Por Natalia Cesana (da Redação)

O ministro da Agricultura da França ameaçou boicotar a Feira de Alimentos Anuga, considerada a maior do gênero e que ocorrerá em outubro na cidade de Colônia, por causa do patê de fígado conhecido como foie gras, segundo informou o jornal The Guardian.

Comunicados raivosos têm sido enviados entre Paris e Berlim depois que os organizadores da feira alemã decidiram proibir a iguaria francesa cruel, que é feita com fígado de patos e gansos vítimas de tortura.

Os produtores de foie gras se irritaram depois que foram avisados que o patê não seria bem-vindo na feira de alimentos. Os organizadores do evento cederam às pressões dos ativistas animais que afirmam que a produção deste produto é cruel.

O foie gras é feito por meio de um processo chamado gavage, ou seja, a alimentação forçada de patos e gansos cujo intuito é inchar o fígado dos animais em até 10 vezes. Normalmente são colocados tubos na garganta das aves, forçando-as a ingerir os alimentos. A prática é proibida na Alemanha, embora o consumo não o seja.

O ministro da Agricultura francês, Bruno Le Maire, defendeu a crueldade praticada contra os animais, pedindo à ministra da Agricultura alemã, Ilse Aigner, que derrubasse o veto. “É importante para a França que o foie gras esteja presente numa feira desse porte, visitada por inúmeros compradores no período anterior às celebrações de fim de ano”, escreveu Le Maire. “Se a proibição for confirmada, não vejo como participarei da cerimônia de abertura”, completou.

O caso tem provocado uma enchente de cartas para os dois lados. A atriz Brigitte Bardot, que hoje é ativista animal, mandou uma carta para a ministra alemã pedindo a ela que não ceda às pressões. “A França não aplica a regulamentação que se refere ao bem-estar animal”, disse ela.

Ativistas dizem que apenas 15% dos produtores franceses de foie gras implementaram as regras da União Europeia, que proíbem que as aves sejam mantidas em gaiolas individuais que as impedem de abrir as asas. Esta norma entrou em vigor em 2011.

Alain Fauconnier, membro do Partido Socialista da França, também escreveu ao embaixador alemão em Paris pedindo-lhe que intervenha a favor do foie gras.

Por volta de 37 milhões e 700 mil gansos são torturados e mortos por ano para que a França produza foie gras. A prática de alimentação forçada começou em 2.500 a.C., embora seja improvável que os antigos egípcios engordassem aves em escala industrial como na França, onde o controverso método de produção está consagrado por lei, por se tratar de “exceção cultural”. O artigo L654 do código rural de 2006 afirma que “o foie grass é parte da herança cultural e gastronômica protegida na França”.

A França produz 75% de todo o foie gras consumido no mundo. China e Estados Unidos são responsáveis pela produção dos outros 25%.