faziam suas seleções pressionando uma de três alavancas que correspondiam aos três símbolos. Como mostra o esquema abaixo, no problema 1, o chimpanzé deveria pressionar a alavanca do meio. Na questão 2, o chimpanzé deveria pressionar a alavanca direita, e assim por diante. É um tipo de “prova de estranhamento”.
Após Enos entrar em órbita, ele passou na sua primeira bateria de testes conforme o que era esperado. Depois de 18 problemas, Enos recebeu 10 choques. Mas em sua bateria de testes seguinte, a alavanca do centro funcionou mal assim como o interruptor que controlava cada questão que era apresentada. Enos continuava respondendo à mesma questão – a número 1 acima – na qual a resposta correta exigia que fosse pressionada a alavanca de centro, que estava quebrada. Enos, amarrado em um módulo espacial em órbita da Terra, foi submetido a 33 choques seguidos, não importando o que ele fizesse. O chimpanzé tentava pressionar alavancas diferentes, conforme registro de pesquisadores da NASA, mas ele continuou recebendo os choques. Felizmente, o tal teste psicotécnico terminou após 35 choques, e Enos teve uma performance normal nas outras tarefas que lhe foram dadas.
Mas então, conforme o cronograma, ele foi presenteado com o teste novamente. Assim como antes, o aparelho apresentou defeito, e Enos recebeu o choque 41 vezes. Os cientistas da NASA ficaram admirados com a persistência do chimpanzé que continuava fazendo os testes, apesar do mau funcionamento do aparelho.
Nota-se que o mau funcionamento da alavanca central, que resultou no chimpanzé recebendo 35 choques na segunda sessão do teste psicotécnico, não atrapalhou seu desempenho subsequente. …E da mesma forma, os 41 choques recebidos durante a terceira sessão não afetou o desempenho na quarta. Certamente, depois de um mau funcionamento desta natureza, era esperado que o comportamento mudasse, mas isso não estava em evidência.
Finalmente, a missão espacial de Enos terminou e ele voltou para a Terra. Sua cápsula não aterrissou onde a Nasa previu, então ele ficou preso nela durante três horas e vinte minutos. No momento em que a tripulação o retirou da cápsula, percebeu que ele havia rompido o painel de proteção de sua barriga e tinham sido danificados a maioria dos sensores fisiológicos, conforme relatório da NASA. “Ele também teria retirado à força o cateter urinário enquanto o balão ainda estava inflado”, conta o relatório.
Pouco menos de um ano depois, Enos morreu de disenteria. Sabemos que seu corpo foi inspecionado, mas a localização de seus restos é desconhecida.

Você viu?

Ir para o topo