EnglishEspañolPortuguês

VEGETAÇÃO EM RISCO

Alta exponencial de queimadas no interior de São Paulo preocupa especialistas: ‘acabando com o que resta de vegetação nativa’

Aumentos de incêndios de 1.593% em Limeira e 707% em Piracicaba são apontados como 'trágicos' por representante de projeto ambiental da USP por atingir áreas florestais.

18 de setembro de 2024
Rodrigo Pereira, Edijan Del Santo, g1 Piracicaba e Região e EPTV
9 min. de leitura
A-
A+
Incêndio atinge área próxima da Estação Ecológica de Ibicatu em Piracicaba avião ajuda no combate às chamas — Foto: Edijan Del Santo/EPTV

grande crescimento de queimadas na região de Piracicaba (SP) em 2024 preocupa especialistas do projeto ambiental Corredor Caipira, com sede no campus da Universidade de São Paulo (USP) na cidade.

Segundo dados do MapBiomas, levantados pela EPTV e pelo g1, o crescimento de incêndios nos oito primeiros meses de 2024, com relação ao mesmo período de 2023, foi de 1.593% em Limeira e 707% em Piracicaba.

Para Germano Chagas, coordenador técnico do projeto, apesar dos incêndios na região ocorrerem principalmente em áreas de agropecuária, eles são “trágicos” por também ocorrerem em áreas de vegetação nativa, em paisagens onde já há poucos remanescentes florestais.

“Estão acabando com o pouco que a gente tem de vegetação nativa”, aponta Chagas, que é engenheiro florestal.

“Por mais que você possa fazer o processo de reflorestamento, uma floresta leva muito tempo para ficar como era antes da queimada. Em áreas de vegetação natural, o prejuízo é muito maior por afetar a biodiversidade e os remanescentes florestais”, diz o especialista.

Área atingida por queimadas

A área total atingida por queimadas em Limeira (SP) entre os meses de janeiro e agosto de 2024 teve uma alta de 1.593% no comparativo ao mesmo período do ano passado.

Em Piracicaba (SP), dados levantados pelo g1 também a partir do MapBiomas indicam um crescimento de 707% nos casos de queimadas nos oito primeiros meses de 2024, quando comparado com o mesmo período de 2023.

Florestas

Os números do MapBiomas apontam que, em Limeira, dos 508 hectares queimados, 482 são de agropecuária, 19 hectares de floresta e 6 hectares de área sem vegetação.

Em Piracicaba, o índice de vegetação atingida é maior. São 52 hectares de florestas, 1.079 de agropecuária e 6 hectares de área sem vegetação.

De acordo com o coordenador técnico do Corredor Caipira, apesar de serem menores, os incêndios em áreas de floresta preocupam por atingir os poucos remanescentes florestais e, com isso, gerarem perda de biodiversidade e morte de animais.

“Os dados são trágicos e, por mais que a maior parte das queimadas sejam em áreas agrícolas ou de pastagem, muito dessa queimada também ocorre em remanescentes de vegetação nativa”, aponta.

“Nesse caso, é ainda mais grave, porque além dos impactos sobre o solo, sobre a água, que os incêndios em áreas agrícolas também causam, esse incêndio em áreas de vegetação nativa também gera redução de hábitat, perda de biodiversidade e impactos sobre a fauna, já que muitos animais morrem”, diz Chagas.

Maior índice de aumento

Limeira é o município da área de cobertura do g1 Piracicaba e Região que apresenta o maior índice de aumento entre as principais cidades da área de cobertura da emissora.

Em 2024, 508 hectares de áreas foram alvo de incêndios do município. Em 2023, o número para o mesmo período foi de 30 hectares de queimadas.

O índice de incêndios em Limeira teve três altas consecutiva no comparativo entre 2020 e 2022. Após uma redução em 2023, houve o grande aumento registrado entre os meses de janeiro e agosto nesse ano.

  • 2020 – 26 hectares queimados
  • 2021 – 53 hectares queimados
  • 2022 – 55 hectares queimados
  • 2023 – 30 hectares queimados
  • 2024 – 508 hectares queimados

Cenário mais forte da década

De acordo com o sargento Fillippe Crucello, do Corpo de Bombeiros de Limeira, o cenário de queimadas é o mais forte da década. “Estamos vivendo o cenário mais intenso de incêndios e queimadas na última década”, aponta.

A maior parte das ocorrências, de acordo com a prefeitura, acontece aos finais de semana.

Incêndios criminosos ou involuntários

Dados enviados pela prefeitura apontam que Limeira teve 1,8 milhão de metros quadrados de áreas queimadas, o que seria “resultado de incêndios criminosos ou involuntários”.

De acordo com o executivo municipal, os casos de incêndios criminosos estão sendo investigados pela Polícia Civil.

Responsável pela Defesa Civil de Piracicaba, Graziela Steagall afirmou à EPTV que se trata de uma estiagem “bastante atípica”, com a ocorrência de vários incêndios.

“A gente reforça o pedido de todas as equipes empenhadas, a própria administração pública, porque os focos que a gente está recebendo são de incêndios criminosos. Então, a gente pede a conscientização da população, que não coloque fogo em hipótese alguma em nenhum lugar, nenhuma mata, nenhum terreno. Vai queimar o fogo de casa? Não, pode espalhar. Aqui na rodovia o pessoal taca bituca de cigarro, passa com o carro, pega fogo, vai embora e não está nem aí. E aí a população local que acaba se prejudicando bastante”, alerta.

O Departamento de Engenharia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) fez um levantamento das últimas chuvas significativas na região de Piracicaba e, na comparação com a série histórica desde 1917 para os meses de janeiro a agosto, a redução no volume de chuvas em 2024 é de 28,4%.

“A gente combina os maiores picos de temperatura máxima, que normalmente acontecem entre setembro e outubro, com um bloqueio atmosférico que impede a entrada de frentes, mantém a umidade muito baixa. E um lado humano, que é o número de incêndios muito acima da média, causado por pessoas, 99% deles, e que as pessoas precisam se conscientizar de que não dá mais para usar o fogo”, alerta Fábio Ricardo Marin, professor do Departamento de Engenharia da Esalq.

Ele afirma que a tendência é melhora no cenário, de forma expressiva, a partir da segunda quinzena de outubro. “A gente vai ter alguns eventos de chuva mas, dado esse longo período de seca, a gente precisa de uma chuva expressiva para quebrar essa seca e esse calor muito forte e a gente acha que só acontece no mês que vem”.

Tipos de áreas queimadas

O Monitor do Fogo também aponta quais foram os tipos de áreas queimadas. Em Piracicaba, prevalecem os incêndios em propriedades destinadas à agropecuária.

Elas representam 1.079 hectares do total atingido por incêndios de janeiro a agosto, enquanto áreas de floresta tiveram 52 hectares queimados.

A plataforma ainda detalha as destinações dadas a essas áreas, como os tipos de culturas que são cultivadas nelas. Nesse detalhamento, prevalecem as queimadas em espaços destinados a usos diversificados, em plantações de cana e pastagem.

Fonte: g1

    Você viu?

    Ir para o topo