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Animais criados em cativeiro desenvolvem mudanças físicas que podem dificultar a sobrevivência na natureza

22 de novembro de 2022
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Foto: Ilustração | Pixabay

Animais criados em cativeiro experimentam mudanças físicas e comportamentais significativas que podem prejudicar suas chances de sobrevivência depois de serem soltos na natureza. A descoberta, resultado de uma ampla revisão de pesquisa da Universidade Nacional Australiana, mostra que “ambientes cativos alteram drasticamente as pressões de seleção sobre os animais”, com diferenças documentadas em muitas espécies.

Dejan Stojanovic, coautor do estudo, disse que “exemplos aparentemente isolados de grandes mudanças nos fenótipos animais” faziam parte de uma tendência que passou despercebida por décadas. “É uma coisa global que afeta tudo, desde borboletas até elefantes”, afirmou ao jornal inglês The Guardian.

A revisão, que reuniu pesquisas internacionais e australianas já existentes, traz vários exemplos. Leões criados em cativeiro e outros carnívoros, por exemplo, têm diferentes formas de ossos do crânio e força de mordida mais fraca, provavelmente devido a uma dieta diferenciada. Em cativeiro, as borboletas-monarca, cujas migrações normalmente se estendem por milhares de quilômetros, perdem sua tendência migratória, são incapazes de se orientar para o sul e têm formato de asa diferente. Um dos exemplos australianos inclui o papagaio-de-barriga-laranja criticamente ameaçado, cuja forma da asa mudou em cativeiro.

Stojanovic, que estuda a biologia da conservação e reprodução dos papagaios-de-barriga-laranja há anos, disse que as aves em cativeiro tinham asas menos pontiagudas e mais curtas. “Essa forma é menos adequada para a migração.” Agora, ele e seus colaboradores estão investigando se as mudanças na forma das asas estão ligadas às altas taxas de mortalidade observadas quando os psitacídeos migram entre a Tasmânia e o continente australiano.

“Entre 1999 e 2009, 423 papagaios-de-barriga-laranja foram soltos em Birch’s Inlet, perto de Strahan, no oeste da Tasmânia, e todos eles morreram”, afirma o autor. “Nos anos subsequentes, as abordagens foram adaptadas e … aqui estamos com a maior população selvagem de papagaios-de-barriga-laranja que existiu em muito tempo – com uma clara contribuição positiva das populações em cativeiro”. Os autores do artigo apontaram para o sucesso do “gerenciamento adaptativo”, um processo que Stojanovic descreveu como “aprender fazendo, onde todo esforço deve ser tratado como um miniexperimento com um objetivo de longo prazo em mente”.

Ben Pitcher, biólogo comportamental da Taronga Conservation Society que não esteve envolvido na revisão, disse que isso reflete as discussões já em andamento no campo da criação para fins de conservação. “Se pudéssemos evitar ter que fazer um programa de criação em primeiro lugar, nós o faríamos. O método mais bem-sucedido e econômico é fazer uma intervenção precoce para que uma espécie nunca chegue ao ponto em que precisa ser reintroduzida”, explicou ao jornal.

Foto: Ilustração | Freepik

Para Marissa Parrott, bióloga reprodutiva do Zoológico de Victoria, a criação em cativeiro é uma ferramenta essencial. “A União Internacional para a Conservação da Natureza recomenda que mais de 2.000 espécies em todo o mundo precisarão de programas de reprodução em cativeiro para não serem extintas”, disse ela, acrescentando que os avanços científicos nas últimas décadas resultaram em esforços de conservação que se aproximaram melhor do ambiente selvagem e da biologia de uma espécie. Como exemplo, uma pesquisa da qual ela foi coautora descobriu que demônios da Tasmânia selvagens e cativos tinham padrões semelhantes de desgaste dentário, embora em taxas ligeiramente diferentes.

“O que temos que lembrar quando soltamos esses animais é que há uma razão para eles não estarem no meio ambiente. O desafio número 1 para qualquer programa de reintrodução é lidar com os principais processos ameaçadores na natureza”, afirma Ben Pitcher, citando predadores invasores como exemplo.

Eric Woehler, organizador da BirdLife Tasmania, relata que a perda e a fragmentação do habitat foram os principais fatores da perda de biodiversidade na Austrália por quase meio século. “Está bem claro que, como estamos enfrentando uma crise de extinção cada vez maior, precisamos criar novos métodos para proteger o que nos resta. Os programas de reprodução em cativeiro devem ser um componente de um repertório de métodos que temos disponíveis para nós.”

Fonte: Um Só Planeta

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