Redação ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais
Ursos pardos amordaçados e presos a uma trela são obrigados a andar de bicicleta e passear em círculos em terríveis shows de circo acompanhados por crianças acompanhadas de seus pais.
Caso os animais façam algo errado, adestradores os espancam com uma vara longa a fim de obrigá-lo a executar os truques previstos nos espetáculos. Um majestoso urso de 200 quilos, vestido com um colete de lantejoulas vermelhas e douradas, é forçado a equilibrar-se desconfortavelmente em um barril, antes de ser conduzido pelas patas dianteiras e ter que caminhar cuidadosamente em uma escada de uma plataforma elevada.
As cenas antinaturais parecem reminiscências de um show realizado em uma feira medieval, mas ocorrem na América moderna.
Estes ursos foram vistos recentemente executando truques no Shrine Circus em Lincoln, Nebraska (EUA).
As imagens perturbadoras, capturadas em uma investigação conjunta do DailyMail e da PETA revelam a Castle Hall Performing Bears, uma empresa que explora ursos para entretenimento em todo o Ocidente.
O James Cristy Cole Circus, que está por trás do evento, produz o show para a Shriners International, que usa o cruel espetáculo com ursos para arrecadar dinheiro para hospitais infantis.
Grupos de direitos animais ficaram horrorizados com o show de ursos e acreditam que, se as crianças doentes beneficiadas pelo circo soubessem da crueldade por trás disso, elas também teriam a mesma reação.
O show – parte de um evento cujo bilhete custa US$ 17 e que também inclui a exploração de elefantes e tigres – inicia com dois ursos pardos sendo levados para a arena do circo na parte de trás de um carro ao lado dos adestradores James Hall, 65 e sua esposa Tepa, 55.
Além de andarem de bicicleta, se equilibrarem em um barril e fazer paradas de mão em uma escada, os ursos também jogam uma bola de basquete, se equilibram em bolas de praia gigantes, sentam-se em cadeiras de braço, ficam na ponta do pé, aplaudem e dançam – todos esses são truques humanos projetados para entreter multidões.
As centenas de espectadores em Lincoln sorriram e aplaudiram conforme os ursos seguiam os comandos de seus instrutores – eventualmente mostrando sua aprovação com aplausos sincronizados no final da performance.
Porém, longe dos sorrisos, está a realidade sinistra das vidas miseráveis dos animais forçados a realizar truques e que são mantidos em estreitas jaulas durante a maior parte do dia.
De acordo com um especialista em ursos e em comportamento animal, a vida em um circo é a pior existência possível para esses animais. Jason Pratte analisou as imagens do circo e disse: “Esses shows com ursos não querem que as pessoas vejam como os ursos são mantidos”.
“Na melhor das hipóteses, os recintos dos ursos são pequenos, eles geralmente têm um piso duro, não têm exposição a elementos naturais. Ursos adoram a terra, cavar, são altamente interativos com seu ambiente. Com um ambiente estéril e as viagens, não podem expressar sua série de comportamentos genéticos normais”, esclareceu.
Pratte diz que os truques que os ursos executam, como andar em suas patas dianteiras ou mesmo sentar-se em cadeiras, causará trauma em longo prazo sobre nervos, espinhas e os músculos dos animais.
Ao serem puxados por uma corrente, eles também podem ter lesões físicas “agudas e crônicas” nas orelhas e no pescoço.
“Esses tipos de sacudidas constantes possuem um impacto sobre as vértebras cervicais, o sistema nervoso, os ligamentos, é possível ver a dor permanente, possíveis problemas de artrite, tensão e estresse. Esses são os efeitos físicos de serem forçados a ficar em posições não naturais”, explica.
“É antinatural para eles, que são forçados a se contorcer nessas posições, é doloroso e desconfortável. Entretanto, se eles se recusam a fazer isso, são obrigados por adestradores que carregam um chicote ou usam uma focinheira para arrastá-los”, acrescenta.
