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MUITO FERIDOS

Animais silvestres queimados por incêndios na região de Ribeirão Preto (SP) podem não voltar aos seus habitats

6 de setembro de 2024
4 min. de leitura
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Foto: Luciano Tolentino/EPTV

Desde que os incêndios começaram no interior de São Paulo, o Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (Cetras) do Bosque e Zoo Fábio Barreto, em Ribeirão Preto (SP), tem se dedicado a receber e recuperar diferentes espécies para que seja possível devolvê-las à natureza em boas condições de saúde.

O problema é que o estado que estes animais chegam têm preocupado zootecnistas e veterinários que trabalham no local.

A maioria dá entrada no Cetras com queimaduras graves e quadros críticos de desidratação. Eles chegam apáticos e bastante estressados também. Mais da metade dos 20 animais recentemente recebidos morreu.

Uma paca está em estado grave após ter sofrido um aborto espontâneo. Ela tem as quatro patas queimadas por conta dos incêndios, como conta o veterinário Pedro Favoretto.

“Infelizmente, essa paca chegou já realizando um aborto espontâneo, já não tinha mais vida o filhote. Ela chegou com os quatro membros muito queimados, vias aéreas comprometidas e a gente agora teme que isso evolua para um quadro de infecção generalizada, que é o que normalmente acontece com esses pacientes tão graves”.

Uma onça que também é tratada no Cetras foi vítima de atropelamento ao tentar fugir do fogo. Segundo Favoretto, ela está sem parte do movimento da pata esquerda e perdeu dois dígitos.

“A gente está tentando salvar os outros dois dígitos. Se conseguirmos salvar, primeiro o animal e depois a pata, inviabiliza esse animal retornar à natureza porque perdeu a principal ferramenta de caça, tanto para corrida como para aprisionamento”.

O Cetras de Ribeirão Preto é uma das 26 unidades estruturadas pelo Departamento de Fauna Silvestre da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo para atender animais feridos. Por conta dos incêndios, também passaram pela equipe gambás, tamanduás e macacos-prego.

“O prego, quando ele chegou, nós acreditávamos que não teria recuperação, mas enquanto há vida, há esperança. A gente buscou fazer um tratamento árduo com ele durante o dia, à noite. Ele permaneceu 36 horas em fisioterapia, em coma induzido porque retirava o acesso, a glicemia dele chegou em 20, o que é muito baixo, e ele está apresentando melhoras. A gente pretende devolvê-lo para a natureza”.

Patas queimadas e vias aéreas comprometidas

O Cetras mantém um plano de emergência para atender animais silvestres vítimas de incêndio há dez dias. São diversas as queimaduras registradas, desde lesões por conta do ar quente, vapor e braseiro. Os animais também chegam desidratados, porque passam dias sem se alimentar.

“Primeiro pela dor [em caminhar pelo chão em brasa]. Segundo, porque o habitat foi destruído. Um [macaco] bugio desceu para tomar água em uma residência e foi atacado por um cachorro. Os animais estão vindo [para atendimento] de todas as maneiras”, conta Favoretto.

O maior problema, de acordo com o zootecnista Alexandre Gouvea, responsável técnico pelo Cetras, são os membros queimados.

“Eles foram vítimas de incêndios florestais. Alguns desses animais fugiram do fogo e acabaram até sendo atropelados na tentativa de fugir. Tem mamíferos roedores que conseguem se esconder debaixo do solo. Quando eles sentem sede e fome, vão forragear, procurar alimentos. Só que não tem mais. Toda área onde eles estavam vivendo foi degradada, queimada. E o solo ainda está quente. Às vezes, acaba queimando até os quatro membros e isso é comum”.

Além das queimaduras, as vias aéreas também são um problema, porque muitos destes animais acabam inalando fumaça, o que pode comprometer a saúde.

“Queimadura é o primeiro ponto que chama a atenção, mas infelizmente não é o principal. O principal acaba sendo as vias aéreas. É mais difícil você cuidar de uma coisa que você não está vendo, qual foi a extensão da lesão, quanto foi afetado, quanto ele perdeu de capacidade respiratória, quanto queimou as vias aéreas”, diz Favoretto.

Maioria não sobrevive

Segundo Gouvea, a maioria dos animais vítimas de incêndios acaba, de fato, morrendo.

“A grande maioria morre, não tem como. Morrem no próprio local. Os que conseguem fugir do fogo, depois acabam sendo encontrados, começam a procurar alimentos. Tem animais de hábitos noturnos que começam o serviço de dia. Agora é comum, você vai ver tamanduás, que têm hábito noturno, começar a aparecer de dia procurando alimento. Aí pode ser também que tenha animais atropelados”.

Para o zootecnista, o trabalho de reabilitação, neste momento, é essencial para tentar salvar, principalmente, espécies em extinção. Apesar de, muitas vezes, a recuperação ser quase impossível, há animais que sobrevivem e conseguem, enfim, voltar à natureza.

“É um trabalho importantíssimo da reabilitação desses animais vitimados, porque, depois da reabilitação, temos um trabalho de soltura, de devolver esses animais ao ambiente natural”.

Fonte: G1

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