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Amar uns, comer outros: paremos de “justificar” o tratamento desigual conferido aos animais

23 de julho de 2015
4 min. de leitura
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Por Augusta Scheer (da Redação)

Foto: Reprodução

A porca Julia estava prestes a dar à luz dentro de uma semana, então o gerente da fazenda em que vivia decidiu removê-la da caixa onde passou a gravidez, para uma caixa um pouco maior, onde iria parir. Julia não conseguia se mover, então o gerente pegou um bastão elétrico e deu choques nas costas da porca para forçá-la a se levantar. As informações são do One Green Planet.
Um funcionário da fazenda tratou de gravar com seu telefone todo o sofrimento da porca, que urrava de agonia e terror, e denunciou o gerente à polícia local. A polícia acionou um abrigo animal, o qual acionou a entidade Farm Sanctuary, que, junto à polícia, apareceu na fazenda no dia seguinte e resgatou a porca Julia.
Naquela noite, Julia entrou em trabalho de parto no hospital da Farm Sanctuary. As semanas que se seguiram foram complicadas para os bebês porquinhos, mas, felizmente, todos sobreviveram e passam bem.
Encarar todos os animais como indivíduos
Como acontece com todos os animais salvos pela Farm Sanctuary, a reação positiva ao resgate de Julia já era esperada pelos voluntários da entidade. Recentemente, o Instituto de Marketing de Alimentos (FMI) declarou que “os valores dos consumidores estão evoluindo, muitos consumidores estão dando prioridade (…) ao bem-estar animal.” O mesmo Instituto afirma que a causa animal ocupa o segundo lugar no ranking de prioridades dos consumidores, perdendo apenas para as relações trabalhistas. Segundo a entidade, os compradores em potencial querem que “os distribuidores de comida priorizem o bem-estar animal, bem como práticas ambientalmente sustentáveis.”
Para muitos, essa nova preocupação levou a uma mudança completa na alimentação. Não há nenhuma justificativa para consumir animais como Julia, e muitas pessoas sabem dessa realidade e agem de acordo com suas convicções. Outras pessoas deixam de comer a carne industrial e passam a consumir animais que, segundo os produtores, foram “humanamente criados e mortos.”
Para quem luta pelos direitos animais, essa noção de comer “carne humanamente produzida” é absurda. Claro que é positivo que as pessoas estejam se preocupando cada vez mais com as condições de vida em fazendas, mas a única opção verdadeiramente contrária à crueldade é bastante óbvia: deixar de comer animais.
Porco = cachorro = chimpanzé
A ciência já provou que animais de criação sentem dor na mesma medida que os animais ditos “de estimação”. Eles são indivíduos, com personalidades individuais, e cientistas já provaram que esses animais de fazenda possuem padrões cognitivos e de comportamento bastante complexos e desenvolvidos.
Na semana passada, o International Journal of Comparative Psychology, importante publicação científica, divulgou que os porcos são ainda mais sofisticados no que diz respeito à cognição e comportamento, quando comparados com cachorros e chimpanzés. Esses animais conseguem, por exemplo, jogar vídeo games rudimentares, com desempenho melhor do que os chimpanzés (que são os parentes mais próximos do ser humano).
Como os porcos, as galinhas possuem habilidades surpreendentes. A ciência mostrou que essas aves têm a capacidade de aprender procedimentos complexos, planejar o futuro e adiar recompensas, coisas que os cachorros estudados pela ciência não conseguiram fazer. A primatóloga Dra. Jane Goodall conta que “os animais de criação sentem prazer e tristeza, alegria e mágoa, depressão, medo e dor. São muito mais cientes e inteligentes do que imaginávamos, são indivíduos de pleno direito.”
A maior parte das pessoas ficaria revoltada diante da perspectiva de comer um cachorro ou gato, porque a sociedade os encara como membros da família (como deve ser). Mas o tratamento conferido a porcos ou galinhas, só pelo fato de a maioria das pessoas não conviver com esses animais, é igualmente revoltante.
Em essência, comer carne implica comer animais como Julia, indivíduos únicos que não diferem dos animais que tratamos como membros da família. Para aqueles de nós que acreditam em compaixão, comer certos animais e outros, não, é uma grande contradição, e deve acabar imediatamente. A melhor escolha é tratar com amor e respeito animais como Julia e todas as outras espécies animais, deixando-as todas fora do prato.

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