Por Patricia Tai (da Redação)
O gelo da região antártica está derretendo tão rápido que a estabilidade de todo o continente pode estar em risco até 2100, alertam os cientistas.
O colapso disseminado das plataformas de gelo da Antártida – extensões de gelo flutuante que se projetam para dentro do mar – pode pavimentar o caminho para elevações dramáticas no nível do oceano.
Uma nova pesquisa prevê uma duplicação do derretimento da superfície das plataformas até 2050. Até o fim do século, a taxa de degelo poderá ultrapassar o ponto associado ao colapso. Se isso ocorrer, uma barreira natural do fluxo de gelo das geleiras e camadas de terra cobertas de gelo para os oceanos será removida.
O cientista líder do estudo, Dr. Luke Trusel, da Woods Hole Oceanographic Institution em Massachusetts (EUA), disse ao The Guardian: “Nossos resultados ilustram o quanto o derretimento acelerado na Antártida pode intensificar o aquecimento global”.
“Isso já aconteceu em lugares como a Península Antártica onde nós observamos o aquecimento e colapsos abruptos de plataformas de gelo nas últimas décadas. Nossas projeções mostram que níveis similares de degelo podem ocorrer por toda a região costeira da Antártida até o fim deste século, aumentando preocupações sobre a estabilidade futura das plataformas”.
O estudo, publicado no jornal Nature Geoscience, foi baseado em observações de satélite do derretimento das superfícies de gelo e em simulações climáticas até o ano 2100.
Ele mostra que se as emissões de gás de efeito estufa continuarem nos níveis atuais, as plataformas de gelo da Antártida deverão estar em risco de colapso em menos de 100 anos.
Por outro lado, se houver um cenário de redução de emissões, o degelo será trazido a uma situação de controle após 2050.
A Dra. Karen Frey, da Universidade de Clark em Massachusetts e co-autora do estudo, diz: “Os dados apresentados neste estudo revelam claramente que a política climática, assim como a trajetória das emissões de gás de efeito estufa no decorrer do século, terão enormes consequências sobre o destino futuro do derretimento das plataformas de gelo da Antártida, o que devemos considerar quando acessamos a sua estabilidade a longo prazo e as contribuições indiretas para o aumento do nível dos oceanos”.
Consequências para os animais
A notícia é deveras preocupante, pois se o degelo acelerado levar ao desaparecimento próximo de todo um continente – e um continente com todas as peculiaridades que tem a Antártida – isso representa uma catástrofe não só para a humanidade como um todo, mas também os animais, não só da região, como também do planeta.
Espécies nativas, das que apenas conseguem sobreviver em geleiras, como os ursos polares, focas e pinguins típicos do local, desaparecerão completamente. As outras espécies animais – nas quais pode-se incluir o homem – sofrerão em escala a elevação da temperatura global a um nível insuportável e sem precedentes.
Já estamos assistindo a esse movimento. Pouca gente consegue fazer a conexão, ao se deparar com uma foto que mostra bois que morreram secos no deserto do nordeste brasileiro, com o derretimento das geleiras. Até a desordem do clima, que pode ser percebida atualmente por qualquer indivíduo e, diga-se de passagem, em qualquer lugar do mundo, bem como o calor extremo que parece prevalecer, enquanto se sente a falta de chuvas, tem a ver em grande parte também com esse fato.
Mas esse fato não é algo casual, e sim provocado pela ação humana – e somente por ela. A queima de combustíveis fósseis, que só cresce a cada dia, e o desmatamento para a criação de pastagens para criação de bovinos, que por sua vez irão aumentar a emissão de gás carbônico e consequentemente de poluentes, são, pode-se dizer, os dois fatores que mais contribuem para a emissão de gases de efeito estufa e, por resultado, o degelo das calotas polares e o aquecimento global.
Nos últimos anos, imagens chocantes têm causado impacto nos noticiários, como a do urso polar que foi encontrado morto de fome na Noruega, conforme publicado pela ANDA em 2013.
Na ocasião, o pesquisador Ian Stirling, da Polar Bears International, e que vem estudando os ursos polares da região nos últimos 40 anos, afirmou que “a forma como o urso fora encontrado, deitado de barriga para baixo, aponta que ele estava bastante faminto e apenas soltou-se para o chão quando morreu”. Também não havia gordura alguma no animal, que fora reduzido a pouco mais que pele e ossos.
Segundo Stirling, os ursos usam o gelo polar para poderem caçar, e a falta do gelo provavelmente forçou o animal a seguir mais adiante – e ele viajou a distância considerável de 240 km, em busca de comida.
Prova de que esses animais estejam percorrendo distâncias extensas é a repetição de notícias informando que cada vez mais ursos polares famintos estão sendo encontrados em regiões residenciais de cidades do Canadá, procurando por comida.
Em 2011, uma família de ursos polares foi encontrada revirando latas de lixo, também no Canadá. Na foto abaixo, um deles está sendo carregado por veículo para ser transportado de helicóptero como objetos, para locais chamados “prisões”.
Os que ficam nas prisões sofrem intimidação, sendo confinados, torturados e privados de comida e água para que aprendam – dessa maneira – a não retornarem mais para as cidades.
