Com o enchimento do lago da usina hidrelétrica “Serra do Facão”, no sudeste de Goiás, muitos animais que habitavam a região precisam, agora, de ajuda para sobreviver. Equipes de resgate percorrem, em média, 40 quilômetros por dia à procura dos bichos.
Toda a área que está sendo alagada precisa ser vistoriada. Basta andar alguns minutos para avistar, no topo de uma árvore, quase toda submersa, um ouriço-cacheiro. Na hora da captura é preciso ser rápido e tomar cuidado para não ferir o animal.
“Você tem que ter um cuidado que é o seguinte: ele acha que a gente quer atacá-lo para matar e você está tentando salvar. Então você tem que ter experiência para pegá-lo, porque ele não tem entendimento”, explica Cícero Barbosa.
Alguns ficam tão escondidos que só quem tem mais experiência consegue ver de longe. A cobra enrolada no galho das árvores não passou despercebida e também foi resgatada.
A prioridade das buscas é, especialmente, nas ilhotas que se formam quando a água sobe. Em uma delas, a equipe tenta resgatar três micos-estrela. Eles são pequenos, mas dão muito trabalho. Para conseguir pegar o animal é preciso cercar a área, cortar galhos das árvores e ser ágil.
“A maioria dos primatas são animais difíceis de se capturar. Quando a gente se aproxima, eles tendem a se afastar mesmo, para tentar sobreviver, achando que a gente está ali para atacá-los”, afirma o biólogo.
O nível da água subiu trinta metros em pouco menos de um mês e aumenta cerca de 80 centímetros por dia. Hoje o resgate é a única alternativa. “Teve um primeiro momento, onde foi feito o acompanhamento da fauna, durante o desmate. Durante as operações de desmatamento o objetivo era, justamente, afugentar os animais da área onde ia se formar o reservatório. Esta segunda etapa é um resgate em que são capturados os animais acuados e ilhados em locais em que não poderão sair e de onde os filhotes não têm condições de se locomover e de sobreviver sozinhos”, diz Guilherme Bretas, agrônomo.
Cerca de 200 animais são capturados todos os dias e encaminhados aos Centros de Triagem de Animais Silvestres. No local, ovos, filhotes e feridos recebem cuidados especiais. A intenção é devolver todos à natureza.
“A gente não faz a soltura no mesmo dia, a gente espera até que ele baixe o nível de estresse. O animal é alimentado e é feita a ectoscopia, o exame clínico para ver se o bicho está bem. Se está bem, é feita a soltura. Normalmente é 24, 48 horas, no máximo, para estes animais retornarem à natureza”, garante a bióloga Maria Beatriz Ferreira.
Já foram resgatados mais de cinco mil animais. A usina começou a ser construída em 2007 e deve ficar pronta no fim do ano que vem. A geração de energia prevista é de 210 megawatts, suficiente para uma cidade de um milhão e duzentos mil habitantes.
Fonte: Globo Rural
Nota da Redação: Com estas informações, fica clara a agressão brutal realizada contra os animais: a invasão de seu habitat por interesses especistas, alagamento e desmatamento deixando os espécimes assustados e, obviamente, acuados. Se mais de cinco mil animais já foram resgatados, fica fácil imaginar que o local era abundantemente povoado por diversas espécies que, a partir de agora, estarão sem habitat. É desta maneira que se cria o círculo vicioso de animais que vão para centros urbanos e aparecem em casas, praças, ruas, árvores etc. É provável que, além dos que foram ou estão sendo salvos, vários antigos habitantes do local tenham morrido. A ação de resgatar os animais em perigo é o mínimo que se pode fazer, no entanto, trata-se, apenas de um paliativo para um problema grave que poderia ter sido evitado.