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AMAZÔNIA

Amazonas perdeu em setembro superfície de água equivalente à área do Distrito Federal

Análise do projeto MapBiomas usando imagens de satélite da Nasa e da ESA faz primeiro retrato detalhado da seca histórica na região

17 de outubro de 2023
Rafael Garcia, de O Globo
4 min. de leitura
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Foto: rio da região em tempos normais; Alexey Yakovlev | Wikimedia Commons

Uma análise de cientistas do projeto MabBiomas, que mapeia a ocupação do solo no Brasil, indica que a seca deste ano fez o estado do Amazonas perder em setembro uma área de superfície de água de 530 a 630 mil hectares, similar à do Distrito Federal.

O levantamento foi feito a partir de imagens de satélite, e mostra que só Barcelos, o maior município do estado, perdeu 69 mil hectares em superfície de água em relação ao nível médio dos últimos anos para o mês.

“A redução de água foi detectada em rios, lagos e em áreas de úmidas, atingindo 25 municípios com perda de mais de 10 mil hectares de superfícies de água cada um, sendo que os cinco primeiros do ranking perderam mais de 40 mil hectares”, afirma a nota assinada pelos pesquisadores Carlos Souza Jr. e Bruno Ferreira.

O que as imagens de satélite mostram, dizem eles, condiz com os relatos dramáticos que comunidades da região têm transmitido. O Amazonas é o estado mais afetado pela seca deste ano na região Norte, e a situação se agravou ainda mais no início de outubro.

“Dezenas de municípios encontram-se em estado de emergência, afetando comunidades ribeirinhas, extrativistas, quilombolas, indígenas e áreas urbanas. O impacto na biodiversidade aquática tem sido reportado em várias localidades, mas ainda não foi estimado, podendo atingir proporções alarmantes”, afirma a nota. “Além disso, o Amazonas encontra- se com alta vulnerabilidade à queimadas, o que aumenta o risco às populações e à economia. Os efeitos do El Niño severo de 2023 e do aquecimento do Atlântico Norte têm sido considerados como os principais fatores que estão contribuindo com a seca severa na região, o que pode ser de maior intensidade do que a seca de 2010.”

As imagens mais dramáticas produzidas pelos satélites neste mês são no lago Tefé, que culminou na morte de mais de 100 botos, na reserva extrativista Auatí-Paraná e no lago de Coari, que isolou várias populações da cidade. Em Beruri, um deslizamento em razão de erosão engoliu a comunidade de Vila Arumã.

A estiagem de 2023 representou uma redução anual ainda mais drástica quando se leva em conta que 2022 foi um ano de chuvas excepcionalmente abundantes na região. Comparados os dois anos, a diminuição de superfície de água foi de 1,39 milhão de hectares (quase duas vezes e meia a área do Distrito Federal), porque o ano passado foi o pico de cheia da série histórica iniciada em 1985, para o mês de setembro.

Visão de radar

Os dados divulgados hoje são de um método novo de mapeamento rápido do consórcio MapBiomas, que mescla imagens de satélites do sistema Landsat, da Nasa, com outros do sistema Sentinel, da Agência Espacial Europeia (ESA).

— O sistema que desenvolvem nao é um sistema de predição, não é um sistema de alerta, mas ele consegue medir o impacto de um evento extremo, seja de inundação ou de seca com perda de superfície de água — afirma Souza Jr. — Juntando esses dados a gente consegue medir com mais precisão o que aconteceu num período recente, porque o Sentinel 1 produz dados com radar, que penetra as nuvens e permite a medição de áreas que estão cobertas.

O cientista diz que o grupo já está trabalhando em análises para medir a extensão da seca também nos outros estados da região norte impactados pela seca, e deve expandir a análise até o fim de outubro. A ideia é tornar essa análise um produto permanente do projeto, que tem dados abertos ao público.

— Isso vai permitir também que governos municipais e estados consigam direcionar seus esforços de emergência para atender a suas populações com base nessa informação — diz o cientista.

Fonte: Um Só Planeta

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