Esta notícia faz parte do diário de viagem de Glauco Araújo.
Um detalhe nos chamou a atenção durante nossa trajetória de Maceió até Marabá (PA). Por várias vezes os animais na pista nos obrigaram a desviar a rota, frear bruscamente para evitar um acidente ou parar para apenas admirar um ambiente familiar como a amamentação de filhotes.
Em alguns trechos até havia sinalização sobre a presença de animais da pista, mas muitas vezes a presença animal ficava apenas nas placas. Mas em outras, a presença era múltipla.
Na PI-143, encontramos desde sertanejos pastoreando gado, como até cabras soltas na pista, muitas até se alimentando da vegetação às margens da rodovia, perto de Simplício Mendes (PI).
Na mesma rodovia, demos de cara com um senhor e um animal pendurado pelo rabo em uma de suas mãos, era um tatu. Na hora me lembrei do Fuleco, o mascote da Copa do Mundo no Brasil. Fizemos a manobra e voltamos. O senhor veio correndo, acreditando que tinha conseguido um freguês. Ele queria R$ 30 pelo animal. Eu perguntei se estava vivo, pois havia alguns pequenos sinais de sangue na carcaça, e ele respondeu que estava. Até me ofereceu para carregar, pois estava com as patas amarradas. Recusei, não queria ter a memória tátil do mascote da copa naquela situação.
Seguimos viagem, mas fiquei pensando se deixar aquele senhor com o tatu para trás teria sido a melhor atitude da minha parte. Pensei até em retornar, comprar o animal e soltá-lo mais adiante, longe daquele caçador mercantil. Mas pensei também se aquele bichinho sobreviveria solto em um local desconhecido do habitat dele, machucado, se não viraria presa de outro animal. Ainda penso muito nisso, mas resolvemos seguir viagem.
Na rodovia que chega a Guaribas, vimos uma quantidade infinita de aranhas no acostamento e na pista também. Algumas já atropeladas e outras caminhando tranquilamente de margem a margem.
Chegando a Balsas (MA), demos de cara com uma situação perigosa, mas que logo se tornou contemplativa e engraçada. Estávamos com uma câmera instalada no capô para registrar imagens da Transamazônica e, em uma lombada na estrada, tivemos de esperar calmamente uma galinha e seus dois pintinhos atravessarem. Como chegamos bem perto, a galinha se virou para o carro, para nossas câmeras, para nós, os espectadores, e ficou ali, olhando para nós.
Até aquele momento, era ela e um pintinho. Não demorou muito e entendemos o motivo para ela ficar parada na nossa frente. Ela não queria seus cinco minutos de fama, ela estava esperando outro pintinho, atrasado, atravessar a pista. Rimos demais dessa galinha protetora.
Saindo de Guaribas (PI), vimos uma leitoa amamentando dez filhotes. O calor era tão grande que a mãezona estava acabada, deitada na terra enquanto os filhotes se revezavam, afoitos e mortos pelo sol e esforço alimentar, em abocanhar as tetas da mãe.
Mas além destas situações, dividimos o asfalto ou a terra das rodovias com jegues, cavalos, vacas, codornas e rasantes de carcarás. É a natureza querendo retomar seu espaço, mas o preço parece ser alto. Chegando a Estreito (MA), cruzamos com dois filhotes de tamanduás mortos, atropelados.
Fonte: G1