EnglishEspañolPortuguês

ESTUDOS

Análises de árvores, gelo e fósseis mostram que 2024 é o ano mais quente da história da humanidade

Paleoclimatologia estuda vestígios do ambiente pré-histórico para revelar padrões de mudanças climáticas ao longo de milhões de anos

31 de dezembro de 2024
Everton Lopes Batista
7 min. de leitura
A-
A+
Registro de dia de calor extremo na capital paulista, em setembro. Ondas de calor se multiplicaram no mundo todo em 2024 – Rubens Cavallari – 12.set.24/Folhapress

Falta muito pouco para que 2024 seja confirmado como o sucessor de 2023 no posto do ano mais quente dos últimos 125 mil anos. Após a divulgação dos dados de temperatura média global do planeta para o mês de novembro, cientistas do observatório Copernicus, ligado à União Europeia, dizem ser impossível que o recorde não seja quebrado pelo ano atual.

Em 2023, dados da instituição indicam que a temperatura média global foi de 14,98°C, cerca de 0,17°C acima do recorde anterior, que havia sido alcançado em 2016.

Estimativas como a que aponta que estamos no ano mais quente dentro dos últimos 125 mil anos são possíveis graças à paleoclimatologia, ciência que tem feito avanços cruciais para entender o comportamento do clima do passado.

Com mais informações sobre as tendências climáticas de tempos remotos, os modelos matemáticos são beneficiados, passando a fazer previsões mais precisas de como será o clima no futuro.

A paleoclimatologia preenche uma grande lacuna de conhecimento sobre tempos em que era impossível fazer uma medição de temperatura ou índices de chuvas, por exemplo. Medições diretas da temperatura da superfície do planeta começam a surgir em meados do século 19 no mundo; no Brasil, os dados de melhor qualidade aparecem nos anos 1960.

Com o uso de vestígios do passado —chamados pelos cientistas de proxies— pesquisadores podem reconstruir o ambiente de um determinado período do planeta e, a partir desse conhecimento, inferir como era o clima da época.

Esses arquivos naturais, registros indiretos do clima, podem estar presentes nas árvores e outras plantas vivas ou fossilizadas, fósseis de animais, geleiras, sedimentos depositados no fundo de rios, lagos e oceanos e até nos espeleotemas, que são as estalagmites e estalactites formadas pelo gotejamento da água que se infiltra nas cavernas.

Segundo o geólogo João Cerqueira, doutorando no Programa de Pós-Graduação de Geociências e Meio Ambiente da Unesp (Universidade Estadual Paulista), alguns dos vestígios mais importantes para os paleoclimatologistas são os foraminíferos, organismos unicelulares que desenvolvem uma carapaça de carbonato de cálcio para proteção.

Geralmente, esses seres são muito pequenos, com menos de 1 milímetro de comprimento, e seus microfósseis repousam no fundo dos oceanos.

O carbonato de cálcio é um elemento chave nesse processo; é na análise da composição dos isótopos de oxigênio e carbono presentes nessas estruturas que estão informações preciosas.

Isótopos são átomos de um mesmo elemento químico que têm diferentes quantidades de nêutrons no núcleo, o que confere a eles diferentes massas atômicas e comportamentos característicos sob determinadas condições.

Já os isótopos de carbono estão relacionados à vegetação da região. A composição dos isótopos do solo pode indicar qual o caminho usado pelas plantas para fazer a fotossíntese e, consequentemente, revelar se a vegetação do local pertencia ao clima tropical (maior quantidade de carbono-13) ou temperado (menor quantidade de carbono-13).

Mas nenhum tipo de análise isolado é suficiente para definir o clima do passado. Além do estudo dos isótopos de oxigênio e carbono, os cientistas também examinam outros registros, como os fósseis de animais.

    Você viu?

    Ir para o topo