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Alexis Fleming: “Eu cuido de animais em fase terminal”

10 de setembro de 2018
4 min. de leitura
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“Saber que você fez bem ao seu animal de estimação, devolver o amor e a lealdade que você recebe até o fim, é uma enorme responsabilidade e privilégio” (Foto: Murdo MacLeod/The Guardian)

O último dia que tivemos com a bulmastife Osha foi difícil, embora tenha sido perfeito para ela. Nós a levamos para o passeio preferido dela, preparamos a sua refeição favorita (macarrão) e ela deitou no jardim sentindo o sol, sendo alimentada com seu snack de frutas, que ela amava. Então a veterinária veio, a sedou e a colocou para dormir. Eu estava tão triste, mas sabia que era o momento certo de dizer adeus.

Ouvi falar de Osha por meio da instituição de caridade que eu comando, a Pounds for Poundies, que tenta impedir que cães abandonados sejam mortos. Quando eu soube que Osha foi abandonada com câncer terminal, tive de aceitá-la. Isso foi em outubro de 2015. Na mesma época minha cadela Maggie tinha morrido repentinamente em um hospital veterinário, o que me deixou devastada.

Maggie e Osha me inspiraram a montar o Hospice Maggie Fleming, em Dumfries [na Escócia], em março de 2016, oferecendo cuidados aos animais no fim de suas vidas. No hospice, proporciono um lar, amizade, amor, conforto e cuidados veterinários personalizados pelo tempo que resta-lhes, então eles não precisam dar os passos finais sozinhos. O hospice é financiado por doações e conto com a ajuda do meu parceiro Adam, de amigos, familiares e voluntários.

O que Osha mais gostava de fazer era comer e dormir. Então ela passou seus últimos nove meses sendo mimada com café da manhã, almoço, jantar e lanches na cama. A veterinária que colocou Osha para dormir me ajudou a perceber que era a coisa certa a fazer. Ela me disse que vê situações parecidas quase que semanalmente, quando os tutores estão tão desesperados para não tomar essa dolorosa decisão que os animais acabam morrendo de dor. O objetivo do hospice é evitar isso.

Cuido de no máximo três animais ao mesmo tempo, para poder prestar o melhor atendimento possível. Alguns dos animais que ajudei passaram a vida toda em canis, nunca foram abraçados ou beijados e não sabem o que fazer quando eu os acaricio, mesmo estando claramente desesperados por carinho.

Há dias que estou bem ocupada, cuidando das necessidades práticas dos animais, alimentando-os e dando-lhes medicação ou outros cuidados necessários – mas em outros dias é pacífico. Animais velhos e doentes precisam de amor e atenção, por isso passo muito tempo sentada com eles, lendo para eles e acariciando-os.

Também cuido de mais de 80 animais em meu santuário de animais de fazenda e de galinhas resgatadas. Muitos foram explorados até o dia do abate, mas acabaram vindo pra cá em vez do matadouro. Há algo tão triste em animais que nunca conheceram a vida fora de um curral ou de uma gaiola.

Nós acolhemos animais de todas as partes, mas não podemos fornecer cuidados para todos que precisam, por isso ofereço apoio aos seus tutores. Eles podem me telefonar a qualquer hora do dia e da semana para aconselhamento. Muitas vezes, apenas conversar com alguém que entende sua tristeza pode ajudar as pessoas a lidarem com decisões difíceis que elas têm de tomar.

Mais importante ainda, ajuda as famílias a permanecerem juntas até o final, que é o melhor para todos, especialmente para o animal, que quer estar com as pessoas que conhece e ama. Saber que você fez bem ao seu animal de estimação, devolver o amor e a lealdade que você recebe até o fim, é uma enorme responsabilidade e privilégio.

Acabei de começar um plano de cuidados finais para Bran, outro cão abandonado. Ele foi abandonado na rua com um tumor no baço quando tinha 17 anos. Deram a ele seis semanas de vida quando veio pra cá; isso foi há quase dois anos e meio.

Mas seus últimos exames sanguíneos mostram que ele está começando a apresentar disfunção renal e hepática. Sento com ele algumas horas por dia, umedeço seu rosto com um pano morno, que ele adora, e faço uma massagem para relaxar os músculos. Prometi a ele que quando ele me disser que é hora de partir eu escutarei. Estarei lá em seu último dia com todas as suas coisas favoritas e o segurarei enquanto ele parte pacificamente, sabendo que alguém o amou até o fim.

Saiba Mais

Poundies é um termo britânico que se refere a animais que foram abandonados por pessoas que deveriam se responsabilizar por oferecer cuidados, amor e proteção a eles.

Artigo de autoria da britânica Alexis Fleming, fundadora do Hospice Maggie Fleming, que oferece cuidados para animais em fase terminal.

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