[email protected]
Recentemente pudemos conferir as ondas de protestos contra as lojas de roupas e calçados que utilizam pele animal. Essas manifestações sempre foram ligadas às organizações não governamentais e ativistas dos Direitos Animais, mas alguma coisa mudou nos últimos anos. A grande massa, muitas vezes não politizada e sem muito contato com as causas animais, aderiu em peso a esse movimento, gerando poder para derrubar essa cultura de exploração animal contida em diversas grifes.
É evidente que o movimento pró-animal não pode contar apenas com os adeptos mais puristas e com uma visão mais clara e ética da questão. Precisamos da ajuda que vem de fora do movimento, de pessoas que não consideram comer carne um absurdo, mas usar pele animal sim.
Apesar dos pedidos de desculpas de algumas empresas e do cancelamento do uso de pele, sabemos que esse não é um posicionamento natural, mas estratégico, evitando arranhar ainda mais a imagem da empresa. É compreensível que dentro do pensamento comum exista uma escala de exploração animal aceitável até a mais repudiada; dentro desse contexto podemos avançar na discussão sobre os Direitos Animais até chegar, apesar de soar utópico, em um momento em que animais serão protegidos pela lei e não servirão para alimentação, vestuário e entretenimento.
Comparando com questões ambientais, minha teoria parece animadora. Vejam que em um passado próximo muitas árvores eram cortadas e perdemos quase toda nossa mata nativa. Hoje, isso soa absurdo, apesar de ainda acontecer, e é clara a adesão da sociedade na preservação ambiental, ainda que o modo de vida levado por essas pessoas seja contraditório.
Certa vez, tive uma palestra com o presidente de uma famosa marca de mortadelas; a princípio pensei em não entrar, em não dar ouvidos a uma pessoa que vive da exploração animal. Mas recuei e pensei que seria uma oportunidade única de perguntar algo a uma pessoa dessas.
Ao final da palestra, cujo assunto era somente o sucesso de sua mortadela, perguntei como era para ele a questão da exploração animal, as correntes contrárias ao consumo de carne e como ele lidaria com essa questão empresarial ao passo que a consciência da sociedade aumentasse. A pergunta pareceu amarga e o professor que conseguiu a presença do empresário não reagiu bem, mesmo assim ele respondeu. Prontamente abusou dos clichês do “abate humanitário”, como se existisse uma forma melhor de assassinar um animal, mostrou-se respeitoso da causa animal e disse que no futuro ofereceriam produtos sem carne, pois era um mercado em crescimento e seus clientes mereciam uma gama completa de produtos.
Claro que tanto faz se a carne vem do porco ou da soja, o objetivo dele é somente o lucro. Mas imagino que, se essa pergunta fosse feita alguns anos atrás, soaria como piada e caberia uma resposta seca, se houvesse uma.
Estamos caminhando para uma época mais justa para os animais, utilizar o poder que conseguimos de comunicação com a internet tem sido a forma mais eficaz de mudar esse quadro. Se antes tínhamos que enviar e-mails solitários para empresas ou tentar montar uma petição, hoje podemos penetrar no assunto das massas através das redes sociais e assim repercutir em veículos ainda maiores de comunicação.
Eu pertenço à terceira geração desse movimento tão especial e humano a favor da vida, dos direitos, da ética e da integridade de seres tão maravilhosos, bondosos e lindos que são nossos animais. A luta continua. Quem corre por gosto, não cansa.