Entender se os animais podem prever terremotos é algo que tem fascinado as pessoas por séculos, com histórias de comportamento estranho em animais que vão desde ratos até pássaros, alimentando a ideia de que eles podem ter um sexto sentido para atividades sísmicas.
Teorias afirmam que o comportamento animal incomum geralmente significa que pode haver um terremoto iminente se aproximando, o que poderia ajudar os seres humanos a prevê-los com antecedência.
Este é um tópico que tem sido objeto de fascínio e especulação. Por mais que não haja evidência científica que comprove a ideia de que animais consigam fazer prever terremotos, há vários relatos que sugerem o contrário.
Por exemplo, na Grécia antiga, vários animais como ratos, doninhas, cobras e lacraias foram observados deixando seus ninhos misteriosamente dias antes de um grande terremoto atingir a região em 373 a.C. Da mesma forma, em tempos mais recentes, houve relatos de peixes e pássaros comportando-se de forma incomum antes de terremotos, bem como gatos e cães.
Um exemplo mais recente é um vídeo – viralizado desde então – de um cão uivando momentos antes do terremoto de segunda-feira (06/02/2023) atingir a Turquia, com pessoas alegando que o animal tentou alertar aqueles por perto sobre o que estava por vir.
Esses relatos despertaram o interesse dos pesquisadores, que agora estão usando tecnologia avançada para estudar o comportamento de animais que se acredita serem capazes de prever terremotos.
Apesar da falta de evidências concretas, a ideia de que os animais podem sentir atividades sísmicas antes dos seres humanos continua despertando a imaginação de muitos.
Terremotos na Turquia e na Síria
Um terremoto devastador de magnitude 7,8 atingiu o sul da Turquia e o norte da Síria na manhã do dia 6, derrubando edifícios e matando pelo menos 360 pessoas.
Com milhares de feridos, espera-se que o número de mortos, agora na casa dos milhares, aumente à medida que as equipes de resgate continuam a procurar os escombros em cidades e vilas em toda a área.
O terremoto, sentido até da cidade do Cairo, atingiu uma região que foi moldada por mais de uma década de guerra civil na Síria. Ele também foi sentido no Líbano, Jordânia, Israel e Chipre, de acordo com várias reportagens.
Logo após o terremoto, circularam vídeos na internet de animais, como cães e pássaros, apresentando comportamento estranho horas antes do desastre natural acontecer.
Ainda não foi estabelecido um padrão consistente e confiável de comportamento animal anterior a terremotos e a comunidade científica permanece dividida sobre o assunto.
Comportamento dos animais na China e no Japão
O interesse neste tema é particularmente alto em países como China e Japão, onde as previsões de terremotos são feitas baseadas em pequenos eventos sísmicos e comportamentos atípicos em animais, é o que afirma o Serviço Geológico dos Estados Unidos em um blog no seu website.
Em alguns casos nos quais pessoas ouviram os avisos e dormiram fora de casa, essas previsões se mostraram corretas, evitando ferimentos durante um terremoto destrutivo. Porém, este nem sempre é o caso, pois muitos terremotos ocorrem sem nenhum sinal de atividade sísmica ou comportamentos atípicos em animais.
A tragédia causada pelo terremoto inesperado na China evidencia as limitações presentes na nossa compreensão das relações entre o comportamento dos animais e terremotos.
A questão se os animais podem ou não prever terremotos é controversa e continua em aberto. Embora não haja nenhuma prova científica, as evidências anedóticas e os relatos históricos sugerem que pode haver um fundo de verdade por trás disso.
No entanto, algumas evidências recentes em um estudo de 2020 apresenta algumas descobertas promissoras.
Estudos com resultados promissores
Martin Wikelski do Instituto Max Planck de Comportamento Animal na Alemanha conduziu uma investigação sobre o comportamento de animais de fazenda antes dos terremotos. Ele equipou com sensores seis vacas, cinco ovelhas e dois cachorros em uma região propensa a ter terremotos no norte da Itália e monitorou suas atividades por muitos meses.
A pesquisa revelou que os animais mostraram uma mudança de comportamento 20 horas antes de um terremoto devastador. Especificamente, eles estavam 50 por cento mais ativos por um período de mais de 45 minutos comparado à sua atividade normal. Com este dado, os pesquisadores puderam prever, com precisão, sete de oito fortes terremotos.
O fenômeno de animais detectarem terremotos antes de humanos pode ser explicado pelo geólogo Josep L. Kirschvink, que publicou um estudo em 2000 afirmando que alguns animais são capazes de sentir a onda P que viaja mais rápido do que uma onda S. Ondas P são um tipo de terremoto que viaja rapidamente pela terra e pode atravessar líquidos, sólidos, e gases, enquanto as ondas S só podem viajar através de sólidos.
A onda P também é a primeira onda a atingir a área afetada ou um sismógrafo durante um terremoto. Ondas P podem se mover através de gás, líquido, ou materiais sólidos. Ondas S, por outro lado, são as segundas ondas que vem após um terremoto.
Isso levanta a questão de saber se os animais possuem predisposição genética a prever terremotos, semelhante ao comportamento de alerta prévio que demonstraram para outros tipos de perigos. O instinto natural de todos os animais é para se protegerem de predadores ou escapar de um perigo, e é possível que esse instinto tenha evoluído em resposta a terremotos.
O estudo de Wikelski marca a importância de observar o comportamento dos animais em relação à atividade sísmica, levantando questões sobre os mecanismos evolutivos que permitem aos animais sentirem terremotos antes dos humanos. No entanto, uma nova pesquisa é necessária para entender completamente a relação complexa entre animais e terremotos.