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Animais mortos a tiros em Brumadinho reafirmam o pouco valor que damos ao que não é humano

30 de janeiro de 2019
3 min. de leitura
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Não há como negar que quando se trata de vidas não humanas escolhe-se sempre o caminho mais fácil e mais barato (Foto: Márcia Foletto/Agência O Globo)

Ontem e hoje, vários meios de comunicação do Brasil repercutiram que animais ilhados, presos na lama ou feridos estão sendo executados por agentes a bordo de um helicóptero da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Brumadinho, Minas Gerais. A justificativa é que pouco pode ser feito por esses animais, então resta apenas matá-los.

Realmente não há nenhuma outra solução? Será que os animais afetados pelo rompimento da barragem do Córrego do Feijão, e que já foram mortos a tiros não tinham nenhuma chance de salvação ou de, em último caso, serem eutanasiados? No domingo, o Ministério Público de Minas Gerais cobrou da Vale um plano de resgate de animais. Se os animais estão sendo mortos, isso deixa claro que não há um plano de resgate.

Veterinários, ativistas e outros voluntários que se deslocaram a Brumadinho, percorrendo centenas e até milhares de quilômetros, têm reclamado que o acesso aos animais tem sido não apenas dificultado, mas proibido. Se há pessoas dispostas a ajudar por que não aproveitar essa disponibilidade? Ainda que haja animais em áreas sensíveis ou que o acesso só possa ser permitido por via aérea, isso não significa que todos estejam na mesma situação ou que ninguém possa contribuir de alguma forma.

Desde domingo há reclamações sobre a falta de boa vontade da Vale e do poder público em disponibilizar aeronaves para ajudar no resgate de animais. A primeira reclamação partiu do deputado estadual Noraldino Junior e ontem da ativista Luisa Mell. E eles não são os únicos. Muita gente tem se queixado a respeito. No entanto, para matar os animais a tiros há helicópteros disponíveis.

Não há como negar que quando se trata de vidas não humanas escolhe-se sempre o caminho mais fácil e mais barato. Não há uma cobrança mais enfática de uma atitude por parte da Vale. Prova disso é que muitos jornais divulgaram que o Ministério Público recomendou ou sugeriu que a Vale resgate os animais. Recomendar ou sugerir, embora seja a prerrogativa do MP, não ajuda muito quando falamos de vidas, não de coisas inanimadas como objetos.

Infelizmente ainda vivemos em uma sociedade que qualifica os animais como alimentos, produtos, mão de obra, transporte, entretenimento, meios para um fim. Reconhecemos que eles existem e estão vivos, mas nem por isso atribuímos um valor mais do que superficial às suas vidas. Situações como essa descortinam a nossa hipocrisia. Afinal, é apenas mais uma comprovação de que os tratamos como sujeitos menores, substituíveis e mesmo insignificantes.

Os animais merecem que suas vidas sejam interrompidas a tiros? Os colocamos em situações lamentáveis que surgem em decorrência da nossa presunção, displicência, ganância e egotismo. Ainda assim, achamos justo e misericordioso matá-los a tiros, como se suas vidas não fossem tão importantes para eles como as nossas são importantes para nós. Nem assassinos em série são mortos dessa forma por iniciativa do Estado.

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