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INVESTIGAÇÃO

Alemão dono de ONG no Brasil tentou comprar animais raros para zoológico indiano

OUTRO LADO: Martin Guth e instituição da família do homem mais rico da Índia negam comércio ilegal de espécimes

1 de julho de 2025
Victor Lacombe
5 min. de leitura
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O dono da ONG alemã ACTP, Martin Guth, durante visita ao criadouro de ararinhas-azuis da entidade em Curaçá, na Bahia. Foto: ACTP no Facebook/Reprodução

O dono de uma ONG alemã que trabalha no Brasil com a proteção de uma das aves mais raras do mundo negocia a compra de animais silvestres ameaçados de extinção em nome de um zoológico criado por um bilionário indiano do setor petroquímico.

Em pelo menos uma ocasião, Martin Guth, que fundou a ONG ACTP (Associação para a Conservação de Papagaios Ameaçados), ofereceu € 120 mil (R$ 760 mil) por espécimes de macacos —segundo ele, o pagamento seria realizado, de preferência, em dinheiro vivo e em Dubai.

Os detalhes da atuação de Guth como comprador de animais para o zoológico indiano Vantara estão em mensagens escritas por ele às quais teve acesso o jornal alemão SZ (Süddeutsche Zeitung), que conduziu uma investigação sobre a ACTP em parceria com a Folha.

O Vantara, que ainda não está aberto ao público, já é o maior zoológico do mundo. Mais de 45 mil animais silvestres vivem na instituição —entre eles, cerca de mil grandes felinos, como leões, tigres e leopardos. Em comparação, o zoológico de São Paulo, o maior do Brasil, conta com cerca de 3.200 animais no total.

A maioria dos espécimes no Vantara hoje vem de países avaliados por especialistas como sendo focos de tráfico de animais, e alguns têm origem em zoológicos falsos dos Emirados Árabes Unidos —isto é, vendedores de animais silvestres que possuem documentação como se fossem centros de proteção, mas que na verdade não têm estrutura apropriada para isso e utilizam os papéis para poder exportar espécimes.

Em resposta às perguntas da reportagem, Guth e o Vantara negam que haja compra ou venda de animais, e a advogada do dono da ACTP diz que ele não atua como comprador para o zoológico indiano.

O Vantara diz que todos os animais que chegam ao zoológico o fazem de maneira legal, seguindo regulações de acordos internacionais, que nunca vendeu ou comprou espécimes, e que seu objetivo é ser um centro de recuperação para animais feridos, doentes ou incapazes de viver na natureza.

Martin Guth é conhecido no universo da proteção pela reputação controversa. Sua ONG, a ACTP, tem posse de 75% das ararinhas-azuis do mundo, uma das aves mais raras do planeta e cujo único habitat natural é a caatinga brasileira.

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