Os rios da Amazônia não subiram como deveriam na estação chuvosa. A consequência da escassez de precipitação é uma seca antecipada, afetando o cronograma da população local, que ainda se recuperava da estiagem histórica de 2023. E, quanto mais duradoura é a seca, mais intensos os impactos.
Um estudo do Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em parceria com o Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) mostrou que, em 2023, a queda acentuada nos níveis dos rios amazônicos foi causada pela crise climática.
Segundo pesquisadores, devido a alterações no processo de evaporação da água no Oceano Atlântico, principal fonte de umidade da Bacia Amazônica, está chovendo menos na região.
— Em condições normais, a água quente do Atlântico evapora para a atmosfera, e esse vapor de água é levado para a Amazônia pelos ventos alíseos — explica o cientista Jochen Schöngart, doutor em Ciências Florestais e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). — Mas, quando o Atlântico Tropical Norte fica aquecido demais, ocorre um desequilíbrio, e todo aquele vapor de água gerado não entra mais aqui na Amazônia.
O Índice Integrado de Secas (IIS) do Cemaden verificou que a condição de seca moderada a severa desde o segundo semestre de 2023 e a volta do problema este ano em vários municípios elevam o risco de propagação do fogo. Queimadas, por sua vez, suprimem a vegetação nativa, contribuindo para a queda de umidade do ar. É um ciclo de tragédias.
De acordo com Jochen Schöngart, a seca este ano não é tão grave quanto a de 2023, quando a anormalidade foi observada em quase todo o bioma, em grande parte devido à ocorrência do fenômeno El Niño. Este ano, os quadros mais severos se limitam à parte sul da Amazônia.