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ESTUDO

Alterações no Atlântico Tropical Norte e queimadas: Entenda as causas da seca na Amazônia

O Índice Integrado de Secas (IIS) do Cemaden verificou que a condição de seca moderada a severa eleva o risco de propagação do fogo

9 de setembro de 2024
Soraia Joffely para OGLOBO
3 min. de leitura
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Rio Solimões. Imagem da seca perto da comunidade Santa Terezinha, em São Paulo de Olivença, onde vive o povo Kambemba, no Amazonas, obrigado a lidar com dificuldades de transporte, falta de energia e escassez de água para consumo — Foto: Eronilde Kambeba/Acervo pessoal

Os rios da Amazônia não subiram como deveriam na estação chuvosa. A consequência da escassez de precipitação é uma seca antecipada, afetando o cronograma da população local, que ainda se recuperava da estiagem histórica de 2023. E, quanto mais duradoura é a seca, mais intensos os impactos.

Um estudo do Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em parceria com o Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) mostrou que, em 2023, a queda acentuada nos níveis dos rios amazônicos foi causada pela crise climática.

Segundo pesquisadores, devido a alterações no processo de evaporação da água no Oceano Atlântico, principal fonte de umidade da Bacia Amazônica, está chovendo menos na região.

— Em condições normais, a água quente do Atlântico evapora para a atmosfera, e esse vapor de água é levado para a Amazônia pelos ventos alíseos — explica o cientista Jochen Schöngart, doutor em Ciências Florestais e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). — Mas, quando o Atlântico Tropical Norte fica aquecido demais, ocorre um desequilíbrio, e todo aquele vapor de água gerado não entra mais aqui na Amazônia.

O Índice Integrado de Secas (IIS) do Cemaden verificou que a condição de seca moderada a severa desde o segundo semestre de 2023 e a volta do problema este ano em vários municípios elevam o risco de propagação do fogo. Queimadas, por sua vez, suprimem a vegetação nativa, contribuindo para a queda de umidade do ar. É um ciclo de tragédias.

De acordo com Jochen Schöngart, a seca este ano não é tão grave quanto a de 2023, quando a anormalidade foi observada em quase todo o bioma, em grande parte devido à ocorrência do fenômeno El Niño. Este ano, os quadros mais severos se limitam à parte sul da Amazônia.

De acordo com a ONG MapBiomas, 62% da superfície de água no Brasil fica na Bacia Amazônica, mas, em 2023, o bioma passou mais de seis meses abaixo da média histórica, atingindo nove milhões de hectares da superfície média mensal de água. A região apresenta média acima dos dez milhões desde o início da medição, em 1985.

Vazantes severas estão se tornando mais comuns na Amazônia, e, por isso, a ciência já discute se chegamos ao “ponto de não retorno”, a partir do qual a maior floresta tropical do mundo vai começar a virar uma savana.

— Se frearmos o desmatamento e recuperarmos os ecossistemas, podemos restabelecer o ciclo hidrológico — pondera Schöngart. — Caso contrário, vamos nos aproximar ainda mais do ponto sem retorno, que afeta o ciclo hidrológico na região, mas também prejudica os rios voadores, que fornecem água para outras regiões no Brasil e na América do Sul.

Fonte: Um Só Planeta

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