Embora o consumo de carne no mundo ainda seja elevado, há inúmeras pesquisas que apontam que o futuro será das alternativas à carne. Ou seja, das proteínas de origem vegetal.
E uma prova disso é a crescente produção, comercialização e aceitação desses alimentos que vêm ganhando mais espaço em mercados, restaurantes e outros estabelecimentos comerciais. Afinal, se não houvesse demanda, interesse por parte dos consumidores, eles não estariam cada vez mais disponíveis para consumo em diversas partes do mundo, certo?
Os motivos que levam as pessoas a optarem pelas alternativas à carne são diversos, incluindo oposição à matança de animais com fins de consumo, impacto ambiental e saúde; e à medida que se adaptam a uma nova realidade alimentar, caminhamos cada vez mais para um futuro de profundas transformações amparadas em um novo nível de consciência sobre as nossas relações de consumo.
Outro ponto que tem favorecido essa aceitação é o fato de que há atenção especial, ou até mesmo prioritária, em agradar não apenas quem é vegano ou vegetariano, mas quem se alimenta de animais e parece desinteressado em abdicar desse consumo.
Nesse caso o desenvolvimento de alternativas à carne, que tenham sabor, textura e aspecto que possam conquistar esse consumidor, também cumpre o papel de ajudar a afastá-lo dos alimentos de origem animal. É inegável que o setor ainda esbarra em fatores como custos de produção e preço final, o que pesa no bolso de muitos consumidores.
Porém o aumento da demanda deve favorecer a redução nos custos de produção, assim como a escolha ou substituição de algumas matérias-primas por ingredientes equivalentes que sejam mais baratos – o que a Beyond Meat (que registrou aumento de 250% em vendas no terceiro trimestre deste ano) está começando a fazer nos Estados Unidos.
Realmente, se falamos de produtos que imitam carne, consumir esses produtos não é essencial, mas quando falamos em possibilidades de um “novo olhar sobre os vegetais”, se nos aproximamos de oferecer a alguém algo que permita trocar a carne por um alimento à base de plantas, e essa pessoa fica satisfeita com o que experimenta, surge aí um cenário auspicioso – porque o que agrada um consumidor de hábitos tão entranhados culturalmente, e desconectada de questões filosóficas de consumo, tem potencial de agradar muitos outras rendidos à primazia do paladar.
Tal constatação já foi feita pela indústria da carne, nas palavras do então CEO da Tyson Foods, Tom Hayes. Basicamente, todas as grandes empresas que atuam nesse ramo estão voltando sua atenção às alternativas à carne, porque entendem que esse é um mercado que só tende a crescer, e possivelmente muito mais do que o esperado. Afinal, se não acreditassem nesse tipo de produto, por que investiriam em proteínas de origem vegetal?
Este ano o bilionário Richard Branson, fundador do grupo Virgin, publicou um artigo afirmando que em cerca de 30 anos ficaremos chocados ao lembrar que matávamos animais em massa para comer. Ele defendeu que no futuro a norma serão as carnes baseadas em vegetais e desenvolvidas em laboratório: “Em 30 anos, é improvável que tenhamos de matar animais por uma questão alimentar.”
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) estima que em 2050 teremos uma população humana de 10 bilhões de pessoas. Logo precisaremos encontrar meios de ampliar a produção de alimentos sem aumentar em mais do que 5% a utilização atual da terra para não agravar o quadro de degradação ambiental. Isso pode ser possível produzindo vegetais em vez de criar animais para consumo – que demandam maiores áreas por sua própria condição biológica.
O que vai acontecer até 2030 ou 2050 realmente ninguém pode antecipar com precisão, mas que as alternativas à carne serão uma importante parte do futuro, isso é algo que nem mesmo a indústria da carne pode negar. E não citando apenas os chamados “substitutos de carne”, que simulam sabor e textura equivalentes, mas todas as opções, inclusive distantes das similitudes, que hoje, mais do que nunca, se apresentam como de interesse dos consumidores.
Pesquisas destacam expansão das alternativas à carne
Recentemente a empresa de pesquisa de mercado Research and Markets publicou um relatório informando que o mercado global de alternativas à carne como tofu, proteína texturizada de soja (PTS), tempeh, seitan e quorn (proteína à base de fungos) deve crescer mais de 100% até 2027 – subindo dos atuais 4,4 bilhões de dólares em vendas para 9,1 bilhões.
Outra pesquisa, realizada pela Meticulous Research, da Índia, aponta que quem está investindo no mercado de alternativas à carne tem bons motivos para comemorar, já que esse mercado global deve movimentar 17,9 bilhões de dólares até 2025 – com taxa de crescimento anual composta de 5,2%.
Na Holanda, um relatório da IRI revelou que as alternativas vegetais estão se tornando cada vez mais populares, tanto que a venda de carne sofreu queda de 9% nos últimos dois anos, enquanto as alternativas à base de plantas cresceram 51% em vendas.
Não é novidade que os alimentos à base de plantas estão em alta em várias partes do mundo, e isso não se deve apenas a veganos e vegetarianos, de acordo com um estudo publicado no final de outubro pelo Grupo NPD.
A pesquisa aponta que embora veganos e vegetarianos contribuam com esse mercado, cerca de 90% das alternativas à carne são consumidas por pessoas que ainda comem alimentos de origem animal; mas que por algum motivo estão voltando sua atenção a opções que não envolvem uso ou abate de animais.
O NPD também assina outro relatório em que estima que 95% das pessoas que compram hambúrgueres à base de plantas são consumidores de carne experimentando novas alternativas; o que é apontado como uma tendência global, já que a disponibilidade é o que atrai esses consumidores.
Nos Estados Unidos, por exemplo, enquanto o consumo de hambúrgueres tradicionais não registra crescimento há muito tempo, suas versões à base de vegetais vêm experimentando aumento no consumo de pelo menos 10% ao ano.
De acordo com informações da NutriScience Solutions, empresa canadense que é referência internacional em ciência e tecnologia de alimentos, o consumo global de proteínas à base de plantas deve duplicar até 2025 – subindo dos atuais oito bilhões de toneladas por ano para 16,3 bilhões de toneladas.