Pratte, que é um especialista em comportamento e bem-estar animal independente com 25 anos de experiência, trabalhou com todas as oito espécies de ursos e é consultado regularmente pela PETA sobre questões de bem-estar animal.
Segundo ele, os ursos vivem um estilo de vida tranquilo e solitário longe de luzes brilhantes e de barulhos.
“Os treinadores estão dando voltas em motocicletas, há fumaça na sala, o público está torcendo, há a presença de elefantes e grandes carnívoros que naturalmente seriam territoriais, não há nada sobre essa situação que coloca qualquer animal com um bem-estar psicológico em longo prazo. Isso me revolta e me entristece muito. Esta é uma questão humana, truques humanos para o benefício humano, é exploração para ganhar dinheiro, não há nada sobre isso que é benéfico para os ursos”, diz.
O James Cristy Cole Circus, que produz o show para o Shriners, geralmente fornece 16 atos com muitos animais em um programa de duas horas.
Uma hora antes de cada show, os pais e as crianças podem entrar na arena para passear com pôneis e elefantes.
O Shriners International é uma sociedade que possui em torno de 350 mil membros de 195 templos nos EUA, Canadá, Europa, Austrália e em várias outras nações. A organização é mais conhecida pelos hospitais infantis que administra.
A PETA se ofereceu para providenciar a transferência dos ursos para um santuário e pediu ao Shriners International e ao James Cristy Cole Circus que não explorassem animais no futuro.
“Arrastar ursos sensíveis de cidade em cidade e para um show de circo deveria ter acabado na Idade das Trevas”, disse Brittany Peet, diretora da Fundação PETA para a aplicação da lei de animais em cativeiro.
“É tão arcaico vestir esses animais enormes, inteligentes e sociais com fantasias e colocar correntes nos seus pescoços e forçá-los a fazer truques confusos como andar em suas patas dianteiras e de bicicleta. Estes são animais, que na natureza possuem centenas de quilômetros, são ativos por até 18 horas por dia fazendo coisas como caminhar, explorar, cavar, procurar alimentos. Em circos como o Castle’s, eles são confinados em minúsculas jaulas de transporte e mal podem se virar”, adicionou.
Peet diz que a PETA recebeu imagens semelhantes de outro show com ursos da empresa, no qual uma das urnas urinou sobre si mesma duas vezes, exibindo sinais claros de angústia.
“Quando a ursa urina sobre si mesma, isso corresponde ao estímulo de ser forçada a andar sobre as mãos – ela urinou devido à angústia. Nesses vídeos ouve-se muita música e uma multidão barulhenta e essas são coisas que são inerentemente aflitivas e assustadoras para um urso”, explicou.
A PETA acredita que a única maneira de acabar com esses shows perturbadores é incentivar as pessoas a não financiá-los.
“Se as pessoas continuarem comprando ingressos para esses espetáculos cruéis, animais como estes continuarão sendo maltratados”, afirma Peet, acrescentando que acredita que a opinião pública finalmente está se transformando.
“Isso se reflete no fato de que o circo Ringing Brothers está fechando, o SeaWorld encerrar os shows de orcas e o Aquário Nacional enviar golfinhos para o primeiro santuário à beira-mar. As pessoas não querem mais ver os animais explorados desta maneira”, complementa.
Na página do Facebook do James Cristy Cole Circus, há mensagens que condenam o uso de ursos nos shows.
Rey Munique escreveu: “Este equipamento, obviamente, treina esses animais com crueldade … uma ursa estava tão estressada em um show que urinou em si mesma! Esse comportamento é sinônimo de ABUSO! A consciência está sendo difundida sobre esta farsa, exploradora. Vergonha de vocês … animais não são ferramentas para serem abusados e usados para diversão!”.
Outro usuário, Jaime Perez, escreveu: ‘Vocês precisam fechar! Seus animais vivem com medo e terror. Façam a coisa certa e enviem todos os animais para um bom santuário. Há alternativas melhores do que usar animais vivos!!”.