Se a timeline do Facebook fosse setorizada, um dos espaços mais movimentados seria o dos animais abandonados e maltratados. Diariamente, milhares de fotos de bichos nessas condições aparecem na rede social. A maioria delas, entretanto, é de cachorros. A observação foi feita pelas amigas Marcela Lins, 31, e Moniky Toscano, 27. Unidas por um ideal comum, o cuidado com a vida dos gatos, elas perceberam que os felinos jogados no meio da rua necessitam de uma mão a mais para receber tratamento e encontrar um novo lar. E que existiam poucas mãos dispostas a se entrelaçarem nessa luta, fruto da mística e do preconceito que ainda envolvem esses animais domésticos. Por isso, decidiram criar o Lar do Ron-Ron, uma organização não governamental (ONG) dedicada integralmente aos gatos, e esperam solidariedade para lançar o projeto.
A supervisora de recursos humanos Marcela e a advogada Moniky se conheceram enquanto faziam o resgate de gatos abandonados no meio da rua. Além de se encontrarem, acharam também um problema. “As pessoas ainda têm muito preconceito contra o gato, acreditam que ele pode trazer azar, que é mais arisco e até que não gosta do tutor, tem apenas interesse. É perceptível a diferença de mobilização de uma foto de gato e de um cachorro nas redes sociais”, afirmou Marcela Lins. “Já fizemos até uma rifa uma vez, que demorou três meses para arrecadar metade do dinheiro que uma amiga nossa conseguiu pedindo doações para uma cadela doente”, exemplificou Moniky.
O trabalho delas começou voluntariamente há cerca de 2 anos. “Precisamos juntar cerca de R$ 1 mil. Nos baseamos em um trabalho realizado em São Paulo que já conseguiu adoção para mais de 400 gatos”, contou Moniky. Elas pretendem iniciar as atividades do Lar do Ron-Ron no começo de 2014.
Beira Rio
A discriminação também ronda o trabalho do grupo Gatinhos da Beira Rio, formado por seis pessoas que cuidam dos gatos abandonados ao longo da Avenida Beira Rio, no bairro da Madalena. Todo dia, pela manhã e à tarde, elas vão à avenida distribuir alimentos e água. Quando veem algum animal precisando de tratamento, levam ao veterinário. Aqueles que podem, colocam para adoção. E se aparecer alguém maltratando, reclamam. “Muita gente vem criticar, dizer que estamos nutrindo o abandono. O que não sabem é que a gente cuida e procura tutores para eles”, comentou a jornalista Amanda Neves, 28, que também questionou a segurança do local. “O uso de drogas é constante na área”, pontuou.
O Gatinhos da Beira Rio começou há três anos, durante uma caminhada da eletricitária Socorro Albuquerque, 58. “Não gosto de ver animais sofrendo e percebi a existência de muitos gatos na avenida. Então decidi sair todo dia com água e comida”, contou. Ao todo, mais de 27 gatos já conseguiram um tutor. Linda é um exemplo. “Ela apareceu doente, na minha rua, e não pude pegar porque tenho outros animais em casa. Dias depois, via a foto dela no Facebook para adoção e não resisti”, comentou a servidora pública Tehil Rodrigues, 42.
Fonte: Diário de Pernambuco