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Alerta: maus tratos a animais silvestres no Pará

22 de julho de 2009
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Foto: Museu Emílio Goeldi/Divulgação
Foto: Museu Emílio Goeldi/Divulgação
“A preguiça começa a morrer quando ela é capturada”, afirma o veterinário do Parque Zoobotânico (PZB) do Museu Paraense Emílio Goeldi, Antonio Messias Costa. “E apesar do grande apelo humano que as preguiças geram nas pessoas, devido ao seu rosto amável e que parece sorrir, elas ainda são alvo de graves maus tratos”.

Messias informa que só no mês de julho, três preguiças em grave estado de saúde foram entregues ao Goeldi. A primeira que chegou apresentava muitos machucados. “Ela havia ficado muito tempo amarrada, sem se movimentar, o que lhe acarretou sérias lesões musculares e problemas de circulação”, lembra Messias.

O animal ainda está sob os cuidados da equipe de veterinária do Museu Goeldi, mas seu prognóstico é muito ruim. Encontrada na estrada de Vigia, interior do estado do Pará, o exemplar de bicho preguiça ainda está muito assustado e machucado. Ele quase não se movimenta, apesar de medicado a base de anti-inflamatórios e analgésicos.

Segundo Hérika Santiago, da equipe do Goeldi, esses casos de maus tratos que chegam ao Museu são mais frequentes já que com a abertura de estradas, como a Alça Viária, os animais vão aos poucos perdendo seu habitat natural. A época de queimadas é outro período em que se observam animais sem abrigo e vulneráveis. Só em 2009, o Parque Zoobotânico já recebeu cerca de 30 animais adultos e seis filhotes, alguns deles, em grave estado de saúde.

Mãe e filhote – Um caso exemplar de maus tratos foi registrado no último dia 15, quando Kelly Costa entregou no Museu Goeldi, mãe e filhote preguiça. A jovem de 25 anos, havia encontrado os animais na Feira do Tucunduba, no bairro da Terra Firme, em Belém, onde os comprou por R$ 50, sensibilizada pela debilidade das preguiças com o filhote de menos de 1 mês.

Receosa de que os animais fossem comprados para servir de alimentação, Kelly fez a aquisição na tentativa de salvar os bichos e levou-os ao Goeldi, onde o veterinário Messias Costa explica que apesar de “a preguiça possuir pouquíssima massa muscular, mesmo assim ainda é procurada para fins de alimentação”.

Já no Museu Goeldi, as preguiças que, além de machucadas, estavam também assustadas, receberam os cuidados e tratamento da equipe da veterinária. Os animais chegaram em péssimas condições: a mãe tinha tido as garras cortadas e arrancadas e o  filhote, de cerca de um mês, estava desnutrido e desidratado. Segundo o veterinário, quanto mais novo o animal é capturado, menores são as chances de ele sobreviver, pois o filhote é diretamente dependente da mãe até quase os seis meses de idade.

Depois dos cuidados emergenciais, as preguiças machucadas foram alimentadas com uma solução à base de leite de soja adicionada de hidratantes e vitaminas. Em seguida, foram encaminhadas para um local com forração de folhas umedecidas, adequado à espécie.

Os animais debilitados estão sendo tratados pelos especialistas e, se reabilitados, poderão se juntar às quase 60 outras preguiças que compõem a fauna livre do Parque Zoobotânico do Museu Goeldi.

Alerta – Messias Costa aconselha que se alguém encontrar uma preguiça em uma área próxima ao seu habitat natural, a melhor medida é devolvê-la à natureza, pois o animal dificilmente sobrevive em cativeiro. A preguiça é vulnerável ao estresse adaptativo e, consequentemente, possui baixa defesa imunológica, sendo assim susceptível a problemas respiratórios. “As pessoas não devem levá-las para casa, porque ela não sobreviverá”, alerta Messias Costa.

Segundo Messias Costa, no ano de 2000, mais de 300 preguiças de três dedos foram resgatadas de queimadas ou provenientes do comércio ilegal de animais e entregues ao Parque Zoobotânico do Goeldi. Dessas, cerca de 70% apresentavam um quadro de desnutrição e problemas respiratórios devido às más condições de vida aonde foram instaladas. Todavia, em razão das ações mais efetivas dos órgãos de fiscalização, estes números estão decrescendo.

De metabolismo baixo, por isso muito lentas, as preguiças são consideradas presas fáceis. Porém, Messias lembra: “As preguiças, apesar de lentas, são muito evoluídas e resultantes de processo adaptativo e evolutivo no ecossistema amazônico, sendo objeto de muitos estudos. Elas são extremamente dóceis e não atacam ninguém”.

Bicho-preguiça – Habitantes das regiões de clima tropical e subtropical das Américas Central e Sul, as preguiças são representadas pelas famílias Bradypodidae e Megalonichidae, e abrangem cinco espécies. O que diferencia cada uma dessas é o número de dedos de cada animal. A espécie dos animais que foram entregues ao Museu Goeldi é da preguiça-comum (Bradypus variegatus), também conhecida como preguiça de três dedos.

Essa espécie pode pesar até 5,5 kg, possui porte médio e pêlos longos e densos. As suas garras são essenciais para a locomoção nas árvores, além de ser instrumento de defesa e de ajudar na alimentação desses animais. De hábito predominantemente noturno, ocupam as florestas tropicais, primárias e secundárias, várzeas e igapós.

Fonte: Diário do Pará

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