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Amazônia pode ter 90% de seus animais ameaçados pelo calor em 2050

25 de abril de 2020
4 min. de leitura
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Pixabay/fe31lopz

As mudanças climáticas poderão ameaçar a existência de 90% dos animais da Amazônia, do Sahel, na África, do noroeste da Austrália e do Sudeste Asiático. No caso da floresta amazônica, a maior parte das espécies deve entrar na zona quente por volta de 2050. As conclusões são de um estudo publicado na revista científica “Nature”.

Essa mudança drástica na temperatura, em muitos casos, ocorrerá de maneira abrupta, em intervalos de tempo de uma década ou menos, o que é ainda pior para os animais. Esse cenário pode levar muitas espécies à extinção, gerando um efeito cascata no ecossistema.

Caso as emissões de gases de efeito estufa não forem controladas, antes do final do século 81% dos grupos de espécies terrestres e 37% dos grupos de espécies marinhas terão ao menos uma espécie resistindo ao limite da temperatura. Nos trópicos, a situação será pior, porque os animais já vivem perto desse limite atualmente e 68% dos grupos terrestres e 39% dos marinhos terão pelo menos 20% de suas espécies suportando o superaquecimento.

“A exposição marca o ponto a partir do qual nós entramos em território desconhecido e nossa incerteza sobre a capacidade de uma espécie sobreviver na natureza aumenta dramaticamente”, afirmou Alex Pigot, do University College de Londres, que realizou o estudo com outros dois pesquisadores da África do Sul e dos EUA. As informações são da Revista Planeta.

E talvez o efeito catastrófico das mudanças climáticas chegue antes. De acordo com os cientistas, os animais que vivem nos oceanos tropicais podem ser afetados antes de 2030 – o que já pode estar acontecendo com os recifes de coral, que estão sendo vítimas do terceiro evento de branqueamento em massa, causado pelo calor, na Grande Barreira de Corais australiana em um período de cinco anos.

“Os intervalos entre esses eventos estão ficando cada vez mais curtos, dando menos tempo para os corais se recuperarem”, disse Pigot. “Infelizmente, nossos modelos estão projetando que na próxima década o que hoje consideramos uma condição extrema se torne o novo normal”, completou. Neste caso, o calor pode levar a extinções locais.

Compreender os impactos das mudanças climáticas sobre a fauna e a flora é um desafio para os pesquisadores, mas é necessário para a criação de estratégias de conservação. No estudo realizado por Pigot e seus colegas, 22 modelos climáticos foram cruzados com a distribuição geográfica de mais de 30,6 mil espécies para observar o limite de temperatura suportado por elas. A partir desse ponto, um clima futuro foi projetado segundo três cenários do painel do clima da ONU (IPCC): o RCP 2.6, no qual o Acordo de Paris é cumprido e o aquecimento fica abaixo de 2 ºC; o RCP 4.5, um cenário intermediário; e o RCP 8.5, no qual nenhuma medida é tomada para conter emissões e a temperatura sobe 4 °C. As projeções referentes ao impacto em 90% dos animais da Amazônia foram feitas de acordo com o pior cenário.

Segundo Pigot, nem mesmo as promessas de países sobre o corte de emissões são suficientes para descartar, até o momento, o cenário em que a temperatura sobe 4 graus. “Há feedbacks potenciais no sistema terrestre que podem levar a um aumento de emissões por fontes naturais. Isso significa que um grande aquecimento, correspondente ao cenário 8.5, ainda é muito provável se não agirmos agora e depressa”, disse.

“Esse estudo é muito importante e sai em boa hora. Pela primeira vez o impacto sobre espécies do aumento de temperatura causado pelas mudanças climáticas é projetado para coletivos ou assembleias de espécies e não para espécies individualmente”, disse o biólogo Fabio Scarano, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável. Segundo ele, a boa notícia apresentada pelo estudo é da possibilidade de um impacto negativo sobre menos de 2% dos grupos de espécies em todo o mundo caso a meta do Acordo de Paris seja alcançada.

“À luz da mudança de comportamento planetário ao longo desse último mês de março, com uma brutal redução na emissão de gases estufa por conta do confinamento, já não parece tão impossível frear a rápida velocidade das mudanças climáticas. Tomara que possamos fazê-lo por sabedoria, em vez de em resposta a novas pestes, que certamente irão proliferar em um cenário de biodiversidade abruptamente em declínio”, concluiu.


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