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Animais no Pantanal ficaram mais dóceis para sobreviver, diz pesquisadora

20 de outubro de 2024
4 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Freepik

A crise hídrica e o volume intenso de incêndios florestais no Pantanal mato-grossense mostram um aumento significativo de ameaças à biodiversidade, aos recursos naturais e ao estilo de vida dos animais e da população humana pantaneira. A professora e pesquisadora da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), Eveline dos Santos Teixeira Baptistella, afirmou que a atual situação do bioma tem gerado consequências graves principalmente aos animais, que estão passando por uma mudança cultural profunda, em um processo chamado de “auto-domesticação”.

“O que é a auto-domesticação? Uma tolerância aumentada à presença humana, um êxodo para áreas urbanas, que, por incrível que pareça, eles [animais] encontram mais água e comida nesses lugares, e às vezes pode ser o desespero. Não tem para onde ir e acaba parando na área urbana. E é aí que eles mudam suas culturas”, destacou Eveline.

De acordo com o “Alerta precoce para mitigar impactos da seca no Pantanal”, realizado pela ArcPlan e pelas WWF Brasil e Japão, publicado em junho deste ano, a diminuição das áreas úmidas está gerando uma grande preocupação quanto ao uso e ocupação do solo, especialmente quando se fala em atividades agropecuárias. “A conversão de áreas naturais por pastagem e agricultura, sobretudo nas cabeceiras [área de planalto da Bacia do Alto Paraguai – BAP], intensifica os processos de erosão do solo e transporte de sedimentos, que gradualmente alteram as características físicas e químicas dos corpos hídricos da planície”, diz trecho do estudo.

Os pesquisadores afirmam também que a conversão em pastagem ou agricultura afeta o solo do Pantanal de tal forma que torna cada vez mais difícil estocar e transportar água, fator este crucial para a regulação do balanço hídrico e para o controle do transporte de sedimentos e poluentes. “Por esse motivo, práticas como a restauração ecológica das áreas úmidas, denominadas como Áreas de Preservação Permanente [APP], é um exemplo de medida urgente para garantir o mínimo da integridade das características dos rios e da qualidade da água na BAP”, pontua o estudo.

A pesquisa salienta ainda que, em 2024, o bioma não teve o período de cheia e, há 6 anos, o Pantanal está resistindo aos frequentes incêndios. “O nível do Rio Paraguai nos cinco primeiros meses de 2024 esteve, em média, 68% abaixo da média esperada para o período, o que indica mais um ano de seca histórica no bioma, com impactos nos estoques pesqueiros, na produtividade e nas atividades de turismo”, dizem os pesquisadores, que destacam ainda que o Pantanal despontou no ranking de perda de água, com redução de cerca de 82% de áreas que permanecem inundadas por 6 meses ou mais.

“Entretanto, os primeiros meses de 2024 apresentam uma situação preocupante: o valor máximo observado atingiu 430 mil hectares de água em abril, e, mais alarmante ainda, a média da área coberta por água de janeiro a abril, que foi de 400 mil hectares, está abaixo da média observada durante a estação seca de anos como em 2023 (440 hectares), o que sinaliza a ausência do comportamento esperado para os meses de cheia”, destacou o estudo.

O Pantanal está “agonizando”

Ainda de acordo com o estudo, a degradação do bioma, devido à construção de barramentos ou de estradas e drenos, associados ao desmatamento e as queimadas, “aproximam o Pantanal de um ponto de não retorno”.

Sobre essa perspectiva, Eveline destacou que estamos presenciando uma situação muito grave e de grande sofrimento para todas as espécies. Ela chega a dizer que o Pantanal está “agonizando” e que a recuperação do bioma é algo que demanda tempo e mudanças profundas, como a criação de políticas públicas e, em especial, o próprio papel da mídia.

“Minha previsão para o futuro é de que teremos uma perda grande de biodiversidade e que o discurso da resiliência não se sustenta. Sem um conjunto integrado de ações de mitigação das secas, não há ‘renascimento’ possível a curto prazo. E isso inclui a mídia. É preciso realmente que a imprensa noticie a gravidade do quadro, sem romantizar as fases de chuva, em que temos alguma recuperação ilusória”, apontou.

A pesquisadora afirmou também que não acredita que as próximas gerações conseguirão vislumbrar o Pantanal da mesma forma que ela e tantas outras pessoas tiveram a oportunidade há mais de 20 anos atrás. “É um momento de muita incerteza. O Pantanal que eu conheci, essas próximas gerações vão conhecer? Vão saber o que é esse Pantanal? Eu acredito que não. Precisamos de tomadas de decisões, com políticas públicas realistas, com incentivo a novos modelos culturais de vida em sociedade, mas isso é uma transformação muito grande. O que a gente tem visto até agora é que não existe uma boa vontade global”, desabafou.

Fonte: RDNews

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