(da Redação)
Pesquisadores estavam estudando peixes de um rio da Carolina do Norte (EUA) quando descobriram que alguns dos machos tinham partes femininas em seus corpos. Peixes machos “black bass” e alguns “sunfish” estavam desenvolvendo ovos em seus testículos, o que, como se pode imaginar, não é algo bom. Esta pesquisa fornece evidências adicionais de que a exposição a componentes do estrogênio na água está feminilizando os peixes machos nos Estados Unidos.
Foram examinados 20 córregos e rios de toda a Carolina do Norte durante a estação de desova em 2012 em busca de se descobrir agentes contaminantes conhecidos por romper sistemas endócrinos, tais como produtos químicos industriais e pesticidas. Os pesquisadores também examinaram peixes “black bass” e “sunfish” nos rios, procurando por características de androginia.
Mais de 60 por cento dos 81 peixes “black bass” observados tinham elementos femininos em seus corpos, enquanto o mesmo ocorria com 10 por cento dos 185 “sunfish”. Foram detectados 43 por cento dos 135 agentes de contaminação que eles estavam procurando no estado. Crystal Lee Pow, uma estudante de doutorado da Universidade de Carolina do Norte que ajudou a conduzir o estudo, disse que ainda estão sendo analisadas as diferenças entre os locais navegáveis. Por isso, os nomes dos rios impactados ainda não foram divulgados.
Os resultados são preocupantes. Em estudos anteriores, peixes machos que portavam ovos tiveram redução de fertilidade e de produção de esperma. “Machos guardam o ninho, criam ninhos de desova para os jovens e protegem ovos fertilizados”, disse Lee Pow. “Eles são cruciais para o sucesso da eclosão. Seu comportamento natural pode ser alterado pela exposição a contaminantes e pela presença da condição hermafrodita”.
Esta pesquisa foi em parte incentivada por um estudo da U.S. Geological Survey de 2009, que revelou a existência de machos hermafroditas em nove bacias hidrográficas dos Estados Unidos e descobriu que a bacia do rio Pee Dee – que abrange as Carolinas do Norte e do Sul – tinha a mais alta taxa de peixes hemafroditas (80%).
De onde vem o estrógeno
“Há diversas operações de criação de animais para consumo humano, concentradas na Carolina do Norte”, informou Lee Pow, acrescentando que pesquisas prévias do estado revelaram resíduos de porcos, que era retido em lagos e depois carregado para as correntes de água. “Os detritos e resíduos de porcos são cheios de estrogênio”, explicou ela.
Segundo a reportagem, esse é um alerta para que algo seja feito com relação às operações de confinamento, apesar do fato de que a Agência de Proteção Ambiental (EPA) aparentemente não saiba o que fazer com todos os resíduos advindos da pecuária.
Em 2010, após ter sido processada pela Waterkeeper Alliance e por outros grupos ambientais, a EPA prometeu reconsiderar uma regra colocada durante a administração de George W. Bush que isenta instalações de confinamento de terem que divulgar dados de emissões perigosas à agência e ao público. Cinco anos depois, a EPA ainda não fez nada a respeito. No dia 13 de julho, advogados da agência voltaram ao tribunal e disseram que as regulações não seriam alteradas.
De acordo com a reportagem, esta inação é grave, pois como o ar que respiramos e o solo no qual cresce o nosso alimento, a água é essencial para a vida. Certificar-nos que ela seja limpa deveria ser uma grande prioridade.
Em suma, as alterações nos corpos dos peixes é consequência da pecuária. Se isso ocorre nos Estados Unidos, um país que parece ser mais organizado em termos de fiscalização, o que se dirá dos países menos desenvolvidos? Ou seja, a criação de animais para consumo humano não tem efeitos devassos apenas sobre os animais que são vítimas dessa indústria e para os humanos que se alimentam deles, mas também sobre o ambiente de forma ampla – desde a emissão de gases de efeito estufa, até a contaminação do solo e das águas, afetando todas as formas de vida.