Seres humanos transmitem cada vez mais doenças para animais. A informação é de um estudo publicado na última terça-feira (22/03) na revista Ecology Letters, onde cientistas descreveram quase 100 casos de transmissão de doenças que “saltaram” de seres humanos para animais. Praticamente metade dos episódios ocorreu em ambientes de cativeiro, como zoológicos.
A equipe internacional de especialistas liderada por cientistas da Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos, concluiu que os agentes infecciosos podem ser “devolvidos” pelos humanos aos animais com maior frequência do se imaginava.
Ao procurarem essas ocorrências na literatura científica, os autores da pesquisa notaram que mais de 50% daquelas que encontraram envolveram a transmissão de uma pessoa para um primata não humano. Isso não surpreende, pois o “salto” de doenças entre hospedeiros com maior grau de parentesco costuma ser mais fácil.
Além do mais, os pesquisadores acreditam que animais ameaçados de extinção são geralmente mais monitorados. “Isso apoia a ideia de que é mais provável que detectemos patógenos nos lugares em que passamos muito tempo e esforço procurando, com um número desproporcional de estudos focados em animais carismáticos em zoológicos ou próximos a humanos”, explica Anna Fagre, veterinária e virologista da Universidade Estadual do Colorado e principal autora do estudo, em comunicado.
Segundo a especialista, esse pouco conhecimento coloca em dúvida quais eventos de transmissão entre espécies podemos estar deixando de acompanhar e o que isso poderia significar para a saúde pública e a conservação dos animais infectados.
Em termos de tecnologia, o estudo mostra que os pesquisadores estão no caminho certo: a inteligência artificial pode ser usada para prever quais espécies estão em risco de contrair essas doenças. Ao compararem animais infectados pelo vírus Sars-CoV-2 com previsões do início da pandemia de Covid-19, os autores viram que as estimativas puderam ser feitas corretamente com mais frequência.
“É bastante satisfatório ver que o sequenciamento de genomas de animais e a compreensão de seus sistemas imunológicos valeu a pena”, afirma Colin Carlson, um dos autores. “A pandemia deu aos cientistas a chance de testar algumas ferramentas preditivas, e acontece que estamos mais preparados do que pensávamos”.
Embora os pesquisadores acreditem que possam prever o “salto” entre espécies, o maior problema agora seria que ainda sabemos pouco sobre as doenças na vida selvagem. Para Carlton, é difícil medir a gravidade do retorno de um agente infeccioso na saúde humana ou na conservação dos animais, sobretudo quando não se trata do Sars-CoV-2, que está sendo observado “mais de perto do que qualquer outro vírus na Terra”.