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VULNERÁVEIS

Altas temperaturas e seca severa ameaçam a vidas de botos e peixes bois

A falta de alimento, a perda de habitat e a maior vulnerabilidade a doenças são algumas das consequências da seca para esses animais

14 de setembro de 2024
3 min. de leitura
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Foto: Divulgação

A Amazônia, o maior bioma do planeta, enfrenta um dos períodos de seca mais intensos de sua história. As altas temperaturas e a escassez de chuvas estão colocando em risco a vida de diversas espécies, especialmente os mamíferos aquáticos como botos e peixes-boi.

Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) alertam que a diminuição do nível dos rios e a elevação da temperatura da água estão afetando diretamente a saúde e a sobrevivência desses animais. A falta de alimento, a perda de habitat e a maior vulnerabilidade a doenças são algumas das consequências da seca para os botos e peixes-boi.

O que muitos não sabem é que esses animais são fundamentais para a cadeia alimentar da região. A pesquisadora Dra. Vera da Silva, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia INPA, explica que esses mamíferos diminuem a quantidade de peixes doentes do ambiente.

“O boto é um animal piscívoro, ele se alimenta quase que exclusivamente de peixes e ele, como predador no topo de cadeia tem a função de manter a população de peixes saudáveis em equilíbrio. Dentro daquele espectro de peixes que ele se alimenta, que é muito amplo, ele vai capturar aquele que é mais lento, que é menos saudável, que tem algum problema até de ordem genética, vamos dizer assim, a gente sabe que os peixes também são bastante parasitados e dessa forma ele elimina os peixes doentes, fracos da população”, disse.

Dra. Vera da Silva também destaca que o boto é responsável pela manutenção e equilíbrio de espécies diferentes de peixes.

“Quando uma espécie de peixe se sobressai, começa a se sobressair muito em cima de outras, essa é a espécie mais comum, mais fácil, e da qual ele vai se alimentar mais rápido. Isso significa que ele vai reduzir um pouco essa população, enquanto permite que outras espécies, outros grupos de peixe também cresçam”, comentou.

Miriam Marmontel, pesquisadora que lidera o monitoramento dos mamíferos aquáticos, explica que a espécie é considerada como parâmetro de risco aos humanos, já que são eles a sentirem o primeiro impacto das mudanças da natureza

“Os botos são considerados sentinelas, pois eles sofrem os efeitos de qualquer alteração ambiental antes de, por exemplo, nós mesmos, os humanos serem atingidos. O que eles estiverem sofrendo eventualmente nos afetará, pois eles habitam justamente a água, os lagos, o rio, do qual dependem todas as populações amazônicas”, ressaltou.

Outro mamífero atingido pela mudança climática é o peixe-boi. A pesquisadora Dra. Vera Silva afirma que as áreas onde eles se alimentam estão cada vez mais escassas.

“Cada vez mais secando, menos planta, quando o rio enche, não enche o suficiente para fornecer mais plantas para que ele possa se alimentar, engordar, enfrentar outra seca. Então, já do ano passado, os peixes bois já estão, vamos dizer assim, sofrendo com a redução alimentar para enfrentamento nessa seca de 2024”, enfatizou.

Além da falta de alimento, o nível da água está baixo, fazendo com que a caça à carne do peixe-boi aumente, colocando em risco esses animais, segundo Vera da Silva.

“Esses poços, essas áreas onde eles costumam se abrigar durante a seca, também estão ficando muito baixo e uma série de pessoas e populações estão tendo acesso por terra a esses locais e os peixes bois estão se tornando uma presa fácil e eles estão sendo caçados. Eles estão sendo mortos para uso na alimentação”, finalizou.

Isso significa que esses mamíferos estão enfrentando tanto a crise climática quanto a ação do homem.

O nível do Rio Solimões enfrenta o pior já registrado da história, chegando a menos 94 centímetros. Com isso, os lagos de Tefé e outros municípios do alto-Solimões já sentem os efeitos da seca.

Equipes do Instituto Mamirauá estão monitorando esses mamíferos, tentando evitar nova mortandade desses animais no local, como ocorreu em 2023.

Fonte: Alvorada Parintins 

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