Enquanto a violência entre facções criminosas forçou a diáspora de quase toda uma comunidade em Iraponga, cães, gatos, vacas e porcos vagam famintos e sem rumo entre casas e comércios fechados, esquecidos em uma “cidade-fantasma” no interior do Ceará.
Com o êxodo em massa das famílias, estimuladas por ameaças de morte e tiroteios, os animais domésticos foram tratados como descartáveis. Deixados para trás sem qualquer plano de resgate ou abastecimento de comida, eles se tornaram os únicos habitantes de um vilarejo onde o silêncio é quebrado apenas pelos latidos de aflição e os miados de fome.
“Eles estão precisando de alimentos”, resumiu um dos poucos moradores remanescentes, descrevendo a cena de animais esfaimados perambulando entre os escombros da vida que um dia existiu.
A disputa territorial entre facções rompeu a tranquilidade do distrito, que antes era uma comunidade ativa com mais de 300 famílias. As casas abandonadas às pressas foram lares desfeitos, vínculos afetivos rompidos sem qualquer consideração pelos animais que dependiam integralmente de seus tutores.
Organizações de proteção animal ainda não conseguiram acessar o distrito, e não há informações sobre ações do poder público para resgatar ou alimentar os cães e gatos. A situação mostra mais uma face cruel da violência, onde seres sencientes têm sua existência reduzida à fome e ao abandono, e são tratados como “descartáveis” no meio de uma crise que deveria ser enfrentada com planejamento humanitário, para pessoas e animais.