Os orangotangos são muito mais diversos geneticamente do que se pensava, uma descoberta que pode ajudar em sua sobrevivência, afirmam cientistas que acabam de concluir o primeiro exame de DNA da espécie de macaco em risco crítico de extinção.
O estudo, publicado na edição desta quinta-feira da revista científica Nature, também revela que o símio – conhecido como “o homem da floresta” – quase não evoluiu nos últimos 15 milhões de anos, em forte contraste com o ”Homo sapiens” e seu primo mais próximo, o chimpanzé.
Antes amplamente distribuídos pelo sudeste da Ásia, apenas duas populações do símio inteligente e escalador de árvores vivem na natureza, ambas em ilhas da Indonésia.
De 40 mil a 50 mil indivíduos vivem em Bornéu, enquanto em Sumatra o desmatamento e a caça fizeram reduzir uma comunidade que antes chegava a ter 7.000 indivíduos, segundo a União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).
Segundo o estudo, estes dois grupos se separaram geneticamente por volta de 400 mil anos atrás, consideravelmente depois do que se pensava, e hoje constituem espécies separadas, embora com relacionamento próximo: o ”Pongo abelii” (Sumatra) e o ”Pongo pygmaeus (Bornéu)”.
Um consórcio internacional de mais de 30 cientistas decodificou o sequenciamento completo do genoma de uma fêmea de orangotango de Sumatra, chamada Susie.
Eles, então, completaram as sequências de outros 10 adultos, cinco de cada população.
“Nós descobrimos que o orangotango médio é mais diverso, geneticamente falando, do que o homem médio”, relatou o chefe das pesquisas, Devin Locke, geneticista evolutivo da Universidade de Washington no Missouri.
Os genomas de humanos e orangotangos se justapõem em 97%, enquanto que o de humanos e chimpanzés, em 99%, afirmou.
Mas a grande surpresa foi que a população de Sumatra, consideravelmente menor, demonstrou ter mais variações no DNA do que seu primo comum de Bornéu.
Embora perplexos, os cientistas disseram que isto pode aumentar as chances de sobrevivência da espécie.
“Sua variação genética é uma boa notícia porque, a longo prazo, permite que mantenham uma população saudável” e ajudará a dar forma aos esforços de conservação, explica o co-autor do estudo, Jeffrey Rogers, professor do Baylor College de Medicina.
No fim das contas, no entanto, o destino deste grande símio – cujo comportamento e as expressões lânguidas às vezes parecem assustadoramente humanas – dependerá da gestão que fizermos da natureza, afirmou.
“Se a floresta desaparecer, então a variação genética não importará. O habitat é absolutamente essencial”, explicou.
“Se as coisas continuarem como estão nos próximos 30 anos, não teremos orangotangos na selva”, advertiu.
Os cientistas também ficaram assombrados pela estabilidade persistente do genoma do orangotango, que parece ter mudado muito pouco desde que se ramificou para um caminho evolutivo separado.
Isto significa que a espécie é geneticamente mais próxima do nosso ancestral comum do qual se supõe que todos os grandes símios tenham se originado, de 14 a 16 milhões de anos atrás.
Uma pista possível para a falta de mudanças estruturais no DNA do orangotango é a relativa ausência, na comparação com os humanos, de marcadores genéticos conhecidos como “Alu”.
Estes curtos segmentos de DNA compõem cerca de 10% do genoma humano – por volta de 5.000 – e podem aparecer em lugares imprevisíveis para criar novas mutações, algumas das quais persistem.
“No genoma do orangotango, nós encontramos apenas 250 novas cópias de Alu em um período de tempo de 15 milhões de anos”, disse Locke.
Os orangotangos são os únicos grandes símios a viver principalmente em árvores. Na natureza, eles podem viver de 35 a 45 anos e em cativeiro, mais 10 anos. As gêmeas dão à luz, em média, a cada oito anos, o maior intervalo entre nascimentos entre os mamíferos.
Uma pesquisa anterior demonstrou que os grandes símios não são apenas adeptos de fazer e usar ferramentas, mas são capazes de ter aprendizado cultural, o que antes se pensava ser uma característica exclusivamente humana.
Fonte: Terra