Espécies que são retirados de seu habitat natural acabam sendo prejudicados porque são confinados em cativeiro
Preguiças, jiboias e jacarés encabeçam a lista de animais resgatados pelo Refúgio da Vida Silvestre Sauim-Castanheiras, da prefeitura de Manaus, segundo o veterinário e gestor da unidade, Laérzio Chiezorin.
Mas outras espécies também são resgatadas regularmente, como macacos-pregos, papagaios e até uma espécie rara, o tamanduaí.
Somente este ano, conforme dados divulgados pela assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas), o refúgio já realizou 360 resgates e realizou 222 devoluções à natureza, entre primatas, quelônios e répteis.
Os animais são enviados para áreas protegidas e distantes de aglomerações urbanas.
Os que não são devolvidos à natureza acabam indo parar em zoológicos, criadores comerciais e instituições autorizadas pelo Ibama. Alguns ficam no refúgio para receber tratamento de saúde.
Cativeiro
Os animais com maior dificuldade de se submeter à reabilitação da natureza são os da espécie do psitacídeos (papagaios, araras e assemelhados) porque eles são gregários e geralmente chegam ao refúgio isoladamente, chega por resgate, seja levado pelo próprio “tutor”.
De acordo com Chiezorin, a expansão urbana de Manaus tem causado danos à fauna silvestre que reside na cidade por causa da expansão urbana.
O veterinário explica que em todas as zonas da cidade são encontrados animais silvestres. Muitos são criados, de forma errônea, como animais domésticos e de cativeiro.
É o caso dos primatas das espécies macaco-prego e macaco-barrigudo, que são retirados da natureza ainda recém-nascidos, após o caçador matar sua mãe e outros filhotes da mesma família.
Ocorre que, ao serem adotados como animais domésticos, os tutores do primata, insatisfeito com o comportamento do bicho, tentam se desfazer dele.
“A gente recebe muitos primatas de cativeiro. Pequenos, eles são calmos. Mas quando se tornam juvenis, por volta dos quatro anos de idade, se tornam agressivos porque estão na fase hormonal e querem se reproduzir. Mas dentro de um grupo de primata, um animal para reproduzir tem que disputar com o líder. No caso de uma família de humanos, o líder são os pais, o marido ou a esposa. Uma primata fêmea vai querer atacar a esposa do casal achando que ela é a fêmea alfa do grupo. A mesma coisa acontece com o primata macho, que vai atacar o homem”, explica o veterinário.
Conforme Chiezorin, há uma superpopulação de primatas em cativeiro porque, quando retirados da vida livre, eles não conseguem mais retornar ao seu habital natural. É que, ao serem retirados da vida silvestre, esta espécie não recebeu treinamento dos pais para se adaptarem.
Serpentes
A jiboia, conhecida como “animal de vida livre”, é outra espécie que, devido à sua má reputação, também é ameaçada.
No entanto, a espécie cumpre um papel que poucos seres humanos conhecem: presta serviço para manutenção da higiene da cidade.
“Esses animais residem em áreas verdes e fragmentos florestais, próximo ao ser humano por causa do acúmulo de entulhos de casas e lixo acumulado. Mas como é predadora natural do rato, ela se responsabiliza para controlar a população deste animal”, explica o veterinário.
Segundo Chiezorin, existe muito “preconceito” contra as serpentes e por conta desse comportamento estes animais são agredidos e chegam machucados e doentes ao refúgio.
Tamanduaí
Somente nesta quinta-feira (14), um jacaré-coroa, um tamanduaí e um bicho-preguiça foram devolvidos à natureza.
Os animais chegaram ao Sauim-Castanheiras após terem sido resgatados pelo batalhão ambiental da Polícia Militar.
O tamanduaí foi solto na própria reserva Sauim-Castanheiras. É a menor espécie de tamanduá do mundo, rara de ser vista por possuir hábitos noturnos.
Já o jacaré-coroa e o bicho-preguiça foram soltos em uma área verde localizada no Tarumã, zona Norte da cidade.
O Refúgio Sauim Castanheiras pode ser acionado para fazer o resgate por meio do telefone da reserva 3618-9345. A linha-verde da Semmas (08000-92-2000) também repassa as informações para o Refúgio.
Fonte: A Crítica