Outros não chegam a tal ponto, sendo antes alvejados e mortos por moradores e autoridades assim que entram no perímetro da cidade.
Em 2013, a ANDA publicou notícias sobre a diminuição das populações de pinguins na Antártida, e da ameaça sofrida pelas aves do continente, como o albatroz.
No ano seguinte, foi divulgado pela ANDA um vídeo comovente que mostrava ursos polares nadando grandes distâncias em busca do gelo
e também uma matéria tratava de um urso que foi filmado tendo dificuldades em andar sobre o gelo que derretia.
Com a morte de inúmeros ursos polares adultos por conta da falta de alimento, muitos filhotes ficam órfãos, como este que foi resgatado sozinho e faminto, ainda em 2014.
Neste ano, uma imagem ainda mais perturbadora mostrava uma ursa raquítica que mal conseguia se manter de pé, na ilha de Svalbard. A imagem é daquelas que falam por si.
A falta de opções tem levado os ursos polares a buscarem outras fontes de alimento. Uma reportagem recente da ANDA abordou o fato dos ursos polares estarem se alimentando de golfinhos.
Se essa notícia choca, é interessante relembrar uma ainda mais antiga, publicada em 2011, que falava sobre a prática já do canibalismo entre ursos polares, em sinal de desespero pela falta de alimentos.
Além dos ursos polares, a espécie cuja ameaça de extinção apresenta maior evidência devido ao seu porte, e dos pinguins, devido ao seu número, a Antártida é habitat de inúmeras espécies, como as focas, elefantes marinhos, e albatrozes já mencionados anteriormente, entre muitas outras, marinhas e aéreas.
A culpa é de todos nós
Se registros como os das fotos e vídeos trazidos pelas reportagens citadas acima já vêm sendo divulgados há anos, pouco se sabe sobre efetivas políticas mundiais adotadas por países e acordos entre diversas nações que tenham sido firmados para reduzir esse processo. Até mesmo em se tratando de países, individualmente, sequer parece que algo esteja sendo realizado para eliminar os fatores que ocasionam o degelo polar.
Quando se analisa quem é o responsável, de fato, por esse desastre – o desastre que está levando um continente inteiro a desaparecer – pode ser tentador à grande maioria das pessoas pensar que a responsabilidade deva ser atribuída aos governos e, em segundo lugar, às empresas que emitem poluentes.
Mas a responsabilidade, e o poder maior para mudar isso, está nas mãos de cada indivíduo que hoje usufrui da vida no planeta, e a mudança que poderá estancar esse desastre de maneira mais efetiva é de ordem cultural.
Quando aqueles que ainda se alimentam de carne – a maioria – colocam um pedaço de bife em seus pratos, também estão contribuindo para a morte dos ursos polares, pois esse bife é parte do corpo de um bovino, que foi reproduzido e criado para consumo humano, cuja pastagem – se houve – foi um dia uma floresta, e que emitiu gás carbônico para a atmosfera. A produção de um quilo desta carne exigiu o consumo de 14 mil litros de água. A alimentação desse animal foi à base de ração feita de grãos (detalhe: transgênicos), que foram cultivados em locais onde antes havia árvores, que neutralizavam as emissões. O mesmo vale para os laticínios.
Além do consumo de carne e derivados de animais, o consumismo exacerbado das sociedades modernas também causa danos incalculáveis.
Cada vez que optamos por pegar o carro para qualquer atividade para a qual poderíamos nos utilizar de outro meio, estamos queimando combustíveis fósseis e assim também fazendo a nossa parte para provocar as mortes de animais na Antártida e o iminente desaparecimento do continente. Da mesma forma cada cigarro que acendemos, cada bituca que jogamos no chão. Enfim, pode-se dizer que toda vez que consumimos qualquer coisa industrializada e além de nossas necessidades básicas, estamos igualmente colaborando para que mais tristes imagens como as que vimos acima continuem se reproduzindo, até que não haja mais animais para serem nelas retratados.
O pior de tudo, se é que assim se pode dizer, é que, ao aniquilar o planeta como estamos fazendo, atentamos não só contra a vida do urso polar, do pinguim, da foca, do golfinho e de todos os outros, e não só contra a existência de um continente. Estamos atentando contra a nossa própria vida, e as provas disso não têm demorado para se manifestar, vide as temperaturas mais altas de toda a história, assim como a falta de chuvas e de água. Além disso, a elevação do nível dos oceanos, com o degelo polar, levará a inúmeros cataclismas e a inundação de regiões litorâneas em todo o mundo, em um desequilíbrio que será difícil de ser revertido.
Eliminar o consumo de carne e laticínios, reduzir o consumo em geral (afinal, para que tantos smartphones? Tantas roupas? Pra que tanto consumo de energia?), repensar e reduzir a utilização de plásticos, embalagens e todo item cuja produção envolva o petróleo, e diminuir o uso de combustíveis, são mudanças de atitudes fáceis de serem implementadas, e absolutamente necessárias.
Cabe a cada um de nós fazer a escolha em cada ação que praticamos no dia a dia, e tentar convencer outros a fazerem o mesmo, lembrando que, infelizmente, não nos resta muito tempo.