As alterações climáticas estão a colocar em risco as florestas em meios urbanos em quase 80 países em todo o mundo, principalmente devido ao aumento da temperatura e à falta de chuva.
Um estudo publicado na revista ‘Nature – Climate Change’ analisou 3.129 espécies de árvores e de arbustos em 164 cidades de 78 países, e revelou que 56% das primeiras e 65% das segundas estão em sobreaquecimento e a sofrer com níveis de precipitação muito abaixo do que seria normal para essas regiões.
Com esse cenário como pano de fundo, os especialistas preveem que o número de espécies de árvores em risco aumentará 76% até 2050. No que toca aos arbustos, a lista deverá subir 70% até meados do presente século.
O artigo explica que cerca de 3% de toda a superfície terrestre é ocupada por áreas urbanas, que albergam mais de 4,2 mil milhões de pessoas, mais de metade da população mundial total, e que a florestas urbanas “fornecem serviços ambientais e benefícios socioeconómicos, tais como o sequestro de carbono e arrefecimento natural, através de processos microclimáticos”.
As previsões apontam que as áreas urbanas continuarão a expandir-se e que até 2050 viverão 6,6 mil milhões de pessoas em cidades, pelo que, há medida que a população humana cresce, também aumentará a pressão sobre as florestas urbanas.
Assim, os ‘oásis naturais’ nas cidades serão de vital importância para as populações que aí vivem, providenciando sombra para edifícios e pavimentos, ajudando a reduzir as necessidades de recurso a equipamentos de arrefecimento artificial, dissipando o calor através da evapotranspiração e capturando dióxido de carbono.
Em contraponto, o colapso das florestas urbanas terá impactos significativos na qualidade de vida nos centros urbanos, pelo que são necessárias medidas para protegê-las e fortalecê-las.
O estudo aponta que é essencial apostar na plantação de árvores e arbustos endémicos e com maior resiliência face às alterações climáticas e que é preciso perceber como as alterações climáticas estão a impactar essas formas de vida.
“Estudos sobre a vulnerabilidade de árvores urbanas às alterações climáticas são raros e limitados”, lamentam os cientistas, salientando que isso “limita a capacidade para avaliar o risco climático de espécies que estão atualmente a experienciar condições que podem exceder a sua tolerância climática”.
E deixam sugestões às autoridades municipais: “políticas ambientais urbanas bem-sucedidas devem ser estrategicamente planeadas com as condições climáticas futuras em mente, para assegurar a persistência das florestas urbanas”.
“A estabilidade a longo prazo das florestas urbanas depende da identificação e uso de espécies resilientes às alterações climáticas e que sejam capazes de sobreviver e desenvolver-se”, indicam os cientistas, acrescentando que “a monitorização das florestas urbanas forneceria informação necessária e valiosa sobre o desempenho de cada uma das espécies em contextos locais”, o que, consequentemente, permitirá melhorar os sistemas de manutenção dos espaços verdes nas cidades.
Os cientistas reconhecem que as ações de mitigação das alterações climáticas nas cidades estão dependentes dos fundos disponíveis e na capacidade de resposta das autoridades locais, e também nacionais. Assim, é expectável que as florestas urbanas mais ameaçadas estejam em centros urbanos onde os recursos sejam mais escassos, e apontam que é na Índia, na Nigéria e no Togo que se centra a maior quantidade de cidades nessas condições de vulnerabilidade.
“Para manter florestas urbanas saudáveis num contexto de alterações climáticas, será necessário responder aos constrangimentos económicos ao estabelecimento e manutenção de plantações urbanas e preencher as lacunas no conhecimento sobre a seleção das espécies mais apropriadas”, indica o artigo, e sublinham “a importância de tomar ações imediatas em termos da emergência climática, para assegurar a sobrevivência e a persistência de florestas urbanas a nível mundial e os benefícios fornecidos pelos sistemas socio-ecológicos”.
Fonte: Greensavers