Uma doença misteriosa que assola as estrelas-do-mar há mais de uma década pode ter encontrado um obstáculo nas águas geladas dos fiordes da Colúmbia Britânica (EUA).
Pesquisadores descobriram que as estrelas-do-mar girassol, criticamente ameaçadas devido à doença debilitante conhecida como síndrome do desgaste das estrelas-do-mar (SSWD), estão prosperando nessas águas mais frias, fornecendo pistas valiosas sobre como a temperatura pode oferecer proteção contra a enfermidade.
O estudo, publicado em abril na revista Proceedings of the Royal Society B, revelou que as estrelas-do-mar girassol apresentavam melhor saúde nos fiordes em comparação com as de outras regiões.
Essa descoberta é significativa porque a espécie, outrora abundante ao longo da costa do Pacífico — do sul da Califórnia até o Alasca —, sofreu um declínio de 91% devido à doença fatal que causa deformações grotescas no corpo e morte rápida.
O surto de SSWD surgiu pela primeira vez em 2013, e os cientistas têm tido dificuldades para identificar sua causa. Embora pesquisas iniciais apontassem para um vírus, estudos posteriores foram inconclusivos.
Ian Hewson, ecologista marinho da Universidade Cornell, afirma que causas microbianas ou ambientais também não forneceram respostas definitivas.
A estrela-do-mar girassol é um predador essencial nos ecossistemas marinhos, especialmente no controle das populações de ouriços-do-mar. Sem elas, os ouriços podem devastar florestas de algas, que servem de habitat para muitas espécies marinhas.
A descoberta de estrelas-do-mar girassol prosperando em águas frias pode trazer esperança para a restauração da espécie e de seu papel ecológico.
A descoberta foi feita pela ecologista marinha Alyssa Gehman que, junto com sua equipe, estudou os fiordes da Colúmbia Britânica entre 2018 e 2023.
Eles observaram que, embora as estrelas-do-mar dos fiordes apresentassem sinais da SSWD, as populações eram, no geral, mais saudáveis, com maior sobrevivência de adultos em comparação com as populações das ilhas externas.
As águas mais frias, profundas e salinas dos fiordes pareciam oferecer um refúgio contra a doença, sugerindo que a temperatura pode ser um fator de proteção.
O estudo também destacou a importância das condições ambientais na saúde das estrelas-do-mar. Nos fiordes, elas foram encontradas em áreas onde o derretimento da neve criava uma camada de água mais doce e fria, em contraste com as águas mais quentes das ilhas externas, onde as estrelas lutavam para sobreviver.
As descobertas representam um avanço na compreensão da SSWD e podem fornecer pistas sobre as condições ambientais que favorecem ou inibem a doença.
Pesquisadores agora acreditam que águas com temperaturas mais altas do que o normal aumentam a probabilidade de surtos da doença, enquanto temperaturas mais frias podem retardar ou impedir sua propagação.
Alyssa Gehman continua investigando a interação entre temperatura, ambientes microbianos e a progressão da SSWD. “Estamos recomeçando a investigação do zero sobre o que causa essa doença”, afirmou.
Essa descoberta oferece uma nova esperança para a conservação das estrelas-do-mar e pode impulsionar novas pesquisas sobre como proteger espécies marinhas vulneráveis dos efeitos devastadores das mudanças climáticas e das doenças.
Traduzido de Tribune.